sábado, 23 de fevereiro de 2008

O desemprego nos jovens licenciados portugueses


Cursos de Psicologia dominam lista de diplomados sem trabalho
23.02.2008, Isabel Leiria

Os quase 40 mil licenciados que estavam inscritos no ano passado em centros de emprego são sobretudo mulheres, jovens e da área das Ciências Sociais

A situação varia de escola para escola, mas, olhando para os cursos que mais estão a contribuir para o desemprego, surgem à cabeça formações como Psicologia, Serviço Social, Economia, Educação e até áreas menos previsíveis, como Enfermagem. Só em Psicologia, existiam, em Dezembro de 2007, cerca de mil licenciados inscritos em centros de emprego. Enfermeiros eram para cima de duas centenas. No caso do Instituto Superior de Saúde do Vale do Ave, 49 dos 66 diplomados em Enfermagem no último ano lectivo estavam nesta situação. Os cursos de Direito nas prestigiadas universidades de Lisboa e de Coimbra também não conseguem dar vazão a todas as centenas de jovens que formam anualmente e contribuíram para este universo com mais de 100 desempregados cada. Estes são apenas alguns dos muitos dados que se podem retirar do estudo A procura de emprego dos diplomados com habilitação superior, divulgado ontem pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior. Trata-se do primeiro levantamento de inscritos nos centros de emprego do continente com a indicação (para a maioria da população) do curso e escola que frequentaram. Globalmente, em Dezembro de 2007, estavam registados nos centros de emprego 39.627 diplomados do ensino superior, o equivalente a 4,5 por cento da população entre os 15 e os 64 anos que tem esta formação. O número de desempregados deste nível será, no entanto superior, já que nem todos se inscrevem nos centros. As últimas estimativas do INE apontavam para um valor próximo dos 60 mil. Outras características desta população: são jovens (75 por cento têm menos de 35 anos), inscreveram-se há menos de um ano (75 por cento), estão particularmente concentrados na Região Norte (41 por cento) e são maioritariamente mulheres. Elas já estão em maioria na população geral desempregada, mas a dificuldade em encontrar trabalho parece agravar-se com o aumento das habilitações: a taxa passa de 59 por cento de inscritas sem habilitação superior para 71 por cento entre as que têm esse nível de ensino. Mas, mais do que traçar o perfil geral do desemprego qualificado, o estudo (que será actualizado e divulgado de seis em seis meses) permite perceber quais as instituições e cursos com mais dificuldades de empregabilidade, pelo menos no que respeita a uma inserção rápida. As Ciências Sociais e do Comportamento são as mais representadas: constituem oito por cento do total de pessoas formadas e 13 por cento dos inscritos nos centros de emprego. As licenciaturas em Psicologia contribuem muito para esta situa-ção, encontrando-se no topo da tabela com maior número de desempregados instituições públicas e privadas, do litoral e do interior. Humanidades e Serviços Sociais destacam-se também pela negativa. A Formação de Professores é a área com mais inscritos há um ano (20 por cento). De resto, o estudo também mostra que o desemprego atinge de igual forma os jovens formados no ensino público e no privado, atendendo mais uma vez ao peso relativo de cada subsistema. Já o mesmo não acontece quando se olha para o tipo de ensino, com uma contribuição relativa superior do ensino universitário para as inscrições em centros de emprego, face aos politécnicos. Os licenciados são os mais atingidos pelo desemprego, mas existem ainda 457 mestres e 66 doutorados (0,2 por cento) inscritos em centros de emprego. Apesar da dimensão dos números, o estudo também mostra que a situação para os jovens licenciados não tem piorado. O número de inscritos em centros de emprego em Dezembro de 2007 diminuiu 6,5 por cento em relação ao mesmo mês de 2006. E manteve-se praticamente igual ao valor de Dezembro de 2003. Com uma diferença: ao longo deste período, a população com habilitação superior aumentou 20 por cento, o que "revela a capacidade do mercado de trabalho para absorver os novos diplomados". A dificuldade em encontrar trabalho parece agravar-se para as mulheresquando aumentam as habilitações 75% dos inscritos nos centros de emprego são jovens com menos de 35 anos e 41 por cento são oriundos do Norte

