quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O relacionamento UE - África na era da globalização



Reunião das "troikas" da UE e da União Africana

Europa tem o dever de mudar o relacionamento com África, diz Luís Amado

Daniel Rocha/PÚBLICO (arquivo)

31.10.2007 - 13h12 Lusa

O presidente do Conselho de Ministros da União Europeia (UE) defendeu hoje em Acra que a Europa "tem o dever de contribuir" para uma mudança, para melhor, das relações com África, numa altura em que a globalização assim o exige.
Falando na sessão de abertura da reunião das "troikas" da UE e da União Africana (UA), que decorre em Acra, capital do Gana, país que ocupa a presidência da organização africana, o também chefe da diplomacia portuguesa, Luís Amado, adiantou que se vive actualmente no mundo um momento "especial"."Vive-se um momento muito especial, um momento de transição, em que importa mudar o relacionamento da UE com África. Com a globalização, as relações têm de ser diferentes e nós, Europa, temos o dever de contribuir para isso", afirmou Luís Amado.O ministro dos Negócios Estrangeiros português, que co-presidiu à sessão de abertura com o seu homólogo ganês, Hon Akwasi Osei-Adjei, sustentou que essas mudanças são já visíveis no relacionamento dos Vinte e Sete com outras regiões do mundo, exemplificando os já existentes com os Estados Unidos e a China."É com esse objectivo que foram feitos os dois documentos hoje aqui em discussão" (Parceria Estratégica UE/África e Plano de Acção), acrescentou Luís Amado, que saudou o "forte empenhamento" das duas partes na elaboração dos projectos.Os dois documentos deverão ser aprovados hoje em Acra na reunião que se seguiu à sessão de abertura do encontro, que decorre agora à porta fechada, e que serão, depois, remetidos para os trabalhos da II Cimeira Europa/África, a 8 e 9 de Dezembro próximo, em Lisboa.Luís Amado salientou ainda o facto de a reunião da "troika" se realizar no Gana, país que celebra este ano o cinquentenário da sua independência, o mesmo aniversário que a UE completa também ao longo de 2007.Também na sessão de abertura, o chefe da diplomacia ganesa, na qualidade de presidente do Conselho de Ministros da UA, destacou a "qualidade do trabalho" feito pela presidência portuguesa dos "27" na preparação da cimeira de Lisboa."É grande a qualidade do trabalho feito até agora na preparação da cimeira. Os dois documentos em discussão constituem um trabalho de grande qualidade. Espero que saiam daqui aprovados", sublinhou.Sobre a cimeira de Lisboa, Osei-Adjei frisou que Portugal não pode deixar de a concretizar, uma vez que se trata de um acontecimento "muito importante para as relações entre os dois continentes".Cerca das 14h00 locais (mesma hora em Lisboa), os dois co-presidentes da reunião das "troikas" darão uma conferência de imprensa conjunta, já depois da reunião.Em termos globais, disse à Lusa fonte ligada às negociações dos documentos, a nova Parceria Estratégica contempla três níveis: as relações intercontinentais (global UE/África), regionais (com organizações sub-regionais) e entre os "27" e cada um dos Estados africanos (bilateral).Segundos os termos previstos, caberá à Comissão da União Africana, composta por um presidente, um vice-presidente e oito comissários, acompanhar a aplicação do Plano de Acção.A fonte destacou também o empenho da Comissão de Redacção dos dois documentos, composto por cinco elementos de cada uma das organizações, que deram início aos trabalhos no começo da presidência alemã da UE, mas que sofreram um "forte impulso" quando Portugal, em Julho deste ano, substitui a Alemanha.Além das reuniões bilaterais, esta comissão pretendeu alargar o debate à sociedade civil, mantendo encontros com representantes de organizações não governamentais, com as quais discutiu as necessidades das populações, informação tida em conta na elaboração dos documentos. Na reunião das "troikas" participam também, do lado europeu, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação português, João Gomes Cravinho, e o director do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Eslovénia, Mitja Drobnic.Integram ainda a delegação europeia o director-geral para o Desenvolvimento e Relações com os países da África, Caraíbas e Pacífico (ACP), em representação da Comissão Europeia (CE), Stefano Manservisi, e o chefe da "task-force" para África, em representação do secretariado do Conselho da UE, Koen Varvaeke.Do lado africano, e além de Osei-Adjei, participam a ministra do Comércio do Congo, em representação do chefe da diplomacia congolesa, Adelaide Mondele Ngollo, e os comissários da UA para os Assuntos Económicos, Maxwell Mkwezalamba, e para a Paz e Segurança, Said Djinnit.

