quinta-feira, 15 de novembro de 2007



Rússia pondera instalar mísseis na Bielorrússia

15.11.2007, Dulce Furtado

Putin afirmou no passado dia 26 de Outubro que a situação do escudo antimíssil norte-americano na Europa de Leste tem semelhanças com a crise dos mísseis cubanos de 1960


A Rússia aumentou ontem o tom da ameaça nuclear que o Kremlin vem a abraçar desde o início do ano, sugerindo a possibilidade de instalar mísseis de médio alcance na Bielorrússia, ex-república soviética vizinha da Polónia, caso os Estados Unidos persistam no projecto de estender para a Europa Central partes do Sistema de Defesa Antimíssil norte-americano (MDI)."Por que não? É possível, se estiverem reunidas as condições adequadas e houver acordo da Bielorrússia", avaliou o comandante das Forças Armadas e Balísticas da Rússia, Vladimir Zaritski, citado pela Interfax, a propósito das declarações feitas na véspera pelo homólogo bielorrusso, Mikhail Puzikov. Este último revelara um plano para armar a Brigada Militar de Mísseis da Bielorrússia com o sistema russo de rockets Iskander. Já em Julho passado, aliás, o primeiro-ministro adjunto russo Serguei Ivanov sinalizara a intenção do país de colocar mísseis às portas da Europa, em Kaliningrado, enclave russo entre a Polónia e a Lituânia.Um porta-voz do Ministério da Defesa bielorrusso garantiu que não estão negociações em curso, mas confirmou que Minsk pretende comprar e incorporar o Iskander, com alcance até 400 quilómetros, em pelo menos uma brigada de mísseis até 2020.A Bielorrússia, que os Estados Unidos avaliam como sendo a "última ditadura da Europa", tem uma situação geopolítica importante. Está ensanduichada entre a Rússia, parceira num tratado de cooperação militar assinado em 1999, e uma série de países membros ou com aspirações a pertencer à NATO. Há uma semana, aliás, Moscovo quebrou com esta organização o tratado das Forças Convencionais na Europa (CFE), pacto que o Kremlin considera "obsoleto" e alega estar a ser usado pelos Estados Unidos e pela Aliança do Atlântico Norte para "minar os interesses de defesa" da Federação Russa."Todas as acções provocam inevitavelmente uma reacção. É justamente esse o caso da expansão de elementos da defesa aérea dos Estados Unidos para a República Checa e para a Polónia", afirmou o chefe do arsenal de mísseis e artilharia russo. Reiterou ainda a firme oposição que Moscovo tem feito ao plano de Washington, anunciado em Janeiro passado, de estender para a Europa Central partes do sistema de defesa antimíssil.Os Estados Unidos querem instalar dez mísseis interceptores na Polónia e um radar na República Checa - sem que estes países tenham manifestado desacordo - com a argumentação de que se destinam a integrar um escudo de defesa para a Europa, em caso de ataques nucleares dos "Estados párias" Irão e Coreia do Norte. A Rússia pode vender à Bielorrússia mísseis Iskander, cujo alcance pode ir até 400 quilómetros.




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4 comentários:

Vasco PS disse...

“Guerra Fria II”?

O Mundo está, verdadeiramente, em constante mudança e, prova disso, são os novos desenvolvimentos nos recentes atritos entre Rússia e EUA. O projecto de instalação de um escudo anti-mísseis na Republica Checa e Polónia, tem vindo a ser bastante criticado pelos dirigentes russos, que comparam esta situação à vivida durante a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962, terminada com um recuo de acção levado a cabo por ambas as superpotências de então.

Parece, pelo menos a quem anda atento a estas coisas, que a Rússia é uma verdadeira “matrioska” política, que na sua camada interior ainda guarda a chama do poder dos velhos tempos. Com efeito, denota-se, mais recentemente, uma tentativa russa de reconquistar o estatuto que já teve, sobretudo no período que sucedeu à Segunda Grande Guerra, quando dava numa de “tête a tête” com os Estados Unidos.

No entanto, se o que lá vai, lá vai, não significa que nos novos tempos tudo se volte a modificar e que novas tensões sejam levantadas pela supremacia global. Confirma-se que os EUA vão umas boas milhas à frente, pelo menos no que diz respeito à tecnologia, poderio económico e qualidade de vida, bem como enquanto potência cultural, mãe do novo mundo globalizado.

