sábado, 5 de janeiro de 2008

A democracia e o continente africano


Após mais um dia de batalhas entre a polícia e os manifestantes
Quénia: Presidente apela à calma e oferece-se para dialogar com rivais políticos

03.01.2008 - 15h23 Agências

O Presidente queniano, Mwai Kibaki, cuja reeleição, nas recentes eleições de dia 27 de Dezembro, originou uma onda de violências no país, que já causaram mais de 300 mortos, apelou hoje à calma e ofereceu-se para dialogar com os seus rivais políticos, após mais um dia de batalhas entre a polícia e os manifestantes."Estou preparado para dialogar com as partes interessadas quando a nação estiver calma e as temperaturas políticas tiverem baixado o suficiente para um compromisso construtivo e produtivo", afirmou Kibaki aos jornalistas.As violências já custaram a vida a mais de 300 pessoas e ameaçam estilhaçar a reputação de uma das mais promissoras democracias africanas e uma das mais sustentadas economias do continente. O Banco Mundial já alertou que a onda de violências poderá afectar toda a estrutura económica dos países vizinhos do Quénia.A oposição queniana, liderada por Raila Odinga, cumpriu hoje a sua ameaça e milhares de apoiantes da sua candidatura - que saiu derrotada nas eleições do passado dia 27 de Dezembro - saíram hoje às ruas de Nairobi. O Presidente Kibaki acusou ontem o seu rival político de "genocídio" e "limpeza étnica" pela onda de violências políticas.De acordo com a Reuters, os manifestantes marcharam por uma das principais estradas de Nairobi, bloqueando praças e ruas, ao passo que alguns agentes perseguiram seguidores de Odinga que transportavam paus.De acordo com a AFP, dois deputados da oposição foram detidos pela polícia em Kisumu (oeste do país), por terem incitado os partidários de Odinga a manifestarem-se, indicou fonte policial.O procurador-geral do Quénia, Amos Wako, estimou igualmente hoje ser "necessário" levar a cabo um inquérito "independente" sobre as eleições gerais do passado dia 27 de Dezembro. A situação vivida actualmente é uma luta de poder entre o maior grupo, os kikuyu, ao qual pertence o Presidente e que tradicionalmente detém o poder, e os luo, terceiro maior grupo, ao qual pertence o líder da oposição, Raila Odinga.


Fonte: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1315536 (neste site podes visualizar um pequeno vídeo complementar à notícia)


Comenta a situação que se está a viver no Quénia, reflectindo sobre a problemática da implantação da democracia nos Estados africanos. Será que é possível implantar uma verdadeira democracia nos Estados africanos? Estarão os povos africanos preparados para viver em democracia?

7 comentários:

Vasco PS disse...

"Estava a Ilha à terra tão
chegada,
Que um estreito pequeno a dividia;
Hua cidade nela situada,
Que na fronte do mar aparecia,
De nobres edifícios fabricada,
Como por fora, ao longe, descobria,
Regida por um Rei de antiga idade:
Mombaça é o nome da Ilha e da cidade."

Os Lusíadas, Canto I

“Demo-África: as graças e desgraças de uma democracia do demo”

O assunto não é novo. Já anteriormente foram expostas neste blogue notícias e perspectivas que reflectem bem a opinião de todos acerca da falta de democracia em África. Eu sou optimista. Espero que tudo se resolva rapidamente e o Quénia deixe de ser título de jornais por tão maus motivos, mas sim por outros, que reflictam paz, liberdade, democracia.

