sábado, 20 de novembro de 2010

Cimeira da NATO em Lisboa cria novo conceito estratégico da NATO

A NATO aprovou ontem o seu "roteiro para os próximos dez anos". Um conceito estratégico que reafirma os princípios fundadores da Aliança Atlântica, ao mesmo tempo que "moderniza a forma como se defende", disse o secretário-geral, Anders Fogh Rasmussen. Foi assim cumprida a principal missão da cimeira de Lisboa, culminando mais de um ano de discussões internas, que se arrastaram quase até ao início do encontro, face às divergências entre a França e a Alemanha a propósito das capacidades de dissuasão.

"É um momento histórico", disse Rasmussen, empunhando o documento que foi a prioridade do primeiro ano do seu mandato. Um texto de 11 páginas que visa tornar a "NATO mais eficaz, envolvida e eficiente" e que, explicou, não se limita a enunciar princípios, mas contém "um plano de acção, com medidas concretas, que podem começar a ser aplicadas já amanhã.

A nova doutrina reafirma o compromisso "insubstituível" de que "um ataque a um é um ataque contra todos" mas, vinte anos depois do fim da Guerra Fria, sublinha que a agressão pode não se materializar em invasões ou bombardeamentos aéreos. Pode nascer no teclado de um computador ou no caos de um Estado falhado. "O mundo está a mudar e temos de nos assegurar de que a NATO continua a ser tão eficaz como sempre", sublinhou Rasmussen. Para enfrentar as novas ameaças, é preciso "investir em capacidades-chave", avisou, num recado claro aos aliados europeus, a maioria dos quais chega a Lisboa depois de anunciar reduções nos seus orçamentos de defesa.


O novo conceito estratégico da NATO

PrincípiosA segurança dos membros da NATO nos dois lados do Atlântico é indivisível e será defendida na base nos princípios da solidariedade, sentido comum e justa distribuição de tarefas.


Segurança
Além das ameaças convencionais que não podem ser ignoradas, novos riscos como a proliferação de mísseis balísticos, os ciberataques, o tráfico de pessoas, o extremismo e o terrorismo põem em causa a segurança dos cidadãos dos países da NATO.


Defesa
Prevê o desenvolvimento de um sistema de defesa contra ataques de mísseis balísticos, com a cooperação da Rússia e de outros parceiros euro-atlânticos.


Não-proliferação
Reafirma compromisso com promoção do desarmamento e mantém que enquanto existirem armas nucleares, a NATO será uma aliança nuclear.


Alargamento
Consagra a possibilidade do alargamento às democracias europeias que cumpram os requisitos para a entrada na NATO.


Parcerias
Reafirma que a NATO não representa nenhuma ameaça para a Rússia e consagra a importância da cooperação com Moscovo.


NATO anuncia acordo histórico com a Rússia - Moscovo aceita colaborar com o sistema de defesa anti-míssil da Aliança

Pela primeira vez na história, a NATO e a Rússia, os dois blocos inimigos da Guerra Fria, vão colaborar, no âmbito do sistema de defesa anti-míssil.

"A cimeira de Lisboa assinala o início de um período de conversações e de cooperação e de um conselho Rússia-NATO cada vez mais valioso", declarou o secretário-geral da organização de defesa atlântica.

"Estou muito satisfeito porque o Presidente Dmitri Medvedev aceitou a nossa oferta. Vamos iniciar a nossa cooperação na defesa anti-míssil", sublinhou Rasmussen.

Os 28 países aliados concordaram ontem com a instalação de um novo sistema de defesa anti-míssil em território europeu, que consiste numa rede integrada de radares e interceptores móveis capazes de deter mísseis de médio e longo alcance.

Um sistema semelhante proposto pelo anterior Presidente dos Estados Unidos George W. Bush esbarrou com a oposição frontal do seu homólogo russo Vladimir Putin. Mas uma nova fase no relacionamento entre os Estados Unidos e a Rússia, inaugurado pelos Presidentes Barack Obama e Dmitri Medvedev, criou margem de manobra para negociar um novo sistema.

"A Rússia tem a certeza que o escudo anti-míssil não está dirigido na sua direcção", frisou Rasmussen.

Os membros da NATO e a Rússia discutiram ainda a cooperação em matérias como o combate ao terrorismo e à pirataria e o apoio de Moscovo à missão militar em curso no Afeganistão.

Anders Fogh Rasmussen anunciou ainda que uma nova cimeira de chefes de Estado e de Governo dos países da NATO vai ser realizada nos Estados Unidos em 2012.

Fonte: Público

Para muitos analistas de política internacional, trata-se, de facto, do fim da Guerra Fria.

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