quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Irlanda: A ascensão e queda do “tigre celta”


As notícias do dia de hoje, chamam a atenção para a situação financeira da Irlanda que é um dos países da UE que neste momento está a atravessar maiores dificuldades, juntamente com a Grécia e Portugal. As taxas de juro da Irlanda a dez anos estão a superar os nove por cento no mercado secundário, e continuavam a subir ao início da tarde, numa altura em que as portuguesas iam nos 7,244 por cento (às 13H15), e torna-se cada vez mais provável que aquele país precise de uma intervenção externa para auxílio financeiro, antes de Portugal poder ter de recorrer a um apoio do mesmo tipo.

É impressionante constatar como um país como a Irlanda, que ainda há uma década constituía um modelo de crescimento económico para toda a União Europeia, ao ponto de lhe terem chamado de "Tigre celta"(por analogia com os chamados tigres asiáticos, ou seja, os países asiáticos que registam elevadas taxas de crescimento económico), e agora vê-se numa situação financeira tão dramática que leva alguns analistas a temer que lhe aconteça o mesmo como à Islândia, ou seja a insolvência (não ter capacidade para respeitar os seus compromissos financeiros). O que se passou para chegar a este ponto?

Hoje o Jornal Público traz um artigo muito interessante que explica o que se passou com a Irlanda e que vale a pena ler de seguida.


Irlanda: A ascensão e queda do “tigre celta”
A Irlanda é, na Zona Euro, o país que mais está a sofrer com a crise internacional. Os números não deixam margem para dúvidas. Em 2008, a economia recuou logo três por cento e, para este ano, o Governo já está a antecipar uma contracção do PIB de oito por cento, o pior resultado entre os países do euro. A economia irlandesa está a apenas um passo do colapso, já que, na eventualidade de falência de algum dos seus maiores bancos (todos a passarem por sérias dificuldades), o próprio Estado irlandês pode deixar de cumprir os seus compromissos, tranformando a Irlanda numa nova Islândia, mas com dimensão maior.

Para trás, quase esquecido, parece ter ficado o que ficou conhecido como o “milagre irlandês”. Entre 1990 e 2007, o rendimento per capita dos irlandeses passou de um valor que era 75 por cento da média dos primeiros quinze membros da União Europeia, para um valor que, em 2007, foi o segundo mais elevado da UE (apenas atrás do Luxemburgo) e superior em um terço ao registado pelos seus parceiros.

A receita usada foi das mais estudadas nas últimas décadas. A Irlanda fez uma aposta inicial na educação e criou assim mão de-obra qualificada, e, a partir daí, fez todo o possível para atrair Investimento Directo Estrangeiro (IDE). Os impostos sobre as empresas caíram para mínimos, as subidas dos salários foram limitadas, os mercados de trabalho e produto desregulados e aproveitou-se o facto de a língua mãe ser o inglês. A estratégia resultou e as multinacionais de origem norte-americana escolheram a Irlanda como plataforma para os seus negócios para a Europa, fazendo explodir as exportações.

O problema veio com a crise internacional. As multinacionais norte-americanas, com grande problemas em casa, desinvestiram, e as exportações, com a procura internacional em queda, contraíram-se. O aperto do crédito pôs também à vista outra característica do crescimento irlandês dos últimos cinco anos: a criação de uma bolha especulativa de preços no mercado imobiliário, que desde 2008 se está a esvaziar.

Para além disso, como defendeu recentemente o economista Paul de Grauwe, as economias mais flexíveis e menos reguladas são as que, nesta fase, mais ficam expostas a uma crise de quebra da procura. Por exemplo, a flexibilidade no mercado de trabalho está a levar a uma subida do desemprego mais rápida do que noutros países, o que torna a diminuição do consumo ainda mais pronunciada.

Intervalo ou ilusão?

O actual colapso da economia, pela sua gravidade, relançou a discussão sobre a viabilidade do modelo irlandês. Será que tudo não passou de uma ilusão que se pagará agora bastante caro ou estaremos apenas a passar por uma interrupção temporária da expansão económica que rapidamente vai ser retomada?

Entre os defensores de sempre do modelo irlandês, como o deputado do PSD Miguel Frasquilho, ou as agências de notação financeira internacionais (ver entrevista em baixo), é o segundo cenário que vence. Reconhecendo “a situação muito negativa actual”, Frasquilho, que tem proposto a aplicação de um “choque fiscal” semelhante ao da Irlanda em Portugal, diz que o país não perdeu as qualidades que lhe garantiram o crescimento no passado e confia que, “quando os EUA arrancarem, a Irlanda será dos primeiros países a recuperar”. “Certamente mais rápido e mais forte do que Portugal”, afirma.

Já Carlos Santos, professor da Faculdade de Economia da Universidade Católica no Porto, tem menos confiança no sucesso do modelo irlandês. “Não sei se o modelo está ou não errado. O que se pode concluir é que, à semelhança do que está a acontecer nas economias do Leste Europeu, as pessoas não aprendem a viver numa economia de mercado de um momento para o outro e sem que se crie um enquadramento institucional adequado”, afirma.

Para já, o Governo parece, nas medidas que está a tomar, não querer abdicar totalmente das políticas da década anterior, continuando a apostar na contenção salarial e nos impostos baixos para as empresas. Os próximos anos dirão se, após o colapso, o “milagre irlandês” pode voltar a funcionar

Fonte: http://economia.publico.pt/Noticia/irlanda-a-ascensao-e-queda-do-tigre-celta_1375158

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