O facto destes recentes conflitos terem ocorrido no Quénia, uma das nações mais equilibradas e que tem dado um dos melhores exemplos de esforço democrático entre os países africanos, entristece e preocupa. Quando os bons exemplos se tornam maus exemplos, perde-se a esperança. Relembro que este conflito, segundo dados da ONU, ter-se-á já traduzido em cerca de 250 mil deslocados, meio milhão de pessoas afectadas e, numa região a norte do país, 100 mil quenianos a necessitar de ajuda imediata. Para além de que, a crise nesta nação está a agitar toda a região oriental de África, sentindo-se já os efeitos da violência no Uganda, Ruanda e Burundi, países vizinhos, que dependem dos combustíveis que entram no continente pelo porto de Mombaça. Daí a minha referência inicial a este porto, no passado já dominado por portugueses, o que é revelador da importância que alguns locais têm sempre ao longo da História.

Seria de facto, uma espécie de tradição se prolongasse mais este comentário. Mas decido não o fazer. Este é mais um caso, com factos aceites pela comunidade internacional, com números, os da morte e insucesso. Já foi referida uma possível solução para o problema, talvez várias. Não importa. Não podemos estar sempre a arranjar soluções para tudo. Tem de ser conseguida uma solução queniana, elaborada por quenianos para quenianos, que se baseie no respeito. Se não entenderam até agora o conceito de respeito, nunca entenderão o de Democracia...

Há ainda muitos passos por dar neste longo caminho. Espero que os mesmos sejam dados da forma mais acertada, não à pressa ou sob pressões, mas de forma natural, para que se solidifique o conceito e o proveito democrático. Senão, tudo continuará na mesma, e uma vida em sociedade que poderia ser feliz, continuará no já habitual (e muito triste) inferno.

Unknown disse...

Situação de conflito no Quénia

A situação de conflito actualmente vivida no Quénia, é uma situação um pouco inesperada, visto que o Quénia, era considerada uma das nações mais estáveis do continente africano. Assim sendo, não se esperava que no decorrer de um simples acto democrático, como é o de eleger um presidente para o seu país, se transformasse num cenário tão complicado e conflituoso.

Se tivesse uma Democracia bem consolidada, organizada e defendida por todos, não existiria este tipo de desfeche tão afastado do verdadeiro significado da Democracia. É por estas e por outras, que nos perguntamos se África estará ou não preparada para viver em Democracia, como todos nós, europeus, conhecemos, e não esta tentativa de se fingirem democráticos.
Se África está ou não preparada para a Democracia, como aqui se questiona, na minha opinião, África tem vontade mas ainda não tem a devida organização nos seus países nem o exigido espírito democrático, pois os seus dirigentes continuam sem saber o que isso significa na realidade. Assim, temos de ser compreensivos e concluir que se o povo africano nunca viveu numa verdadeira Democracia e que muitos nem sabem o que isso significa nem o que representa, entao deste ponto de vista, o povo africano, na sua maioria, ainda não tem uma opinião devidamente formada para se saberem comportar numa sociedade democrática e para saberem lutar pelos seus direitos.

Se o povo não se sabe argumentar, nem defender para procurar lutar por aquilo que seria verdadeiramente necessário para a melhoria das suas condições de vida, entao vai ser muito complicado que o consigam em breve.
No entanto, esta realidade piora quando os próprios dirigentes, apesar de saberem o que deveriam fazer e apesar de terem consciência de que muitos dos actos que cometem não estão de acordo com as regras da Democracia, mesmo assim não têm qualquer problema em desenvolve-los e pô-los em pratica para seu próprio beneficio pessoal.
Exemplo disto, é a origem do recente conflito no Quénia, pois tudo teve origem devido a uma suspeita de manipulação dos votos. É claro que tal atitude não foi bem aceite pelos restantes candidatos, nomeadamente, por Raila Odinga, sendo este o líder da principal oposição ao governo de Mwai Kibaki. Entre os diferentes apoiantes as disputas tomaram conta do dia a dia do povo queniano. Estes acontecimentos e conflitos entre os populares vêm confirmar que esta luta pelo poder entre os kikuyu e os luo, principal grupo e terceiro principal grupo na luta pelo poder, respectivamente, são vividas muito a sério pelo povo queniano.