Deixando de parte quaisquer ressentimentos face à Rússia, devemos compreender o ponto de vista do povo russo. Um mundo global de longe significa, um mundo pacificado, até porque, a própria fragmentação da ex-URSS conduziu à emergência de velhos nacionalismos, fundamentalismos e formas de terrorismo, que são um dos grandes problemas da vida actual. O desequilíbrio causado por esta desintegração da União Soviética acalmou o dia-a-dia europeu, se bem que não por muito tempo, e, exemplo disso, são os mais recentes atentados em cidades europeias.

Mais uma vez, a Europa parece estar a tornar-se um palco de disputas norte-americanas e russas, porque se é fácil para nós ocidentais acreditar que os EUA apenas nos querem defender de possíveis ataques por parte do Irão e Coreia do Norte, também podemos, enquanto indivíduos instruídos, imaginar o que sente o povo russo ao verem ser instalados à suas portas, um sistema de mísseis.

Apesar de tudo isto, não convém esquecer, que agora boa parte dos países europeus fazem parte da UE, baseados na união pela Paz. E, não convém, também, esquecer, que os países receptores deste sistema anti-mísseis são alguns dos mais recentes membros da EU. Ora, como é que se sentirão os bons e cordiais países fundadores da União Europeia, ao verem os seus novos companheiros a serem tão bem “conduzidos” pelos EUA? Bem, se a descrição fosse a de uma orquestra que deve funcionar como uma só, então alguns destes países andam bem fora da melodia e seguem outro maestro...enfim, não andamos a tocar a mesma sinfonia, se bem me faço entender.

Não sei, sinceramente, o que esperar de toda esta trapalhada, mas como sou um “europeísta”, daqueles que anda com uma bandeirinha, sabe o nome dos Estados-membros e canta o Hino da Alegria (um pouco desafinado, bem sei), espero que a UE seja um pouco mais autónoma em relação aos interesses norte-americanos e consiga um consenso que não fira a nossa vizinha Rússia.

No fundo, tudo isto se inscreve no campo da diplomacia, mas de uma diplomacia que mexe com cristais. Tudo tem de ser muito bem pensado, planeado e conseguido, não vá a Rússia lançar o Exército Vermelho (ainda existe?), cantando o Hino da Internacional pela Europa fora e prometendo a “terra a quem a trabalha”.

Para terminar, num tom um pouco mais sério (não que eu tenha estado a brincar!), espero que os países directamente envolvidos nesta nova tensão não “se armem em espertos”, porque com estes jogos de potências não se brinca, isto não é propriamente o “Risco” (sim, o jogo de tabuleiro), nem xadrez, porque em caso de guerra os cidadãos europeus vão passar por peões...os primeiros a perder.

Unknown disse...

