sábado, 19 de setembro de 2009

O segredo do 19,9 de Daniel Freitas


O Jornal Público traz na edição de hoje um artigo interessante sobre o aluno Daniel Freitas que teve, neste ano lectivo, a melhor média nacional dos alunos do 12º ano: 19,9!!!!

Vale a pena ler a notícia (apesar de longa) e perceber melhor como é que alguém consegue alcançar uma média tão elevada levando uma vida perfeitamente normal.



Se Daniel quisesse podia ser médico quando crescesse. Não quis. Chega de uma vila de Lamego à Faculdade de Engenharia do Porto com média de 19,9 e olhos postos num futuro nos EUA. "Na Microsoft, Google ou NASA." Qual é o segredo para se conseguir o que se quer?

Ainda não chegámos perto de Daniel e vemos que está a ser abordado por um estudante de capa e batina, à porta da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Quer saber se ele é caloiro. Sim, mas agora não pode ser praxado. Tem uma entrevista marcada. Daniel Freitas não é um caloiro qualquer, conseguiu uma média de 19,9 e, por isso, hoje tem mais o que fazer.
Nada de óculos, pele branca e corpo enfezado. Em vez disso, uns olhos escuros expressivos, um sorriso fácil e uma barba de três dias por fazer. Talvez uma ponta de vaidade no canto do sorriso. Mas mesmo que seja isso que está lá, Daniel tem razão para ser vaidoso, para estar orgulhoso. Conseguiu o que queria. Longe da imagem ou discurso de um típico marrão, Daniel Freitas tem uns normais 18 anos sem qualquer sinal que denuncie um excesso de esforço ou sacrifício para conseguir a melhor média da Universidade do Porto.
Falámos durante mais de uma hora e, usando propositadamente um termo da actualidade, esmiuçámos um pouco a sua vida. Vem de uma pequena vila em Lamego, chega ao Porto com uma notável nota de pauta e quer chegar até aos EUA. Dentro de dez anos, espera estar a trabalhar na Microsoft, Google ou NASA. Joga computador, sai com os amigos, gosta de ver séries na televisão (Lost é a preferida, mas há muitas, muitas mais na lista) e uma das pessoas que mais admira é Ricardo Araújo Pereira. Candidatou-se a vários cursos de Medicina mas já sabia que entrava na primeira opção de Engenharia Informática e Computação. "Candidatei-me para constatar que estava dentro dos melhores e por brincadeira com os meus colegas." Com uma nota final de 19,9, Daniel Freitas pode escolher o que queria.
A mãe é médica, o pai é advogado e tem dois irmãos: o Nuno com 14 anos e o Luís que "tem 11 anos e não dez como saiu noutra notícia". Está mais habituado a elogios, mas diz que o seu pior defeito é a teimosia quando não tem razão. "Também sou um bocadinho resmungão, vá." Não tem namorada, mas acha possível e provável que esse cenário mude nos próximos tempos. "Não ando propriamente à procura, mas o Porto tem muito mais gente." Para possíveis candidatas fica desde já o aviso: "Valorizo sobretudo as qualidades humanas", diz educadamente, acrescentando que a futura companhia tem um requisito obrigatório: "Perceber uma piada inteligente. Ter sentido de humor."
Na mesinha de cabeceira prefere os policiais de, e ele diz assim, "Sir Arthur Conan Doyle", por exemplo. Há também lugar para John Steinbeck, Kafka ou "um pouco mais comercial" José Rodrigues dos Santos e Dan Brown.
A pior nota que teve foi um 17 a Educação Física. Dos colégios de freiras e padres até à "grande cidade" do Porto, mantém o hábito de ir à missa aos domingos. E entre os jogos de computador que gosta de usar, lembra-se do terrível vício do Travin. "Tive de desligar", diz, recordando uma noite em que se levantou a altas horas só para ir à sua "aldeia" por causa da abertura de um novo servidor. Coisas que só podem ser entendidas por quem vive nestes territórios virtuais.
Mas vamos regressar aos bancos de escola. Aos bancos da escola primária e à altura em que a professora das aulas de Informática extracurriculares chamava atenção para os dotes do menino. Afinal, conta Daniel, ele era o único que não gastava as duas horas da aula em jogos de computador. Metade do tempo era para jogar, mas a outra era para explorar outros campos da máquina, escrever textos, colocar fotos nos documentos, etc. Ainda na escola primária, recebeu o seu primeiro computador, e neste Verão de 2009 teve direito ao seu mais recente equipamento, oferecido pelos pais por ter cumprido os seus objectivos. Talvez o próximo seja já um patrocínio de uma marca qualquer. "Isso é que era muita qualidade."
Portanto, Daniel cresceu. Ou Freitas, como lhe chamam por Lamego. E chamam-no muitas vezes, conta. "Sou uma pessoa popular no seio da comunidade onde estou. Pode escrever isso." Sim, que não pensem que ele é um daqueles que se fecham em casa e só pensam em estudar. "As pessoas associam os bons alunos a pessoas alheadas, marginalizadas, e eu não sou assim." O popular Freitas já fez loucuras, apanhou algumas bebedeiras e "outras coisas normais". A última coisa normal que experimentou foi a viagem de fim de curso a Loret del Mar. "Nunca tinha ido a Espanha. Gostava de viajar mais", diz, quando reparamos nas pulseiras de tecido coloridas a apertar o pulso.
É chamado para arranjar computadores muitas vezes. "E de graça." De resto, a dinheiro, nunca fez muita coisa. Um trabalho numa associação local pago pelo Instituto Português da Juventude para ajudar miúdos na biblioteca e outras coisas do género. Mais do que isso, só os trabalhos de inserção de dados de doentes que faz regularmente para a sua mãe, numa tarefa que é devidamente recompensada.