Para concluir, penso que estes conflitos devem ser resolvidos rapidamente para que não se prejudique ainda mais a reputação do Quénia, até agora, visto como um país estável, e para que não abale mais a sua economia, nem diminuam os fluxos turísticos para o país, pois tem ao longo dos anos tirado proveito da sua costa para o oceano indico, para evoluir o seu turismo.
Ainda para mais à sua volta existem países, como a Somália, a Etiópia e o Sudão, com graves conflitos a decorrer e que já por si trazem consequências negativas. Mais um país em conflito naquela região não ia melhorar em nada a situação.

Soraia disse...

Quénia… democracia de facto ou “pseudo-democracia”?

África…mais uma vez na boca do mundo e mais uma vez pelos piores motivos. Inesperadamente, um dos países africanos mais estável, a República do Quénia assistiu a uma onda de violência que resultou na morte de 300 pessoas. Esta violência deve-se à reeleição do presidente Mwai Kibaki, no passado dia 27 de Dezembro de 2007. Esta situação faz-nos pensar que de facto a democracia deve resultar de um processo evolutivo e não ser implantada de um momento para o outro, embora haja países que o conseguiram, como o Japão.

O Quénia é no meu entender, um exemplo de esforço para a implantação de uma verdadeira democracia, embora os recentes acontecimentos tenham abalado um pouco a minha crença. Penso que implantar uma democracia de facto, no verdadeiro sentido da palavra, será um pouco difícil, pois em África por muito que custe admitir, os sistemas tribais ainda permanecem, impedindo que a democracia funcione. Prova disso, é o facto de um conflito que se iniciou no Quénia, estar já a ter consequências violentas nos países vizinhos, como o Uganda, o Burundi e o Ruanda, muito dependentes dos combustíveis que importam do Quénia.
Tenho muita pena, que um país como o Quénia, que tem realizado um grande esforço no sentido da democracia, veja todos os seus esforços deitados por terra, devido à fraude que manchou as últimas eleições no país.

O Quénia, é um país que vive da exportação de produtos primários (chá, café, cana de açúcar) e que tem um enorme potencial ao nível do turismo, principalmente na zona de Mombaça, no litoral (onde se situa o porto de Mombaça) e na savana queniana (interior).
Este país africano, situa-se numa zona que é uma autêntica bomba prestes a explodir, tendo vizinhos como o Burundi, o Uganda e Ruanda, que são muito instáveis, no entanto acredito que o Quénia é dos países africanos mais seguros (visto o número de portugueses no país) e que reúne as melhores condições para funcionar numa verdadeira democracia e desenvolver uma economia sustentável.

Bem, não me vou alargar mais neste comentário, pois acho que quem deve escrever as próximas páginas deste livro, são os quenianos, que devem lutar pela democracia e pela paz no seu país.

Acredito que a situação irá melhorar e espero sinceramente que seja o mais rápido possível.

R disse...

"A confusão é total e o Quénia, exemplo de estabilidade económica e política para os países vizinhos, está à beira da guerra civil, por causa de uma votação que nem a própria comissão eleitoral sabe dizer quem ganhou."; "Confrontos tribais já provocaram 100 mil desalojados "

http://sic.sapo.pt/online/noticias/mundo/20080103QUENIA.htm

Estas frases são exemplos de muitas que nestes últimos dias ouvimos dos órgãos de comunicação social. E agora é caso para perguntar: porquê
"invadir" um telejornal com notícias de conflitos em África se eles ocorrem todos os dias? A resposta é simples e curta: Passam-se no Quénia.
O Quénia era, até hoje, um dos poucos países que possuí uma democracia que se aproxima mais do modelo europeu e americano. Assim, as ligações do país com os países europeus e com os EUA são bastante fortes. O Quénia vive essencialmente do turismo: o turismo do litoral em Mombaça e o turismo de "elite" no interior das savanas Quenianas. É, por isso, um país seguro e procurado por muitos europeus e americanos. Estes conflitos que se vivem actualmente, devido sobretudo à suspeita de umas eleições furjadas e injustas que fizeram com que a oposição ao regime político de Mwai Kibaki se revoltasse, deixam o país com um grande peso na economia do mesmo e dos seus vizinhos (Sudão, Etiópia, Somália, Tanzânia e Uganda), pois o turismo irá ter algumas dificuldades a partir de agora e as ligações entre o Quénia e os países vizinhos irão piorar substancialmente.
Um país que funcionava como uma espécie de Oásis no meio de tanta desgraça, está agora semelhante aos restantes vizinhos e enquadrado no panorama geral de um país Africano....