Há 43 mil licenciados a fazer trabalhos pouco ou nada qualificados
23.02.2008

Pelo menos 43 mil licenciados desempenhavam em 2007 trabalhos de baixa qualificação ou não qualificados, como limpezas ou construção civil, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Sem emprego nas suas áreas, dizem-se "dispostos a tudo" para sobreviver. De acordo com números estimados pelo INE com base no Inquérito ao Emprego, 7200 pessoas com formação académica superior estavam, no ano passado, empregadas em trabalhos não qualificados. Vendedores por telefone ou ao domicílio, pessoal de limpeza, lavadeiras e engomadores de roupa, empregadas domésticas ou estafetas são alguns dos exemplos constantes da lista de trabalhos não qualificados, segundo a classificação nacional de profissões. A estes, somam-se mais de 35.800 licenciados em trabalhos de baixa qualificação (nas quais se integram, segundo o INE, categorias como "operadores de máquinas e trabalhadores de montagem", "operários, artífices e trabalhadores similares" ou "pessoal dos serviços e vendedores"). No total, são 43 mil os diplomados nestas situações, mais cinco mil do que em 2006. No entanto, o verdadeiro número de pessoas com excesso de formação para o trabalho que desempenham pode ser muito superior, uma vez que aquele conjunto não abrange os 46 mil licenciados que integram o "pessoal administrativo e similares", uma categoria que inclui empregados de recepção, telefonistas ou cobradores de portagem, por exemplo, além de funções mais qualificadas como escriturários ou gestores de conta bancária."Estão a aumentar os casos de não correspondência entre as habilitações e o tipo de trabalho", disse à Lusa Marinus Pires de Lima, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e especialista em Sociologia do Trabalho. Isto deve-se, por um lado, "ao aumento do desemprego e, por outro, à falta de articulação entre as universidades e o mercado de trabalho". A formação nem sempre corresponde às necessidades, acrescenta. Apesar do número de diplomados por ano ter quase duplicado entre 1997/98 e 2005/06 - atingindo os 71.828 -, Portugal continua a ser o segundo país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) com a menor percentagem de pessoas com formação académica superior, apenas à frente de Itália. Ainda assim, os diplomados têm cada vez mais dificuldade em arranjar colocação. A taxa de desemprego entre as pessoas com habilitações superiores mais do que duplicou desde 2002 e hoje são quase 60 mil os que não conseguem um lugar no mercado. Fartos de esperar por um emprego condicente com os anos que dedicaram aos estudos, muitos jovens licenciados "arrumam" o diploma na gaveta e dirigem-se a empresas de trabalho temporário, dispostos a aceitar qualquer tarefa por qualquer remuneração. "Cerca de 80 por cento de todos os currículos que recebemos são de licenciados. São sobretudo da área das Ciências Sociais, embora também comecem a aumentar na área das Ciências Exactas", disse à Lusa Sónia Silva, directora da Select, uma das maiores empresas de trabalho temporário a operar em Portugal. Só no mundo dos call centers, onde o pagamento à hora fica em média pelos 2,5 euros, 35 por cento dos cerca de 7500 operadores têm um curso superior.Também nos super e hipermercados são cada vez mais os diplomados na reposição de stocks ou atrás das caixas registadoras. O grupo Auchan, proprietário das marcas Jumbo e Pão de Açúcar e um dos líderes no sector da distribuição alimentar, não foge à regra. Cerca de dez por cento dos seus 7100 colaboradores têm um "canudo"; 270 são operadores de caixa. PS, CDS e BE reagiram ontem a estes números. Consideram que existe, desde há anos, uma desarticulação entre as necessidades do mercado de trabalho e a política educativa. E o deputado do CDS Pedro Mota Soares defendeu mesmo a "publicação de um ranking das universidades pela taxa de colocação de licenciados no mercado". Ana Drago, do BE, afirmou que o problema só tem solução se forem tomadas medidas complementares ao nível da "modernização da própria economia". "Grande parte do que é hoje o tecido económico nacional é muito pouco competitivo, muito pouco modernizado e pouco adaptado àquilo que são as exigências do mercado europeu. Isso tem conduzido a que muitos jovens que têm apostado na sua formação não consigam de facto encontrar emprego."Também o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, defendeu uma maior aposta em políticas de apoio aos jovens que procuram o primeiro emprego: "Criar condições de igualdade de oportunidades para todos deve ser a primeira responsabilidade dos poderes políticos e das autoridades". "A realidade do primeiro emprego é uma situação que me preocupa, porque se trata de um problema nacional", disse, lembrando que o "trabalho é um direito para todo e qualquer cidadão".
Joana Pereira Bastos, Lusa
"Qualquer jovem que aposte no ensino superior está a fazer uma boa aposta"
23.02.2008

Há milhares de diplomados licenciados? Há muitos em empregos pouco qualificados? A culpa é da "gravíssima crise económica" que o país vive, diz Manuel Villaverde Cabral, sociólogo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. "A culpa não é das universidades."Villaverde Cabral dá mesmo um conselho aos pais dos recém-licenciados: se o filho não arranjar trabalho quando acaba o curso, o ideal - "se a família tiver possibilidade para suportar isso" - é que prossiga os estudos, para um mestrado, por exemplo. Já perder tempo num emprego desqualificado onde não adquire experiência nem conhecimento - e ambas as coisas podem fazer a diferença quando, num concurso, se está competir com outros diplomados - é menos aconselhável.Os números ontem divulgados não surpreendem o sociólogo. Afinal, explica, o sector privado português não contrata gente qualificada e o Estado, pressionado pela contenção orçamental, fá-lo cada vez menos. Qual é a solução? Na opinião do sociólogo, o Governo deve, antes de mais, abster-se de intervir no número de vagas que cada curso superior abre - "o ideal é não se meter de todo". Se não há empregos, "o melhor é deixarem as pessoas tirar os cursos".Villaverde Cabral acredita que "deve ser o mercado a fazer a regulação" - "na Universidade de Lisboa, temos duas faculdades que formam professores que viram o número de candidatos reduzir muito porque os jovens perceberam que não tinham saídas no mercado de trabalho e deixaram de vir". De resto, Portugal está longe de ter licenciados a mais: "Qualquer jovem que aposte no ensino superior está a fazer uma boa aposta, porque ficará menos tempo desempregado e ser-lhe-á mais fácil atingir uma posição melhor no mercado de trabalho." Em média, um licenciado recebe, em Portugal, 80 por cento mais do que um trabalhador com o secundário, revelou um estudo recente da OCDE.
Andreia Sanches