Qual é o segredo?
Qual é o segredo para se conseguir o que se quer? Daniel Freitas dá algumas pistas. "Ter atenção nas aulas", fazer os trabalhos de casa, ler a matéria dada após um dia de aulas, são algumas das tarefas que, diz, podem ocupar diariamente cerca de duas horas. Mas há mais. Daniel faz questão de distribuir os louros do seu sucesso à mãe. "Foi a minha segunda professora. A professora da casa, Acho que é essencial esse acompanhamento. Uma professora na escola tem 30 alunos, se tivermos um apoio dedicado em casa temos outro estímulo. Fazia imensas fichas com ela." Prova do sucesso da mãe de Daniel será o facto de os outros dois filhos serem também alunos com médias de nota máxima.
A partir do sétimo ano, Daniel terá começado a "libertar-se" do apoio extra e ficou por sua conta e risco. Saiu-se bem. Mesmo com umas partidas de futsal e um jogos de vólei passados no banco para lhe roubar algum tempo, Daniel manteve os bons resultados nas pautas. "Quem trabalha consegue", promete, agradecendo aos professores também. E acrescenta em jeito de conselho: "Vale a pena abdicar e sacrificar algumas coisas para ter algum sossego, algum futuro. Abdiquei de algumas saídas à noite e de alguma interacção social. Mas nada que não recuperasse depois."
Mesmo atribuindo ao suor uma grande parte do mérito - "não é tudo trabalho, mas é muito trabalho" -, Daniel diz que a sorte também tem um papel importante no curso da vida académica. "As pessoas devem seguir o que querem. Para Medicina, por exemplo, acho que é preciso ter vocação. E sei que há muita gente que tem vocação mas não tem notas suficientemente altas." São preguiçosos? "Não. Muitas vezes é falta de sorte, os exames são duros, dolorosos. Por vezes é preciso ter a estrelinha da sorte."

O que falta aprender
Daniel cresceu tanto que a partir de segunda-feira vai viver sozinho com os seus quase vinte valores na bagagem e a responsabilidade de continuar a responder às expectativas. Avisado pela mãe - "diz-me para me orientar, para não me deixar perder" -, conta manter o alto nível. Depois virá o trabalho. "Temos de ser bons e para os bons há emprego. Hoje não podemos ser medianos. Gostava de ser pioneiro em algo. Acho que terá de ser fora de Portugal porque ainda não temos muitos apoios, mas gostava de ajudar o meu país." Enquanto não ocupa um cargo numa grande empresa como a Microsoft, vai ter de se desenrascar sozinho. Na cozinha também. "Até ao Verão não sabia fazer nada, agora já sei fazer um bife, arroz seco, ovos estrelados, fritar salsichas e fazer sandes." A coisa promete, mas Daniel admite que vai passar muito tempo nas cantinas do campus universitário.
Por mais que se saiba, temos sempre muito mais para aprender. Daniel foi chamado a um gabinete de um professor, mas volta atrás e dirige-se a nós com uma dúvida sussurrada: "Como é que se trata um professor universitário?"

Fonte: http://jornal.publico.clix.pt/noticia/19-09-2009/o-segredo-do-199--do-popular-freitas-17843731.htm



1 comentário:

*Miguel* disse...

O mesmo que todos podemos fazer, isto mostra que não precisamos de ser marrões para ter boas notas, apenas seguindo algumas regras.




Rui Miguel 11ºG nº22