Pelo que podemos entender, o tom da ameaça começa a intensificar-se novamente entre os EUA e a Rússia, o que nos leva a todos a recordar a situação de tensão vivida durante a Guerra Fria (1947 a 1989). Digamos que não é das situações mais agradáveis para os outros países, nomeadamente na Europa, que a isto assistem, bem pelo contrario, pois termos dois países que tentam impor o seu poder, neste caso militar, colocando o resto do mundo em situação de mistério e de incerteza sobre o que possa acontecer e sobre as consequências que estes actos poderão vir a ter, não é de todo a melhor brincadeira para se pôr em prática na cena politica internacional.
Se bem que, podemos acrescentar que a Rússia já não tem o mesmo poderio para encarnar novamente a personagem de grande gigante ameaçador, comparativamente com aquilo que foi durante a Guerra Fria. Não se irá destacar de uma forma brilhante, comparativamente aos EUA, que neste momento são uma evidente e a maior potência mundial a vários níveis, entre eles a nível militar. No entanto, se a Rússia ainda se sente capaz de continuar (embora com menor intensidade) a fazer um pouco de frente aos EUA, também não podemos dizer que a Rússia esteja assim tão "fraquinha", logo estas ameaças têm um tom sério. É bom lembrar disso.
Desta actual situação, de tanto um como outro, estarem a construir um escudo Antimíssil, nomeadamente os EUA, que estão muito preocupados em saírem ilesos dos conflitos que eles próprios criam, a conclusão é quase certa. Podemos sempre concluir que a situação da Rússia em conjunto com a sua atitude são justificativas dos seus recentes comunicados, pois estão a sentir-se um pouco feridos com a decisão que os EUA tomaram de colocarem mísseis na Republica Checa, bem como na Polónia, para alargarem o seu escudo Antimíssil. O que ainda esta por definir, é se este escudo terá mesmo esse significado ou se por outro lado, tem é a intenção de responder na mesma moeda. Para mim a resposta é óbvia, é claro que é para responder na mesma moeda. Tento isto em conta, a atitude da Rússia não é surpreendente. Supostamente também só se estão a proteger.
Os EUA afirmam ainda a sua característica de defensores do mundo ou mesmo de "polícias do mundo", como acham que são, e que por vezes lhes causa alguns constrangimentos. Defensores do mundo, neste caso da Europa, porque a desculpa que utilizaram desta vez, e que pelos vistos esta a convencer os países onde querem colocar os mísseis, foi mesmo o argumento de que estão a defender a Europa de um possível ataque nuclear proveniente dos "Estados párias", como Irão e Coreia do Norte. Se mais uma vez a desculpa, que se esconde sempre atrás da atitude dos EUA policiarem o mundo, colar a Rússia actuará instalando também os seus mísseis na Bielorrússia, e ficarão os dois muito felizes, pois novamente estão a fazer frente um ao outro.

Soraia disse...

Bem…como todos sabem, pois eu não faço qualquer questão de esconder ( pelo contrário) eu sou uma grande admiradora dos EUA, certo ou errado é assim que eu sou.
De facto esta situação de “tensão” entre a Rússia e os EUA, faz-nos lembrar a época da guerra-fria (matéria que está bem fresquinha na nossa mente), nomeadamente a crise dos mísseis de Cuba, em 1962.
No entanto naquela época, o mundo era bipolar, isto é, havia uma divisão geopolítica entre os países de partido único e de economia de administração centralizada (os países comunistas) sob a influência da URSS e os países capitalistas, democráticos e pluripartidários, sob a influência dos EUA.

Actualmente a situação é bem diferente, pois a URSS desintegrou-se, o comunismo foi destruído e a Rússia já não tem o poderio e influência que tinha naquela época, embora seja ainda um país com grande poderio ao nível do armamento.
Como se sabe ou se diz, a história repete-se e eu temo sinceramente, que esta situação entre a Rússia e os EUA, seja um “replay” daquilo que se passou na Guerra Fria.
Por um lado entendo perfeitamente a posição dos EUA, ao pretenderem instalar mísseis na Polónia e radares na República Checa, pois na minha opinião a Europa (que nada tem a ver com este conflito, mas que devido à sua posição geográfica é sempre “metida ao barulho”) e os próprios EUA devem estar protegidos de possíveis ataques por parte da Coreia do Norte e do Irão.

No entanto temos de tentar compreender também a posição do povo russo, porque de facto deve ser deveras assustador saber que estão instalados mísseis “à sua porta” e como tal é compreensível que a Rússia faça tudo o que está ao seu alcance para se defender, incluindo instalar na Bielorrússia, mísseis com um alcance de 400 quilómetros.
No entanto e posso estar a ser injusta, penso que a Rússia vive na sombra do passado, na expectativa de voltar aos “bons velhos tempos” (ou maus como queiram) em que era uma grande superpotência e encara tudo o que é feito pelos EUA como uma ameaça, mesmo quando não o é.
Mas no meio de tantos factos e de tantos protagonistas, talvez estejamos a esquecer-nos daquela que indirectamente sai mais prejudicada desta situação, e que é sem dúvida a EUROPA!
A Europa que já na época da guerra-fria era palco de disputas entre soviéticos e americanos, décadas depois continua a ser palco de conflitos entre americanos e russos…penso por isso que está na altura da Europa se unir a todos os níveis, como se costuma dizer “cantar numa só voz” ou “remar para o mesmo lado” e deixar de parte as divisões políticas, culturais e religiosas e lutar pelo mesmo ideal, ou seja,a luta pela paz.