Gostaria de não ter publicado este post, especialmente por causa das duas primeiras notícias e por vocês se encontrarem no final do secundário, num curso de Ciências Sociais e Humanas. No entanto, não devemos "enfiar a cabeça na areia" e fazer de conta que esta realidade não existe. Têm que se consciencializar que o futuro não será propriamente fácil e que vão ter que lutar muito para conseguir vencer na vida. Têm que acreditar em vocês próprios e nas vossas capacidades e com muita determinação e perseverança (e algum sacrifício) poderão atingir os vossos objectivos pessoais.
A última notícia deixa algum optimismo. Mostra que, apesar de todas as dificuldades, é preferível ter uma licenciatura (ou mestrado) do que apenas o secundário. Ou seja, ainda vale a pena lutar. Mas têm que ser muito bons naquilo que fizerem.







SEDES alerta para crise social de contornos difíceis de prever

O Estado e os políticos são os principais visados

21.02.2008 - 23h00 Luciano Alvarez

Sente-se em Portugal “um mal estar difuso”, que “alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional”. Este mal-estar e a “degradação da confiança, a espiral descendente em que o regime parece ter mergulhado, têm como consequência inevitável o seu bloqueamento”. Este é um dos muitos alertas lançados pela Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES) - uma das mais antigas e conceituadas associações cívicas de Portugal –, num documento hoje concluido e dirigido ao país.Sente-se em Portugal "um mal-estar difuso", que "alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional". Este mal-estar e a "degradação da confiança, a espiral descendente em que o regime parece ter mergulhado, têm como consequência inevitável o seu bloqueamento". E se essa espiral descendente continuar, "emergirá, mais cedo ou mais tarde, uma crise social de contornos difíceis de prever".Este é um dos muitos alertas lançados pela Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (Sedes) - uma das mais antigas e conceituadas associações cívicas portuguesas -, num documento ontem concluído e dirigido ao país. Esta tomada de posição é uma reflexão sobre o momento que Portugal vive, com a associação a manifestar o seu dever de ética e responsabilidade para intervir e chamar a atenção "para os sinais de degradação da qualidade de vida cívica". Principais visados: o Estado, em geral, e os partidos políticos, em particular. E para este "difuso mal-estar", frase que é o pilar de todo o documento, a Sedes centra-se em algumas questões: degradação da confiança no sistema político; sinais de crise nos valores, comunicação social e justiça; criminalidade, insegurança e os exageros cometidos pelo Estado.
Acirrar de emoções
O acentuar da "degradação da confiança dos cidadãos nos representantes partidários" de todo o espectro político é o primeiro alerta da associação. E, aqui, os relatores do documento (ver texto nestas páginas) não têm dúvidas sobre a crise que surgirá caso não seja evitado o eventual fracasso da democracia representativa: "criará um vácuo propício ao acirrar das emoções mais primárias em detrimento da razão e à consequente emergência de derivas populistas, caciquistas, personalistas". E para que a democracia representativa seja preservada, a Sedes aponta três metas aos partidos: "Têm de ser capazes de mobilizar os talentos da sociedade para uma elite de serviço; a sua presença não pode ser dominadora a ponto de asfixiar a sociedade; e não devem ser um objectivo em si mesmos". A associação considera ainda preocupante "assistir à tentacular expansão da influência partidária" - quer "na ocupação do Estado", quer "na articulação com interesses da economia privada". Outro factor que a Sedes diz contribuir para a "degradação da qualidade da vida política" é o resultado "da combinação de alguma comunicação social sensacionalista com uma justiça ineficaz", que por vezes deixa a sensação de que "também funciona subordinada a agendas políticas". Essa combinação "alimenta um estado de suspeição generalizada" sobre a classe política. "É o pior dos mundos", acrescentam. "Sendo fácil e impune lançar suspeitas infundadas, muitas pessoas sérias e competentes afastam-se da política, empobrecendo-a."Neste capítulo, o Estado, que "tem uma presença asfixiante sobre toda a sociedade", também não é poupado: "Demite-se do seu dever de isenta regulação, para desenvolver duvidosas articulações com interesses privados, que deixam em muitos casos um perigoso rasto de desconfiança". E nesta sequência de constatações sobre o comportamento dos agentes do Estado, surge pela primeira vez a palavra "corrupção". "É precisamente na penumbra do que a lei não prevê explicitamente que proliferam comportamentos contrários ao interesse da sociedade e ao bem comum. E é justamente nessa penumbra sem valores que medra a corrupção, um cancro que corrói a sociedade e que a justiça não alcança."
Criminalidade e exageros
E depois vêm a criminalidade e os recados aos exageros do Estado directamente dirigidos à ASAE, embora esta autoridade nunca seja explicitamente citada. A Sedes não tem dúvidas em afirmar que a criminalidade violenta "progride"; que a "crescente ousadia dos criminosos transmite o sentimento de que a impune experimentação vai consolidando saber e experiência na escala da violência"; e que, enquanto "subsiste uma cultura predominantemente laxista no cumprimento da lei, em áreas menos relevantes para as necessidades do bom funcionamento da sociedade emerge, por vezes, uma espécie de fundamentalismo ultrazeloso, sem sentido de proporcionalidade ou bom senso". "Calculem-se as vítimas da última década originadas por problemas relacionados com Bolas-de-Berlim, colheres de pau ou similares e os decorrentes da criminalidade violenta ou da circulação rodoviária e confronte-se com o zelo que o Estado visivelmente lhes dedicou."Por tudo isto, e para evitar que se chegue à já referida "crise social de contornos difíceis de prever", a Sedes apela depois à sociedade civil para intervir e participar "no desbloqueamento da eficácia do regime". Mas, para que isso aconteça, será necessário que o Estado se "abra mais do que tem feito até aqui".
Prestar contas
E aqui, as principais críticas vão para os partidos. Para a Sedes, a dissociação entre os eleitores e os partidos "deve preocupar todos aqueles que se empenham verdadeiramente na coisa pública e que não podem continuar indiferentes perante a crescente dissociação entre o conceito de res publica e o de intervenção política". Partidos que, de acordo com a Sedes, "têm a obrigação de prestar contas de forma permanente sobre o modo como o exercem". "Em geral, o Estado tem de abrir urgentemente canais para escutar a sociedade civil e os cidadãos. Deve fazê-lo de forma clara, transparente e, sobretudo, escrutinável. Os portugueses têm de poder entender as razões que presidem à formação das políticas públicas que lhes dizem respeito", conclui o documento.


