sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O fundamentalismo islâmico no Sudão


A iniciativa foi considerada “insultuosa para o profeta”

Professora britânica presa no Sudão por chamar Mohammed a um ursinho de peluche

26.11.2007 - 15h58 Reuters

Gillian Gibbons, uma professora inglesa de 54 anos radicada no Sudão, foi presa pelas autoridades sudanesas, sob acusação de ter deixado a sua turma do 2º ano baptizar um urso de peluche com o nome de Mohammed. Este exercício foi considerado “um insulto” ao profeta muçulmano e poderá valer a Gillian até três meses de prisão.Os colegas de Gillian Gibbons na Unity School dizem estar preocupados com a sua integridade física, tendo em conta que depois da sua detenção alguns activistas islâmicos se reuniram à porta da esquadra da polícia de Cartum, capital do Sudão. Estes professores dizem ainda que o erro de Gillian foi inocente, e que a votação do nome foi feita pelas crianças como parte de um projecto educativo.Robert Boulos, director da escola, explica que a professora seguia apenas um programa do currículo oficial britânico, relacionado com as diferentes espécies animais e os seus "habitats". Como o animal deste ano lectivo é o urso, a educadora pediu a uma das meninas do segundo ano que trouxesse o seu urso de peluche. Depois encorajou as crianças a darem-lhe um nome, para que posteriormente se escrevesse um diário sobre a interacção dos meninos com o brinquedo. O nome de Mohammed foi escolhido de entre oito possívies e votado por maioria (20 crianças em 23 votaram nessa opção). Boulos e respectivo corpo docente considera, por isso, que Gillian é inocente da acusação de blasfémia que agora enfrenta. A queixa foi fomentada por queixas formais vindas de pais muçulmanos.Uma das professoras, muçulmana e cuja filha frequentava a turma de Gibbons, referiu “não ter qualquer problema” com o nome, acrescentando que estava “apenas impressionada por Gillian ter conseguido que eles votassem”. Disse ainda que ela “nunca faria isso como um insulto” ao islamismo, opinião partilhada pelo director da escola.Gillian Gibbons enfrenta agora uma pena de até três meses de prisão, ao abrigo do artigo 125 da Constituição sudanesa, referente a blasfémias e insultos à fé e religião.Entretanto, a Unity School ficará fechada até Janeiro como medida preventiva. “Este é um assunto muito delicado, e estamos preocupados com a integridade física de Gillian”, foi a justificação dada por Boulos para esta medida.Os ministérios da Educação e da Justiça sudaneses revelaram-se indisponíveis para dar esclarecimentos sobre o caso.

Comenta o conteúdo da notícia, reflectindo sobre o fundamentalismo islâmico e a influência da religião islâmica nas leis do Sudão.

3 comentários:

Joana Santos disse...

Temos de aceitar e respeitar todas as culturas existentes se queremos coabitar num mundo multicultural sem qualquer tipo de problemas tendo em conta que para sermos respeitados primeiro temos de respeitar. Contudo, o acto que a noticia relata nao me parece ter qualquer tipo de desrespeito perante a religiao mulçumana.

Porém este fundamentalismo islâmico é tomado de forma tao extremista que acaba por se tornar num acto de ditadura e dificulta a intregação destes habitantes no nosso mundo.

A religião deve ser uma escolha individual e não imposta ou escolhida por pessoas que tomam controlo do país, como no caso do Sudão que interfere nas leis do dia quotidiano e mais uma vez levando a cabo um acto de ditadura. Isto relembra-me quando no tempo do nosso Salazar nas escolas existiam os itens religiosos e todos os alunos tinham de prestar respeito a eles.

O Sudão precisa de urgentemente haver uma laicização do estado e da igreja caso contrario .. outras situações com semelhanças a estas vão se perpetuar.

Margarida Lourenço disse...

Cada ser humano tem o dever de respeitar a raça, o sexo, a etnia e religião do outro, sendo que para obtermos respeito é necessário respeitar o próximo. O caso da professora Gillian Gibbons não foi caso de desrespeito para com a religião, visto que o nome é comum no país:

(...) they voted overwhelmingly in favor of Muhammad — the first name of the most popular boy in the class.

http://www.time.com/time/world/article/0,8599,1687755,00.html

Traduzindo, os alunos votaram em grande número a favor do nome, pois era o primeiro nome do rapaz mais popular da turma.

Este caso não é único, uma vez que o islamismo interage com as leis sudanesas e muitas vezes existem casos de pouca gravidade, ou até mesmo mal-entendidos que remetem a execuções ou penas pesadas. São situações deste género que demonstram que não existe tolerância nestes países de Médio Oriente, ao contrário dos restantes países globais.

Como a Joana referiu, a religião deve ser uma pura escolha pessoal baseada nas crenças de cada um, não permitindo que qualquer membro do Estado, ou até mesmo o outro mais próximo, interfira nessa opinião pessoal. Apesar de tudo, as leis do Sudão, tal como as leis de outros países muçulmanos, continuam a permitir que a religião se imponha, e que estas leis sejam alteradas de acordo com a religião, resultando daí uma proíbição da liberdade de ter uma religião diferente e de a manifestar.

Passo a citar o Artigo 18 da Declaração dos Direitos Humanos:

Todo o homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou colectivamente, em público ou em particular.

http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm#18

Soraia disse...

Artigo 1°
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

In “ Declaração Universal dos Direitos Humanos”

Esta situação é realmente inquietante e faz-nos reflectir a todos sobre as liberdades de que dispomos e que temos como garantidas, mas que de um momento para o outro são violadas por movimentos extremistas e fundamentalistas.

Como refere o artigo 1º da Declaração dos Direitos Humanos, todo o ser humano nasce livre e deve agir com os outros em espírito de fraternidade, o que não acontece com os fundamentalistas islâmicos, que são completamente fanáticos pela religião e que atropelam tudo e todos em seu nome.

Esta professora como se verifica na notícia agiu sem qualquer intenção de insultar profeta algum, até porque ela leccionava numa turma de 2ºano e foram as crianças que decidiram dar o nome de Mohammed ao peluche…no entanto corre o risco de passar três meses na prisão.

Agora pergunto:

Mas que autoridade tem o Estado Sudanês para julgar alguém por dar o nome de um profeta a um peluche, quando financiaram os “janjawid” para que estes massacrassem aldeias inteiras em nome das diferenças religiosas?

Os activistas islâmicos deviam preocupar-se em prender e condenar aqueles que matam pessoas inocentes em nome do profeta e de Alá em vez de perseguirem uma pobre professora só porque decidiu fazer a vontade das crianças e chamar o peluche de Mohammed…

Este foi mais um exemplo de fanatismo e da influência da religião islâmica nas leis do Estado Sudanês, pois se não houvesse qualquer tipo de influência a professora nunca teria sido presa, nem tão pouco incomodada por algo deste género…

Todos são livres de escolher a sua religião e as escolhas e crenças de cada um devem ser respeitadas, por mais que não concordemos com elas, desde que não prejudique os outros.

“ A minha liberdade acaba onde começa a liberdade dos outros”

Esta situação é no meu ponto de vista e penso que no ponto de vista de todos as pessoas religiosas mas não fanáticas, uma atrocidade, um atropelo aos direitos humanos e às liberdades dos cidadãos.

Agora imaginemos que uma professora portuguesa permitia que uma turma portuguesa do 2º ano desse o nome de Maria de Lurdes Rodrigues a um peluche…

Será que a prenderiam por estar a insultar a nossa queridíssima ministra da educação?
Bem… talvez se assistisse à maior manifestação de apoio a um professor de sempre.