Hoje nasce um novo país em África: o Sudão do Sul. O nascimento do Sudão do Sul é o resultado do referendo de Janeiro passado, previsto nos acordos de paz de 2005, que puseram fim a cinco décadas de conflito e duas de guerra contínua. Cerca de 99 por cento dos eleitores votaram pela secessão. E ontem o agora já velho Sudão, com capital em Cartum, tomou a dianteira e quis ser o primeiro país a reconhecer o novo Estado.
No entanto, o Sudão do Sul nasce num ambiente incerto em que a alegria da independência é acompanhada pela apreensão relativamente ao futuro deste novo país. Eis alguns dados que permitem compreender esta incerteza:
- a indefinição do traçado fronteiriço em algumas zonas;
- a falta de um acordo sobre a repartição das receitas petrolíferas cuja produção se concentra maioritariamente no Sul mas são escoadas pelo Norte;
- a ausência de entendimento sobre estatuto dos cidadãos do Sul que residem no Norte são dossiers por resolver;
- os índices de mortalidade infantil, saneamento básico, educação e insegurança alimentar mostram que o Sul mais fértil e rico ficou muito para trás no desenvolvimento em relação ao Sudão do Norte, apesar de ser aí que se concentram as maiores riquezas;
- uma em cada sete mulheres morre de problemas de gestação ou parto;
- 85 por cento dos adultos são analfabetos;
- 90 por cento dos quase dez milhões de habitantes vivem com menos de um dólar por dia;
- as divisões étnicas no seu seio - no Sul, um verdadeiro mosaico étnico, a paz está longe de ser um dado adquirido: mais de 2360 pessoas foram mortas em disputas internas desde o início do ano.
- a violência das últimas semanas em zonas como o disputado enclave de Abyei, onde em Janeiro não foi possível realizar o previsto referendo local sobre a pertença ao Norte ou ao Sul;
- os confrontos que rebentaram no último mês no Kordofan do Sul, estado do Norte, criaram uma situação explosiva;
- a guerra é uma ameaça latente e permanente;
- a corrupção no Movimento de Libertação Popular do Sudão (SPLM, sigla inglesa).
Segundo o Público on line de hoje, "o presidente do até aqui Sudão único, Omar al-Bashir, tem temperado as declarações de apaziguamento com palavras mais duras, num registo em que parece querer conciliar a tentativa de agradar à comunidade internacional - a retirada da lista norte-americana de Estados que apoiam o terrorismo e as promessa de ajuda financeira são os estímulos mais óbvios - com a necessidade de satisfazer os sectores do regime que temem a perda de grande fonte de receitas do Estado, cerca de 37 por cento, e vêem na separação do Sul um precedente que outros movimentos secessionistas do país poderão tomar como exemplo. É preciso não esquecer que o velho Sudão era um país onde Arábia e África, islão e cristianismo, se encontram, tornando-o palco de tensões, confrontos e perseguições étnicas".
Será que este novo país é viável? Tenho muitas dúvidas. O tempo o dirá.
1 comentário:
Sabe bem encontrar as pessoas a fazer coisas giras 20 anos depois!
Parabéns e um abraço.
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