domingo, 6 de julho de 2008

Homenagem a Aniki Bóbó

A Casa da Música assinala hoje os 100 anos de Manoel de Oliveira com uma revisitação à sua primeira longa-metragem, "Aniki Bobó", através de um projecto de alcance comunitário. De regresso aos cenários naturais do filme - as zonas ribeirinhas do Porto e Gaia - pretendeu-se recriar a história intemporal de Carlitos e seus companheiros numa perspectiva contemporânea. De carácter multidisciplinar, o projecto incorporou música, vídeo, dança e teatro, num trabalho de equipa que englobou artistas profissionais e pessoas que residem nos locais onde o filme foi rodado, sobretudo crianças e jovens. Integrado no plano de compromisso da Casa da Música com as diferentes comunidades, tendo em vista a sua integração social e uma participação activa na vida cultural, este projecto permitiu desenvolver um trabalho contínuo, ao longo de vários meses, num tecido urbano tradicionalmente associado a situações de exclusão. A história, o local e as imagens do primeiro filme de ficção de Manoel de Oliveira são elementos que integram uma peça original, conduzida por profissionais que vêm cooperando de forma regular com a Casa da Música. É o caso do violoncelista Ernst Reijseger. Um dos mais eclécticos músicos da actualidade, com vasta experiência de ensino e de orientação de diferentes grupos escolares, Reijseger encontra assim "Aniki Bobó" pela primeira vez, o que o dota das condições ideais para desenvolver uma criação dignificadora da obra do realizador portuense, mas desempoeirada e livre de interpretações antigas. Nasce, desta forma, um novo olhar sobre um filme que já conta 66 anos. Sob a coordenação de Reijseger, são envolvidos na concepção desta obra musical alunos de várias escolas vocacionais, músicos profissionais e outros artistas, bem como elementos sem qualquer formação especializada, gente nascida nas zonas ribeirinhas. E esta será talvez uma das maiores homenagens que se pode fazer a Manoel de Oliveira e a "Aniki Bobó": levar para o primeiro plano protagonistas da vida real. O projecto conta ainda com a participação do coreógrafo, bailarino e percussionista António Tavares, profissional com vasta experiência de trabalho em comunidades, particularmente junto de crianças e jovens. À mega-equipa associa-se também um jovem realizador de vídeo ou cinema, ainda a designar e que estabelecerá paralelismos, através do registo de imagem, entre o filme de 1942 e a peça de 2008, bem como músicos, actores e bailarinos de várias proveniências e idades, com particular presença, naturalmente, de crianças e jovens. O projecto desenvolveu-se de Fevereiro a Julho, mas a intenção é deixar nos seus diversos intervenientes - sobretudo as escolas envolvidas e comunidades locais - uma base para trabalhos futuros que conduzam a novos projectos de intercâmbio social e cultural.
Anikibebé
Anikibobó
Passarinho
Totó
Berimbau
Cavaquinho
Salomão
Sacristão
Tu és polícia
Tu és ladrão!
Rodado em 1942, decorria a II Guerra Mundial, "Aniki Bobó" é bem mais do que uma singela história interpretada por crianças. Através de Carlitos e seus companheiros de brincadeira de rua, o espectador é confrontado com questões intemporais e dilemas existenciais que acompanham o ser humano em todas as etapas da vida. Baseado no conto "Meninos Milionários", de Rodrigues de Freitas, "Aniki Bobó" (nome que Manoel de Oliveira "roubou" de uma melopeia então comum em brincadeiras de criança) aborda de forma peculiar a (difícil) escolha entre o Bem e o Mal, numa história protagonizada por crianças pobres. Carlitos, um menino sonhador alvo dos ataques de Eduardo, líder do grupo de rapazes, apaixona-se perdidamente por Teresinha, ao ponto de roubar uma boneca da "Loja das Tentações" para lhe oferecer. Desenvolve-se assim um enredo simples, do princípio ao fim, que vive mais da imagem do que do diálogo, onde pululam subtilezas sobre condição e relação humanas. Referência da cultura portuguesa e aclamado a nível internacional, o realizador Manoel de Oliveira é um dos nomes mais acarinhados da sétima arte europeia. Fonte de criação permanente, o cineasta completa este ano um centenário. Hoje, como sempre, leva a vida a um ritmo imparável e surpreendente.


Eis o vídeo de homenagem ao fime Aniki Bóbó, de Manuel de Oliveira, que faz uma mistura interessante das imagens do filme original, rodado em 1942 na Ribeira do Porto e interpretado por crianças dessa zona da cidade, com imagens recentes rodadas em bairros sociais da cidade e com jovens desses mesmos bairros - o passado e o presente!

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