sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Eventos meteorológicos extremos em 2010

Segundo o Relatório Anual do Clima 2010 do Instituto de Meteorologia, o ano de 2010 foi o ano mais chuvoso da última década em Portugal Continental, mas com o Verão quente e seco. Passo a transcrever o resumo elaborado pelo Instituto de Meteorologia.

O valor total anual da precipitação, em Portugal Continental foi de 1063 mm, superando em quase 20% o valor normal de 1971-2000. Destaca-se também o valor anual ocorrido em Lisboa, 1598mm, o mais elevado desde o início das observações na Estação Meteorológica do Instituto Geofísico (1870). No entanto, entre Abril e Setembro os valores de precipitação foram inferiores ao valor médio, realçando-se os meses de Julho, Agosto e Setembro, tendo mesmo Julho e Agosto sido os mais secos dos últimos 24 e 23 anos, respectivamente.

No que diz respeito à temperatura, em Portugal Continental, o ano de 2010, caracterizou-se por valores médios da temperatura máxima, mínima e média do ar superiores aos valores médios (1971-2000). Para este facto contribuíram as temperaturas observadas durante o Verão, o qual foi o 2º com as temperaturas máxima e média do ar mais elevadas desde 1931. Os valores da temperatura máxima mensal nos meses de Julho e Agosto foram respectivamente, o valor mais alto e o 2º valor mais alto observados nesses meses desde 1931.

As temperaturas elevadas e a precipitação, com valores inferiores ao valor normal, que se registaram durante o Verão, em Portugal Continental, criaram condições favoráveis para a ocorrência de fogos florestais.

Nos arquipélagos da Madeira e Açores destacam-se os valores da quantidade de precipitação anual superiores aos valores normais de 1971-2000, tendo-se verificado anomalias positivas significativas, designadamente no Funchal, + 872,6 mm, e Santa Maria, 630,8 mm, que registaram as maiores anomalias nos respectivos arquipélagos.

Deve salientar-se ainda a ocorrência de eventos extremos que tiveram impactos socio-económicos gravosos, com perda de vidas e bens, como as cheias na Madeira em Fevereiro, e no Continente, com a ocorrência de tornados, como o que atingiu a região Centro do País em Dezembro, e 4 ondas de calor, durante o Verão.

Pode explicar-se esta situação de episódios meteorológicos adversos com o comportamento da Oscilação do Atlântico Norte (North Atlantic Oscillation - NAO), que é um dos principais modos de variabilidade lenta da atmosfera que afecta a região Euro-Atlântica, e Portugal Continental em particular.

O índice NAO está relacionado com a intensidade do vento dominante nas latitudes médias, isto é os ventos de Oeste. Deste modo a NAO modula o fluxo de ar Atlântico para o Continente Europeu, bem como a trajectória dominante de sistemas depressionários nas latitudes médias, influenciado a precipitação e temperatura em várias regiões da Europa. No caso de Portugal Continental, a variabilidade inter-anual e inter-decadal da precipitação de Inverno encontra-se fortemente correlacionada com as correspondentes variações do índice NAO. As observações indicam que a valores baixos do índice NAO estão associadas quantidades de precipitação acima da média em Portugal, enquanto valores elevados deste índice correspondem a quantidades de precipitação abaixo da média.

O recente Inverno de 2009/2010 foi caracterizado por valores de recorde negativo do índice NAO à escala mensal e sazonal. Esta circulação anómala teve implicações directas no clima particularmente frio na Europa Central e Setentrional. Por outro lado o padrão essencialmente negativo da NAO induziu trajectórias de baixa latitude para muitos sistemas depressionários (entre o arquipélago dos Açores e a Península Ibérica). Estes sistemas e respectivas frentes produziram grandes quantidades de precipitação nos sectores Oeste e Sul da Península Ibérica (incluindo novos recordes absolutos de Inverno em Gibraltar e Lisboa) desde o início das medições regulares a segunda metade do século XIX.

Fonte: Instituto de Meteorologia

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