Ainda a propósito do turismo em Portugal, o jornal Público tem vindo a publicar uma série de artigos interessantes subordinados ao tema "Série Mar Português".
O último artigo tem o título "O futuro do sol e mar é ser mais do que praia".
Entre o microturismo ou o turismo de luxo, em que é que Portugal deveria apostar no futuro? Numa coisa especialistas concordam: só sol e mar já não chega como produto isolado. No ano passado, estiveram mais de 7,4 milhões de turistas estrangeiros em Portugal. Quem nos visita vem sobretudo do Reino Unido, Espanha, Alemanha, Holanda, França, Brasil, e vem sobretudo fazer praia. O turismo, um dos sectores em maior crescimento económico, de acordo com a Organização Mundial do Turismo, representa 9,6% das exportações e 42% das exportações de serviços (dados do Banco de Portugal).
Tem sido sugerido, por isso, como uma das prioridades da economia portuguesa, com o sol e mar à cabeça e o Algarve como zona de eleição. Há quem o veja como um dos nossos "activos" mais valiosos. Mas como será o futuro do nosso sol e mar - ou em que é que se deveria investir? Entre mudar a estratégia para um turismo de alto nível ou desenvolver uma lógica de microturismo, as ideias passam por opções opostas. Numa coisa há unanimidade: já não chega como produto isolado, há que cruzá-lo com outras ofertas para captar mais turistas ou turistas que deixem mais dinheiro.
O turismo é um dos sectores que mais têm contribuído para o aumento das exportações, vistas como motor da recuperação económica. Nos primeiros sete meses do ano, as receitas de turismo estrangeiro ascenderam a 4500 milhões de euros, mais 6% do que no período homólogo. Têm sido os estrangeiros a assegurar o turismo, já que os turistas nacionais têm descido. Ainda este ano, dados do INE até Julho mostram um aumento de 3,9% das dormidas estrangeiras e uma descida de 7,4% das nacionais. Porém, em Agosto, foram os portugueses que mais ocuparam as camas algarvias, de acordo com dados da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos da região. Mesmo assim, a taxa de ocupação média de quartos esteve em 89,7%, apenas 0,9% menos que em Agosto de 2011, e muito diferente da média global do ano, que se situa nos 50%, segundo o presidente do Turismo de Portugal (TP), Frederico Costa.
Entidades governamentais como o TP ou como o Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo (IPDT) falam, porém, da necessidade de reinvenção. Frederico Costa descreve o sol e mar português como um destino reconhecido internacionalmente, que tem de ser enriquecido com o cruzamento de "produtos" como a natureza, o turismo de negócios ou o golfe - responsável por entre 1200 a 1500 milhões de euros de receitas, revela, essencial para corrigir a sazonalidade em zonas como o Algarve. Jorge Costa, presidente do IPDT, defende um reposicionamento de forma a ir "ao encontro de nichos com poder aquisitivo superior".
Grupos hoteleiros como o Pestana, com 19 hotéis sol e mar em Portugal, têm visto o esquema de tudo incluído (em apenas três hotéis da cadeia em Portugal) como um dos que têm maiores níveis de satisfação dos clientes, segundo Luigi Valle, administrador.
Crescer não significa construir mais. Aliás, houve um aumento da oferta não acompanhada pela procura, lembra Frederico Costa. Que fazer de exemplos como a construção desenfreada na zona do Algarve? A solução não tem que passar por deitar abaixo edifícios, mas apostar na requalificação, defende. "Todos os investimentos têm que ser feitos de forma muito cuidada. Mas certamente que o TP está atento a novos investimentos desde que sejam altamente diferenciadores e qualificadores para o desenvolvimento de uma região." Outra prioridade é a aposta em novos mercados, como Brasil, Rússia, Estados Unidos e Polónia, defende.
Jorge Costa contextualiza: "Desde os anos 1960 que apostamos neste produto e nunca tivemos uma concorrência tão forte e poderosa - há o exemplo da Turquia, que, nos últimos dez anos, duplicou o número de turistas. A liberalização do transporte na Europa abriu alternativas a custos muito mais baixos para quem tinha fidelização ao Algarve." Tendo em conta o envelhecimento da população europeia, outra aposta deveria ser no turismo active senior, com os olhos postos numa "repetição da visita e um gasto superior em cada uma das pessoas". "Isto implica uma variedade de oferta..."
O desejo de Carlos Coelho, especialista em marcas que tem trabalhado sobre a imagem de Portugal, era que houvesse um desinvestimento em projectos de turismo de massas e um investimento em projectos pequenos que permitem desenvolver as economias locais. Sugere um turismo direccionado para especificidades portuguesas "pequeninas que valem uma fortuna", "coisas raras" que não acreditamos que o sejam, como o peixe, os cavalos, as horas de sol, o tamanho do mar. "O sol e mar é uma das nossas maiores riquezas. A aposta deveria ser em permitir que a pequena iniciativa surja e coloque Portugal no mundo como um destino genuíno, onde se come o melhor peixe e se consegue passar uns dias óptimos num sítio pequenino. Devemos pegar naquilo que temos de genuíno, encontrar uma oferta diferenciada e permitir a pequena escala." Para o publicitário, a nossa diversidade na geografia e no património, que permite percorrer dois mil anos de História em duas horas, faz de Portugal "um país de pequena escala que tem que ser vendida a preço elevado". "Temos que apostar quase num microturismo."
Joana Gorjão Henriques in http://economia.publico.pt/Noticia/serie-mar-portugues-o-futuro-do-sol-e-mar-e-ser-mais-do-que-praia-1566312
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