Fonte: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1309341


Elabora um comentário à notícia do Público, realçando o conteúdo da afirmação do Ministro de Negócios Estrangeiros português, que se encontra em negrito.

7 comentários:

Vasco PS disse...

A realização da II Cimeira EU – África tem sido uma das bandeiras da presidência portuguesa da UE, em 2007. Finalmente, há a proposta de se agendar este importante acordo para Lisboa, no próximo Dezembro. Como todos sabemos, ou pelo menos, uma grande maioria de nós sabe, as negociações que têm vindo a decorrer entre os 27 e os países da UA (União Africana), demonstram o quanto é difícil, num mundo globalizado como o de hoje, chegar-se às conclusões e entendimentos que beneficiem os interesses de todos. Apesar de ser claro que, o planeamento de um projecto entre todos os países envolvidos, que tenha por base o sentimento de se fazer face aos desafios inquietantes do século XXI, seja da maior importância, pode sempre levar a questões muito pertinentes.
Luís Amado afirma ser necessária uma mudança das relações entre a Europa e África, na qual, os europeus têm o dever, no fundo, “ajeitar as coisas”. Isto dito de forma leve, pode parecer a quem me lê, que não dou a devida importância ao caso, o que não é de todo verdade. Convém, no entanto, ver as consequências desta acção por um lado positivo, e por um lado, digamos, menos positivo. Durante muitos séculos, África não foi para os europeus, mais do que uma “dispensa”, à qual se retira o que é necessário. No plano actual das relações internacionais, marcado por um avanço considerável da China na apropriação e negociação dos recursos africanos, não é de admirar todo o interesse europeu numa politica de cordialidades com os países africanos. Temos de admitir: África significa riqueza. Com a competição mundial dos nossos dias, a UE, rainha do Comércio internacional, só tem a ganhar no reatar de relações com as “antigas colónias”. Por isso, quando o Sr. Luís Amado afirma que os europeus têm um dever para com os africanos, penso eu, que tem muita razão.
Espero, no entanto, que a elaboração dos eixos deste novo plano, que engloba áreas diversas, como a paz e segurança, a democratização, a boa governação e direitos humanos, o comércio, a integração regional e internacional, a energia, as alterações climáticas, entre outras, saltem realmente do papel e se “mude” de verdade.
Creio que a Europa, tem aqui mais uma oportunidade de ajudar África a superar os seus problemas, e fazer dela um continente mais respeitado, mais amado, mais apoiado e, que aos nossos olhos nasça uma África de bom nome, tal como uma Europa ou América. Espero que se deixe de olhar para este continente como o parente pobre do mundo, que os seus países e indivíduos entrem no sistema mundo, não como a “terra das matérias-primas”, mas como um lugar competitivo, desde a educação à tecnologia, passando pelas áreas da saúde e respeito pelos direitos fundamentais. Só quando isto acontecer, caros colegas, África mostrará ao mundo o seu verdadeiro valor, provando que se também participar neste processo acelerado que é a globalização, todos teremos a ganhar.
Assim, resta dizer que, espero sinceramente, que das palavras e papéis assinados nestas reuniões e cimeiras, resulte uma mudança definitiva e, que Portugal, valorizando o seu lugar de “elo” de culturas do Mundo, consiga fazer que ninguém jamais se venha a esquecer os compromissos que serão livremente assinados.

R disse...

Não vou manifestar a minha opinião muito extensivamente em relação a este tema proposto, uma vez que confesso que não estou muito dentro do assunto. No entanto acho que as relações que a União Europeia tem vindo a tentar estabelecer com África, algumas com sucesso e outras nem tanto, são bastante importantes no contexto da globalização, pois permitem "formar laços" entre os países desenvolvidos ou em desenvolvimento, dos 27 membros da UE, com os países sub-desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, no continente Africano.
Assim estou completamente de acordo com a afirmação do Ministro de Negócios Estrangeiros português e na minha opinião, a relação dos 27 países da UE com o resto do globo deve ser reforçada, dando importância não só a grandes potências como os EUA, China e Japão mas também países africanos e asiáticos que podem ser uma mais valia, a longo prazo, para a UE.

Soraia disse...

