Paisagem observada a partir da linha do Corgo As linhas do Corgo (Régua a Vila Real) e do Tâmega (Livração a Amarante) estão encerradas "por tempo indeterminado" desde ontem à noite, numa ordem dada em cima da hora pela administração da Refer que, em segredo, acordou com a CP um serviço de substituição rodoviário. O motivo oficial é a reabilitação daquelas linhas, mas a empresa não tem qualquer calendarização para iniciar os trabalhos, não dispõe dos projectos para tal e não abriu qualquer concurso público. Ontem à noite, o maquinista da automotora que costuma ficar na estação de Vila Real recebeu ordens para a trazer de volta à Régua antes da meia-noite, numa operação que faz recordar a forma como há 16 anos encerrou a linha do Tua (entre Mirandela e Bragança) com as composições a regressarem vazias durante a noite para evitar a contestação das populações. O PÚBLICO apurou que a Refer e a CP preparavam esta operação há já alguns meses, mas decidiram não a divulgar, preferindo fazê-lo em cima da hora. Ontem, às 21h, os sites das duas empresas não traziam ainda qualquer informação sobre esta suspensão. A ordem apanhou de surpresa os ferroviários da estação da Régua e da Livração que, subitamente, ficaram a saber que hoje já não haveria comboios para Vila Real e Amarante. Para a CP, que também omitiu estas alterações aos seus clientes, esta situação é vantajosa visto que o serviço é deficitário e poupa agora no combustível e no desgaste das composições, com a vantagem de ser a Refer a pagar os autocarros de substituição. Ao contrário da linha da Figueira da Foz a Cantanhede e Pampilhosa, que encerrou no início do ano na sequência de um relatório que pôs em causa a segurança da circulação, neste caso aquelas duas linhas de via estreita não aparentavam nenhum risco especial nem houve nenhum incidente que estivesse na origem da decisão. A linha do Corgo liga a Régua a Vila Real num cenário pitoresco através dos socalcos típicos do Douro. A velocidade raramente ultrapassa os 40km/hora, mas as automotoras que nela circulam são um ex-libris do turismo da região que é Património da Humanidade. O serviço alternativo em autocarro não será mais rápido devido às estradas igualmente sinuosas e terá menos passageiros dada a perda da componente de lazer. Nesta linha circulavam cinco comboios/dia em cada sentido que ligavam os 26kms entre as duas cidades em 53 minutos. No Tâmega, os 13kms de via estreita eram percorridos em meia hora com uma frequência de oito composições/dia. Num espaço de um ano a Refer "encerrou temporariamente" 134kms de linhas férreas: 42kms no Tua na sequência de um acidente, 53kms entre Pampilhosa e Figueira da Foz por razões de segurança, 45kms entre Guarda e Covilhã para efectuar obras e agora os 13 e 26kms que restavam do Tâmega e do Corgo, também por alegadas razões de segurança. Desta lista, porém, apenas decorrem obras entre a Guarda e Covilhã, estando a circulação ferroviária suspensa nas restantes sem que, por parte da Refer, haja qualquer comprometimento com datas para obras e reabertura das linhas. O investimento ferroviário em Portugal tem caído nos últimos anos, passando de 426 milhões de euros em 2005 para 307 no ano seguinte e 264 em 2007. No ano passado foram gastos na ferrovia apenas 250 milhões de euros. (Público on line, 24.03.09)
Mais uma linha ferroviária que encerra em Portugal! Se calhar este facto já não causa grande espanto tendo em conta as políticas de transportes implementadas nas últimas décadas em Portugal e que têm esquecido sistematicamente o sector ferroviário, em detrimento do rodoviário. É mais uma má notícia para o desenvolvimento regional das áreas do interior e para todos aqueles que, como eu, têm uma grande paixão pelos comboios.
É o país que temos e que, se calhar, merecemos.
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