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Petróleo sobe aos 101,32 dólares!


O preço do petróleo atingiu já hoje, em Nova Iorque, o seu valor mais elevado de sempre, nos 101,32 dólares (68,7 euros). A especulação parece sustentar estes movimentos repentinos de agravamento do preço do petróleo, já que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo tem repetidamente defendido que não há falta de crude no mercado.

Fonte: http://economia.publico.clix.pt/

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Fidel deixa a Presidência, não diz adeus e prepara a sua própria sucessão
20.02.2008, Jorge Almeida Fernandes

O "Líder Máximo" começou ontem a despedir-se. Abandona a chefia do Estado mas não abdica do poder. Quer pilotar a sua sucessão e o início de um perigoso processo de transição

Ao fim de 49 anos no poder, Fidel Castro anunciou ontem que abandona as funções de Presidente do Conoselho de Estado e de comandante supremo das Forças Armadas de Cuba. O sucessor será designado no domingo pelo Parlamento. Reconheceu que a sua saúde o impede de exercer essas funções e apela à passagem de testemunho entre gerações. "Não me despeço de vós. Desejo apenas combater como um soldado das ideias." Deixa o Governo, não o poder. Fidel, de 81 anos, não renuncia, pelo menos imediatamente, ao cargo de secretário-geral do Partido Comunista, a sede real do poder. Deu a entender que deseja preparar e supervisionar a fase de transição que inevitavelmente se abre. Tão ou mais importante do que o nome do sucessor será entender o papel que deseja desempenhar nos seus derradeiros dias. Após a crise que se seguiu a uma operação aos intestinos, em Julho, o "Líder Máximo" deixou de aparecer em público e passou interinamente os poderes a seu irmão Raúl, ministro da Defesa e número dois do regime. Não tendo condições físicas para exercer plenamente os cargos que abandona, reivindica, no entanto, a plena posse dos recursos intelectuais. Na sua carta aos cubanos, publicada na edição on-line do diário oficial Granma, há duas passagens particularmente importantes. "Preparar [o povo cubano] para a minha ausência, psicológica e politicamente, era a minha primeira obrigação depois de tantos anos de luta. (...) O meu desejo sempre foi cumprir o meu dever até ao último alento. É o que posso oferecer."À frente, evoca as três gerações do castrismo, desde os veteranos, que têm "a autoridade e a experiência para garantir a substituição", a uma "geração intermédia que aprendeu connosco os elementos da complexa e quase inacessível arte de organizar e dirigir uma revolução".

Um passageiro do século

Fidel Castro é o último sobrevivente da guerra fria. Figura omnipresente da segunda metade do século XX, foi o actor central - embora a seguir remetido para o humilhante lugar de "peão" - da crise dos mísseis de 1962. E também um dos líderes do Terceiro Mundo, numa era em que havia figuras como Nasser, Tito ou Nehru.Tentou, com Che Guevara, exportar o modelo da revolução cubana para toda a América Latina e fascinou revolucionários europeus ou asiáticos. Foi implacável não apenas para com os dissidentes, mas em geral para com todos os rivais políticos, inclusive os velhos dirigentes comunistas de Cuba. Depois de criticar os soviéticos, que não apreciavam as suas aventuras, tornou-se no mais acerado instrumento da política externa da URSS, numa escalada que terá o apogeu em África nos anos 1970. Foi o "inimigo número um" dos EUA, resistiu a nove presidentes ame-ricanos e a várias tentativas de assassínio pela CIA. Conheceu cinco secretários-gerais do Partido Comunista Soviético e sobreviveu ao desmoronamento da URSS. O seu desaparecimento será um traumatismo não só para a velha guarda cubana mas também para uma parte importante da América Latina, diz a Le Monde Janette Habel, uma especialista da região. É difícil compreendê-lo hoje na Europa, mas continua a ser visto como um "libertador": não é um democrata, o seu regime faliu na maior parte dos domínios, mas é aquele que sempre desafiou e resistiu aos Estados Unidos.