Espero que a Europa consiga ter autonomia e independência suficiente para conseguir sair desta situação sem “ferir” nem os EUA nem a Rússia…O que me parece que não será fácil…
Sinceramente, espero que esta situação não vá em frente e que os EUA tenham o bom senso de recuar nesta atitude, pois apesar de achar que é muito importante que a Europa e o resto do mundo estejam protegidos de possíveis ataques, acho que isto não é realmente necessário e que levará a uma situação de tensão que terá consequências gravíssimas para todo o planeta.
Espero que a Rússia e os EUA esqueçam este joguinho de superpotências e tomem consciência de que as armas que possuem não são “armas de brincar”, daquelas que se dão às crianças no Natal e de que se algo acontecer, os primeiros a sofrer e a serem literalmente atropelados por esta situação, serão os cidadãos europeus que infelizmente acabam sempre por “levar por tabela” quando há conflitos no mundo.

Paulo disse...

Para começar, gostaria de dizer que, sendo a 4ª pessoa a comentar esta notícia, é-me difícil formular uma opinião sem repetir um pouco algumas ideias já referidas. No entanto, cá vai.

Em 1º lugar, é preciso saber que o povo russo sempre foi muito orgulhoso de si mesmo, demonstrando uma atitude bastante nacionalista. Tendo isto em consideração, o mesmo povo russo nunca esqueceu a "derrota" na Guerra Fria, e por esta razão muita gente ainda aspira a um lugar de maior preponderância a nível global, inclusive por parte dos responsáveis pelo poder, sendo aqui que se encontra a principal causa dos conflitos actuais. Digo isto porque, na minha opinião, estes problemas dos mísseis na Europa não é mais que um "jogo" de poder, até porque recentes estudos demonstraram que a maior parte dos povos envolvidos (russos e norte-americanos) é a favor do desmantelamento dos armamentos nucleares dos seus respectivos países.
Deste modo, a Rússia vê a possibilidade de instalação de um escudo anti-míssil americano na Europa de Leste (República Checa, Polónia e, possivelmente, Bulgária) como uma ameaça à sua segurança nacional.

Em segundo lugar, o ambiente que rodeia toda esta problemática é completamente diferente daquele que se verificava durante a crise dos mísseis de Cuba, tal como referiu Putin à bem pouco tempo, apesar de essa situação ter evoluído de forma idêntica à actual. Existem novos conflitos regionais e novos países que pretendem fazer frente às potências "tradicionais". Seguindo este rumo de ideias, temos de admitir que o argumento utilizado pelos EUA de que apenas pretendem utilizar o escudo anti-mísseis como uma forma de defesa a países como o Irão ou a Coreia do Norte é bastante plausível. No entanto, isto parece não passar de uma desculpa, já que a rivalidade entre norte-americanos e russos se assemelha a uma ferida que nunca sarou.

Muita gente diz que estes conflitos recentes poderão dar origem a uma nova Guerra Fria, mas eu temo que desta vez possamos assistir a uma “Guerra Quente”, já que, como disse antes, o mundo apresenta hoje em dia toda uma nova organização política, económica e social bastante diferente daquilo que foi em tempos. O simples facto de que países com religiões extremistas possam apresentar obstáculos ao bom relacionamento entre os povos é um problema que não se pode ignorar, pois se durante a Guerra Fria a disputa do mundo era feita por duas superpotências, hoje em dia não é bem assim.
Além disso, a possibilidade de existência de bases militares secretas russas localizadas na Sibéria pode significar que os russos não pensam apenas agir de forma “politicamente correcta”.
Mais recentemente, a Rússia deixou de fazer parte do tratado das Forças Convencionais a Europa, o que significa que este país não terá de dar satisfações aos “aliados” do ocidente sobre o seu exército e armamento.
Além do mais, o sistema de mísseis que a Rússia pondera fornecer à Bielorrússia, o Iskander, tem uma capacidade destrutiva equivalente a uma carga nuclear de baixa potência, o que dá a entender ainda mais que isto é apenas uma resposta aos americanos.

Concluindo, penso que esta é uma situação muito preocupante para todos, sobretudo para nós, europeus, que mais uma vez nos encontramos no meio de disputas ridículas que não ajudam em nada ao desenvolvimento de uma coexistência pacífica entre todos os povos.