segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Amigos para sempre

Não resisto a transcrever um artigo de Miguel Esteves Cardoso que foi publicado na sua coluna habitual do jornal Público (Ainda Ontem) no passado dia 5 de Fevereiro. É, provavelmente, um dos melhores e mais belos textos que alguma vez li sobre o que são os amigos, o que significa a verdadeira amizade e como o tempo não leva as verdadeiras amizades.


Amigos para sempre

Os amigos cada vez mais se vêem menos. Parece que era só quando éramos novos, trabalhávamos e bebíamos juntos que nos víamos as vezes que queríamos, sempre diariamente. E, no maior luxo de todos, há muito perdido: porque não tínhamos mais nada para fazer.

Nesta semana, tenho almoçado com amigos meus grandes, que, pela primeira vez nas nossas vidas, não vejo há muitos anos. Cada um começa a falar comigo como se não tivéssemos passado um único dia sem nos vermos.

Nada falha. Tudo dispara como se nos estivera - e está - na massa do sangue: a excitação de contar coisas e a alegria de partilhar ninharias; as risotas por piadas de há muito repetidas; as promessas de esperanças que estão há que décadas por realizar.

Há grandes amigos que tenho a sorte de ter que insistem na importância da Presença com letra grande. Até agora nunca concordei, achando que a saudade faz pouco do tempo e que o coração é mais sensível à lembrança do que à repetição. Enganei-me. O melhor que os amigos e as amigas têm a fazer é verem-se cada vez que podem. É verdade que, mesmo tendo passado dez anos, é como se nos tivéssemos visto ontem. Mas, mesmo assim, sente-se o prazer inencontrável de reencontrar quem se pensava nunca mais encontrar. O tempo não passa pela amizade. Mas a amizade passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto ela há. Somos amigos para sempre mas entre o dia de ficarmos amigos e o dia de morrermos vai uma distância tão grande como a vida.

Miguel Esteves Cardoso in Público, 5 de Fevereiro de 2011.

5 comentários:

Unknown disse...

verdade...Há que mudar

Unknown disse...

não conheço maior verdade que até pareça mentira Maria Alice Martins

cris disse...

... saudade dos meus amigos ( antigos e tb os novos )...Sco esse lance de tempo, separações, né?
Gostei e "curti" sua discussão sobre amizade, me fez recordar algumas vozes adormecidas dentro de mim.
Obrigada sempre e sucesso !
Cris

Eduardo Vales disse...

Obrigado Cris. Desejo o mesmo para si.

Eduardo Vales

De perto ninguém é NORMAL disse...

Perfeito ,real e inspirador .