Visiona este vídeo da agência "efe" (em castelhano) sobre o mesmo assunto, contendo uma pequena biografia de Fidel.

Fonte: http://br.youtube.com/watch?v=zty452N1Pis

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Kosovo declara unilateralmente a independência

Jovens sérvios atacam embaixadas dos EUA e da Eslovénia


Manifestações violentas em Belgrado após declaração de independência do Kosovo

17.02.2008 - 20h50 AFP

Várias centenas de jovens sérvios manifestaram-se hoje nas ruas de Belgrado contra a declaração de independência do Kosovo, envolvendo-se em confrontos com a polícia depois de terem lançado pedras contra a Embaixada dos Estados Unidos, um dos países que já manifestaram apoio à separação da província sérvia, sob supervisão internacional.

Os manifestantes, muitos deles apoiantes de equipas de futebol, lançaram pedras e tochas contra a representação diplomática norte-americana, fortemente protegida por um dispositivo de segurança composto por polícias anti-motim.

Durante um confronto com a polícia, que usou granadas de gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, um polícia sofreu ferimentos ligeiros.

Os manifestantes atacaram ainda a Embaixada da Eslovénia, tendo lançado também pedras e tochas contra o edifício, cuja porta de entrada ficou destruída bem como os vidros de várias janelas. A Eslovénia, antiga república jugoslava, assegura actualmente a presidência da União Europeia, que decidiu enviar uma missão para o Kosovo, para acompanhar o território após a declaração da independência.

Viaturas da polícia foram, entretanto, mobilizadas para outras embaixadas, como a de França, para impedir possíveis ataques durante a noite.

No centro de Belgrado, os opositores à independência kosovar desfilaram empunhando bandeiras sérvias e gritando “O Kosovo é a Sérvia”.

Em Kosovska Mitrovica, no norte do Kosovo, quatro granadas foram lançadas: duas que não chegaram a explodir contra um edifício ocupado pela União Europeia, e duas outras contra um tribunal, tendo apenas um explodido. O incidente não provocou vítimas.

Hoje, pouco depois do anúncio da independência do Kosovo, o Presidente sérvio, Boris Tadic, assegurou que a Sérvia “jamais reconhecerá a independência”. “A Sérvia reagiu e reagirá por todos os meios pacíficos, diplomáticos e legais para anular esse acto cometido pelas instituições do Kosovo”, acrescentou, numa posição reforçada pelo primeiro-ministro nacionalista sérvio. “Para os cidadãos da Sérvia, para a Sérvia, não existe nem existirá um Estado fantoche do Kosovo no seu território”, declarou Vojislav Kostunica.

Fonte: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1319927&idCanal=11


Comenta a declaração unilateral de independência do Kosovo, reflectindo sobre algumas das seguintes questões:

O que irá acontecer nos próximos dias?
Como vai reagir a Sérvia e a minoria sérvia que vive no Kosovo?
Quais os países que reconhecerão a independência do Kosovo?
Será que esta situação poderá despoletar outras situações idênticas em outros territórios em que há aspirações de independência, como no País Vasco (Espanha), Córsega (França), Irlanda do Norte (Reino Unido), ..., como foi referido pelo nosso Presidente da República?

Consulta o Dossier sobre a independência do Kosovo do "Público" em: http://dossiers.publico.pt/dossier.aspx?idCanal=2287

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Atentados em Timor-Leste

Gastão Salsinha comandou ataque a coluna de Xanana

Novo líder rebelde de Timor-Leste diz que não se renderá sem luta

15.02.2008 - 15h42 Lusa

O ex-tenente das forças armadas de Timor-Leste, Gastão Salsinha, autoproclamado novo líder dos rebeldes timorenses, afirmou que está fortemente armado numa casa em Díli e que não se renderá sem luta. Em declarações ao canal de televisão australiano Channel Nine, divulgadas hoje, Salsinha diz também que o major rebelde Alfredo Reinado foi morto cerca de 25 minutos antes de o Presidente timorense, José Ramos Horta, ter sido baleado no ataque à sua residência, na segunda-feira.“O meu comandante Alfredo Reinado foi a Metiaut [onde se situa a casa de Ramos-Horta]. Foi primeiro morto pelas F-FDTL [Falintil-Forças de Defesa do Timor Leste] e cerca de 25 minutos depois o presidente foi baleado”, afirmou. O tenente Salsinha afirma ter assumido o comando dos rebeldes após a morte de Alfredo Reinado. “Ele era o meu comandante e eu era seu adjunto. Como foi morto, claro que o substituirei”, declarou, frisando que seu objectivo é “lutar por justiça”. Mas também disse, citado pela agência de notícias australiana AAP, que se os seus adeptos quiserem se entrega ao Governo. Também afirmou que não é “inimigo da Austrália” e que apoia a presença de forças estrangeiras no país, afirmando que estão ali “para ajudar o povo do Timor”. Sobre os ataques de segunda-feira, Salsinha, que liderou o ataque à coluna do primeiro-ministro Xanana Gusmão, disse que eram parte de um plano “muito complicado”, mas recusou dar detalhes e dizer se pretendiam matar os dois dirigentes.“Não vos direi qual era o plano desse ataque, só o farei quando for a tribunal”, afirmou, acrescentando, no entanto, que se quisessem matar a Ramos Horta, teriam feito “directamente”. Gastão Salsinha é um dos nomes que constam na lista de cinco novos mandados de captura assinados na noite de quinta-feira pelo juiz do processo, disse à Lusa uma fonte ligada à investigação. Os outros quatro mandados emitidos pelo juiz são referentes a membros das Falintil-Forças de Defesa do Timor Leste e da Polícia Nacional.Gastão Salsinha fazia parte dos cerca de 600 rebeldes das forças armadas que se amotinaram e foram despedidos pelo Governo em 2006, o que desencadeou uma onda de violência no país, provocando a morte de pelo menos 37 pessoas e deixando mais de 150 mil desalojados. O levantamento derrubou o Governo liderado por Mari Alkatiri.