Numa era dita de globalização e tendo em conta que a UE tem uma estreita relação com África, devido às antigas colónias, penso que esta cimeira pode ser o início de uma nova era para o Continente Africano. Como todos sabemos África é um continente rico em recursos, mas que (e aqui reside o antagonismo) é actualmente um dos continentes mais pobres, senão mesmo o mais pobre do mundo.
E porquê? porque as grandes potências mundiais, a UE, os EUA e o Japão (a Tríade), não estão interessados em gastar o seu precioso dinheiro, nem a colocar o seu conhecimento ao serviço de um continente como o africano, com tantos problemas sociais, culturais, educacionais e de saúde.
Assim, concordo plenamente com Luís Amado, quando este afirma ser necessário haver uma mudança das relações entre Europa e África, pois a UE, devido à sua ligação a África, tem o dever (mais que qualquer outro país)de ajudar África a renascer das cinzas e a tonar-se um país integrado no sistema-mundo, em que todos os seus cidadãos tenham acesso aos bens e serviços de que qualquer cidadão europeu dispõe.
Na minha perspectiva, África é sem dúvida um país com imensas potencialidades, desde a cultura à tecnologia, passando pela ciência e pelo turismo. Se o mundo se empenhar num investimento progressivo e de forma organizada, que desenvolva todas as áreas em que este continente possui vantagens comparativas, penso que África poderá tornar-se um NPI (novo país industrializado) e até quem sabe, a longo prazo um país próximo de atingir o nível de desenvolvimento necessário a uma boa qualidade de vida para os seus cidadãos.
Em conclusão, afirmo que acredito no empenho da UE neste projecto, e que acho que este é um bom começo, para que África deixe de ser vista como a "ovelha negra" e seja integrada neste rebanho que é o sistema mundo.

Unknown disse...

Tendo em conta o papel importante, actualmente representado por Portugal no seio das relações da U.E., assumido pela sua presidência, todos estes acontecimentos parecem estar muito mais próximos de nós. Assim sendo merecem a nossa mais sincera opinião.
O continente africano sempre foi muito estimado e útil para os europeus, que durante séculos tiraram proveito do riquíssimo "continente negro". Porque não devemos agora contribuir para que as relações entre estes dois continentes se intensifiquem novamente, mas agora com vantagens comparativas para ambos? Na minha opinião, devemos sim, e a União Europeia juntamente com os seus princípios e áreas de domínio, é o elo de ligação mais fiel. Para além do mais, a U.E. já aprofundou os seus relacionamentos com outras regiões. Por isso, porque não dar agora uma oportunidade a Africa.
Concordo plenamente com o Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Luís Amado, quando afirma que este é um momento especial e que a Europa tem todo o dever de ajudar a intensificar os relacionamentos com o continente africano, nomeadamente com a União Africana.
É ainda de salientar o facto de ser notória a satisfação de todos em relação à organização desta Cimeira levada a cabo pela presidência portuguesa. A meu ver, deverá constituir um orgulho para o nosso país. No entanto, o orgulho será muito maior se tudo isto for para além de pomposos acordos escritos em papéis, e se tornar realmente numa preciosa ajuda para os países africanos. Pois no fundo, é nisso que devemos centrar as nossas decisões, para que estas sejam sempre em benefício de algo, neste caso, em benefício de Africa.

Soraia disse...

Errata: Peço desculpa pela gafe cometida ao referir-me a África como um país,numa segunda fase do meu comentário e não como um continente, como havia referido na fase inicial.

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro disse...

A posição tomada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da UE, Luís Amado, na qual defende uma contribuição por parte da EU, mais activa e efectiva, para o melhoramento das relações com África, de maneira a integrá-la numa era em que prevalece a globalização/americanização, é uma posição que partilho.

A realização da II cimeira EU-África vem de certa forma reunir as condições necessárias para a discussão da melhor forma de integrar África no sistema-mundo, sendo, para isso, necessário apostar neste continente, com imensas potencialidades ainda por explorar, na sua totalidade (embora a China esteja a demonstrar interesse nos recursos africanos).

Numa primeira fase, será necessário resolver problemas estruturais, nomeadamente, problemas sociais, económicos, políticos e, ainda outros, como a educação e a saúde (resolução de calamidades como a o vírus da SIDA e a Malária).

O reforço destes “laços” irá possibilitar que África deixe de fazer parte da “lista negra” para as grandes potências, nomeadamente da TRIADE (EUA, UE, Japão), para que se imponha perante todo o Mundo, não como apenas uma fonte de recursos, disponíveis segundo os interesses de alguns países, mas sim, como um espaço de oportunidades.

Concluindo, penso que esta cimeira irá possibilitar a integração progressiva do continente africano num mundo cada vez mais globalizado, para que possa usufruir dos seus benefícios, sobretudo nas áreas da educação, saúde, economia, formação profissional, turismo e, de uma forma assinalável, no progresso no respeito pelos direitos humanos.