Fonte: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1319760&idCanal=11


Em complemento, visiona um Vídeo RTP sobre a situação actual em Timor:
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?headline=98&visual=25&article=326161&tema=31

Comenta os atentados verificados em Timor-Leste, reflectindo sobre a instabilidade política que se verifica neste jovem país que parece nunca mais ter paz. Quem será que ganha com esta situação?

Adeus, Lenine!

Ficha Técnica

Título Original: Good Bye, Lenin!

Género: Drama

Tempo de Duração: 118 minutos

Ano de Lançamento (Alemanha): 2003


Estúdio: arte / Westdreutscher Rundfunk / X-Filme Creative Pool

Distribuição: Sony Pictures Classics

Realização: Wolfganger Becker

Argumento: Wolfganger Becker e Bernd Lichtenberg

Produção: Stefan Arndt

Música: Yann Tiersen

Fotografia: Martin Kukula

Desenho de Produção: Daniele Drobny e Lothar Heller

Edição: Peter R. Adam

Efeitos Especiais: Das Werk

Interpretação: Daniel Brühl (Alexander Kerner), Katrin Sab (Christine Kerner), Maria Simon (Ariane Kerner), Chulpan Khamatova (Lara), Florian Lukas (Denis), Alexander Beyer (Rainer), Burghart Klaubner (Robert Kerner), Michael Gwisdek (Diretor Klapprath), Christine Schorn (Frau Schäfer), Rudi Völler (Rudi Völler), Helmut Kohl (Helmut Kohl)

Depois de terem visionado o filme "Good bye Lenin" é agora o momento para reflectir sobre o mesmo. Ficam aqui alguns pontos que poderão abordar:
  • Gostaram do filme? Porquê?

  • O que é que mais vos marcou no filme?


  • O que ganharam e o que perderam os cidadãos da ex-RDA com o fim do comunismo e com a reunificação da Alemanha?

Eis o trailer do filme, em http://br.youtube.com/watch?v=i7EB47ENNV0


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Putin ameaça dirigir mísseis contra a Ucrânia em caso de adesão à NATO

Aviso foi feito após encontro com Presidente ucraniano

12.02.2008 - 16h54 PÚBLICO


O Presidente russo, Vladimir Putin, avisou hoje que a Rússia poderá redirigir os seus mísseis contra a Ucrânia se o país vizinho se juntar à NATO e aceitar a instalação de um escudo de defesa anti-míssil norte-americano. O aviso foi feito no final de um encontro com o seu homólogo ucraniano, Victor Iuchenko, que se deslocou a Moscovo para resolver uma disputa sobre os fornecimentos de gás russo ao seu país e procurar melhorar as relações diplomáticas com a antiga potência. Putin revelou ter alertado Iuchenko para os riscos de uma adesão à Aliança Atlântica, o pacto de defesa promovido pelos EUA em plena Guerra-Fria, sustentando que o passo almejado há anos por Kiev “restringiria a soberania do país”. Apesar de sublinhar que não pode interferir na decisão do país vizinho, o Presidente russo disse temer que a eventual entrada da Ucrânia no bloco ocidental leve o país a aceitar a instalação de um escudo antimíssil semelhante àquele que os EUA planeiam instalar na Polónia e República Checa. “É aterrador pensar que a Rússia, em resposta a uma possível instalação de um escudo míssil na Ucrânia possa ter de dirigir os seus sistemas de mísseis ofensivos contra a Ucrânia”, declarou Putin, de forma emotiva, citado pela Reuters. Os planos dos EUA para a instalação de um radar na República Checa e de um escudos antimíssil na Polónia – partes de um sistema que Washington diz ser defensivo – tem merecido duras críticas de Moscovo, desencadeando uma troca de palavras entre as duas capitais que recorda a Guerra-Fria. Esta tarde, o Presidente russo voltou a dizer que os planos americanos visam “a neutralização do potencial nuclear russo”, sublinhando que a sua efectivação “desencadeará uma acção russa de retaliação”. Até ao momento, Washington não solicitou à Ucrânia qualquer envolvimento neste projecto, embora o país seja visto por Moscovo como um aliado avançado dos EUA na região, desde que em 2004 Iuchenko liderou uma revolução que congregou as forças pró-ocidentais no país.Horas antes destas bombásticas declarações, o chefe da diplomacia russa revelou que o Presidente aceitou um convite para participar na próxima cimeira da NATO, agendada para Abril, em Bucareste. A reunião terá lugar já depois de Putin dar lugar ao seu sucessor no Kremlin. A aceitação do convite "demonstra novamente que a Rússia está disponível para dialogar sobre qualquer matéria", afirmou Sergei Lavrov.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Eleições nos EUA



Superterça-Feira adiou certezas nas nomeações para a Casa Branca



07.02.2008, Rita Siza, em Nova Iorque



Obama teve mais estados, Hillary mais votos. McCain, no lado republicano, ganhou nas duas costas e convenceu



Barack Obama e Hillary Clinton preparavam-se ontem para prosseguir as suas campanhas depois da votação da inédita Super-Duper-Tsunami Tuesday ter confirmado como os eleitores democratas se sentem divididos sobre os seus candidatos à nomeação para a corrida à Casa Branca. Obama com maior número de estados declarados, e Hillary com votações mais expressivas, acabaram por dividir quase a meio o número de delegados em jogo no dia de primárias mais "super" da história americana, disparando para a estratosfera as expectativas para os concursos que se seguem. Não era esse o objectivo: a ideia de concentrar a votação de 24 estados na mesma data destinava-se a encontrar o mais cedo possível as figuras que liderarão os respectivos partidos na igualmente histórica eleição presidencial de Novembro. Mas os democratas correm o risco de ver a campanha esticar-se até Abril - decididamente, esta eleição só acaba no fim. No lado republicano, os resultados confirmaram indiscutivelmente o favoritismo do veterano senador do Arizona John McCain na luta pela nomeação do seu partido. Ao final da noite, McCain tinha vencido em mais estados e conseguido muito mais delegados do que os seus opositores Mitt Romney e Mike Huckabee (o libertário Ron Paul, que também segue em contenda, nunca teve aspirações a entrar no combate pela liderança) - ficou claro para todos que, apesar de uma reviravolta ainda ser matematicamente possível, o famoso "rebelde" dos conservadores está à beira da consagração." Nunca me importei com o facto de ser o "underdog" [expressão usada para descrever o último da corrida], mas, meus amigos, temos de nos habituar à ideia de que agora somos os favoritos", regozijou-se o candidato, que leva agora uma vantagem de mais de 300 delegados para os seus adversários. Mike Huckabee também se congratulou com os resultados, que o catapultaram para o segundo lugar. "Esta é de facto uma corrida a dois, e nós estamos presentes", declarou. Já Mitt Romney pareceu verdadeiramente desolado - o candidato garantiu que ia manter-se na corrida, mas ontem estava reunido com os seus conselheiros e assessores para avaliar as perspectivas da sua candidatura (tendo decidido pela desistência da corrida eleitoral).

Fonte: http://jornal.publico.clix.pt/ , 7 de Fevereiro de 2008

Depois de oito quase 8 anos de administração Bush, os EUA estão a viver um novo processo eleitoral, que é bastante complexo. Estão a decorrer as chamadas "eleições primárias" nos diferentes estados, em que são eleitos os delegados (de acordo com as preferências dos eleitores pelos pré-candidatos que concorrem a estas eleições) às Convenções dos dois principais partidos norte-americanos: o Partido Republicano e o Partido Democrata. Nas referidas Convenções, os delegados, eleitos nas "primárias", escolherão o candidato final de cada um dos partidos à eleição do Presidente dos EUA. Sendo os EUA, actualmente, a única superpotência do Mundo, estas eleições presidenciais são um acontecimento muito importante não só para este país como para todo o Mundo. A escolha que for feita pelo povo norte-americano irá, de alguma forma, influenciar os destinos do Mundo.


Elabora um comentário sobre a importância do resultado das próximas eleições norte-americanas, quer para os EUA quer para o Mundo em geral, reflectindo ainda sobre as seguintes questões:
  • quem serão de facto os dois candidatos finais à presidência dos EUA? Pelo Partido Republicano: Jonh McCaine ou Mike Huckabee? Pelo Partido Democrata: Barack Obama ou Hillary Clinton?
  • será que, pela primeira vez, os EUA terão um presidente negro, ou melhor mestiço (Barack Obama), ou uma mulher (Hillary Clinton)? Será que o país estará preparado para qualquer uma destas possíveis situações?

sábado, 2 de fevereiro de 2008

As democracias ocidentais e os regimes autocráticos


Relatório hoje divulgado


Human Rights Watch condena "fechar de olhos" das democracias ocidentais aos abusos autocráticos

31.01.2008 - 15h01 Susana Almeida Ribeiro


As democracias ocidentais estão a “fechar os olhos” aos abusos praticados em países que passam por regimes democráticos mas que, na verdade, são autocracias encapotadas. Bruxelas, Washington e organizações como a OSCE estão a aceitar vitórias fraudulentas e abusos em diversos países, por conveniência política e diplomática, e, através dessa atitude, a perpetuar as violações dos direitos humanos em nações como o Quénia, Paquistão, China e Somália, indica o relatório da organização Human Rights Watch (HRW), hoje divulgado.O Relatório Mundial 2008 da organização de defesa dos direitos humanos sublinha que não basta que haja eleições para que um país seja considerado democrático. É preciso que, entre outras coisas, haja liberdade de expressão, liberdade de associação e uma sociedade civil esclarecida.“Hoje em dia é muito fácil os autocratas conseguirem ‘safar-se’ com falsas democracias”, indicou Kenneth Roth, director executivo da HRW, salientando que países como o Quénia, Paquistão, Bahrein, Jordânia, Nigéria, Rússia e Tailândia se comportaram como democracias, mas que nos bastidores actuaram como autocracias, ora censurando os media, ora falseando resultados eleitorais. Para que isto não aconteça, é preciso que as democracias estabelecidas fiquem vigilantes e actuem, e isso nem sempre acontece. “Parece que Washington e os governos europeus aceitam as mais dúbias eleições, desde que o país em questão seja um aliado estratégico ou comercial”, acusa Roth.

A HRW aponta o dedo aos Estados Unidos quando, por exemplo, aceitaram os resultados eleitorais de Fevereiro de 2007 na Nigéria – país rico em petróleo –, apesar das acusações de fraude eleitoral. Atitudes como esta poderão ser encaradas pelos líderes africanos como um “tapar de olhos” de Washington, que acaba por tolerar as ilegalidades democráticas. O Quénia, por exemplo, está envolvido numa violenta crise política desde finais de Dezembro de 2007, que já causou a morte a perto de um milhar de pessoas, e os EUA limitaram-se a expressar a sua preocupação pela situação.Por outro lado, organizações como a OSCE (Organização Europeia para a Cooperação e Segurança), “que deviam promover a democracia, os direitos humanos e a segurança, aceitaram a entrada como membro, em 2010, do Cazaquistão, que tem grandes reservas de petróleo e gás, desejadas quer pela UE quer pela Rússia”, indica o relatório. “A decisão da OSCE foi tomada depois do partido do poder no Cazaquistão ter ‘vencido’ de forma esmagadora as eleições parlamentares de Agosto, durante as quais, de acordo com os próprios monitores da OSCE, houve censura aos media, impedimento à formação de partidos da oposição e irregularidades na contagem dos votos”.


Violações dos direitos humanos e repressões severas


A HRW monitoriza a situação dos direitos humanos em mais de 75 países e denuncia a existência de atrocidades em países como o Chade, Colômbia, República Democrática do Congo, Etiópia (região de Ogaden), Iraque, Somália, Sri Lanka e Sudão (região do Darfur) e delata a existência de sociedades fechadas e repressões severas na Birmânia, China, Cuba, Eritreia, Líbia, Irão, Coreia do Norte, Arábia Saudita e Vietname.Kenneth Roth especificou que “a situação na Somália e na região etíope de Ogaden, onde milhões estão a sofrer, é uma tragédia esquecida” e o relatório sublinha que “o governo do Sudão é o responsável por cinco anos de crise no Darfur, onde 2,4 milhões de pessoas foram deslocadas, quatro milhões sobrevivem de ajuda humanitária e onde as populações estão em grande risco.Na Birmânia, a junta militar usou força desproporcionada, em Agosto e Setembo do ano passado, em resposta aos protestos pacíficos dos monges budistas e civis desarmados. O relatório denuncia ainda o bloqueio israelita de comida, petróleo e medicamentos aos palestinianos – uma atitude que viola as leis internacionais – e, por outro lado, recrimina os ataque palestinianos a áreas populacionais israelitas.No que toca ao Paquistão, a HRW denuncia as repressões levadas a cabo a determinados juízes e as mudanças constitucionais operadas pelo Presidente Pervez Musharraf, a fim de poder ser eleito nas próximas eleições, marcadas para Fevereiro.


Jogos Olímpicos na China estão a minar os direitos humanos


A HRW chegou ainda a uma conclusão surpreendente. Ao contrário do que se esperava, os Jogos Olímpicos, que se celebram este Verão em Pequim, estão a fazer aumentar as situações de deslocações laborais forçadas, abuso de direitos dos trabalhadores e prisões domiciliárias de opositores ao regime comunista chinês.O relatório denuncia ainda que os Estados Unidos são o país do mundo com a maior taxa de encarceramentos de todo o mundo e onde o universo de prisioneiros negros é seis vezes mais numeroso que o de brancos.Os Estados Unidos são igualmente apontados pela sua “guerra ao terrorismo”, mantendo 275 prisioneiros em Guantánamo sem acusação formal.Como nota positiva, o Relatório Mundial 2008 da HRW indica a entrega à Justiça dos antigos Presidentes do Peru e da Libéria: Alberto Fujimori e Charles Taylor, respectivamente.

Fonte: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1318271&idCanal=11

Para mais informações relativas ao Relatório e às actividades da organização, visita o Site da Human Rights Watch , em Português: http://www.hrw.org/portuguese/

Comenta o conteúdo da notícia, reflectindo sobre a atitude das democracias ocidentais (nomeadamente da UE e dos EUA) relativamente às situações de abusos dos direitos humanos que se verificam em diferentes regimes autocráticos.

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