Joana Santos disse...

De certo que as populações africanas anseiam pelo dia em que se poderão afirmar como sociedades democráticas mas a realidade é bem diferente. As condições necessárias não se avistam o que dificulta ainda mais a realização deste desejo.
A contrariar estas afirmações tínhamos o caso Quénia, um caso diferente dos outros, no qual vivia-se uma democracia ou pelo menos tentava-se fazer jus ao nome. Mas como é possível existir tal democracia se quando se elege um novo presidente (Mwai Kibaki) desenrola-se uma manifestação de tal tamanho que origina mais de 300 mortos? Será isto o significado de democracia?
A meu ver não. A população tem o direito de se apresentar no dia de eleições e fazer a sua escolha, daí o resultado que surgir terá que ser aceite por toda a população. Não quero com isto descriminar o povo africano, mas a verdade é que de certo modo eles devem se sentir tão rebaixados, tão deixados de lado que a única maneira de se fazerem ouvir será provocando as entidades superiores. Eles foram abandonados pelos seus colonizadores sem condições nenhumas de prosseguirem a vida. Eles vêm os outros países europeus, americanos e asiáticos com democracias prósperas onde apesar de todas as controvérsias acabava-se sempre por chegar a um bom senso e o desenvolvimento prossegue-se. Mas e em África? É isto que acontece? Seremos os únicos a ser culpados pela sua miséria? Também não. E de certo eles não deveriam estar dependentes de nos (países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento) para terem o pão e água de cada dia, deveriam ser subsistentes mas isso só acontecera se tiverem um pequeno empurrão para que estes se possam lançar no mundo Terra e não no mundo África. Mas será que a Cimeira União Europeia – África tem motivos e meios suficientes para ajuda-los? Mas será obrigado a faze-lo? … África fica a perder na medida que não consegue ter uma democracia para poder cooperar com a ajuda externa.
Só para finalizar. Será que numa democracia se pressupõe que é legal haver “controlo” de votos?

Várias questões se colocam mas a resposta mantém-se, África ainda nao está preparada para uma democracia, não com todos os aspectos que se implicam.

Maria Joao disse...

Democracia ou pseudo-democracia?

Considero que a actual situação do Quénia, já que é considerada uma nação bastante estável, das menos conflituosas até do continente africano.
A meu entender o Quénia é, de facto, o país Africano que mais se tem esforçado de modo a conseguir implantar uma verdadeira democracia, porém, como podemos ver por este recente acontecimento, não tem sido nada fácil. Bem sabemos que implantar uma democracia em África não é nada fácil, refiro-me a prática e não à teórica. Os sistemas tribais ainda permanecem em muitos dos países, tornando-se, assim, um real obstáculo no caminho para a democracia. Nada melhor para exemplificar este facto é a acutal situação no Quénia, pois não só está a afectar o próprio país, mas também os “vizinhos”, entre os quais Burundi e Ruanda.

Segundo o que tenho lido nos últimos dias, após esta onda de violência que tomou conta do Quénia nas últimas duas semanas, governo e oposição parecem mais receptivos ao diálogo, isto apesar de manterem posições opostas quanto à resolução do deferento pós-eleitoral. Os desenvolvimentos mais recentes permitiram a pacificão do território. De acordo com Odinga, os dados finais da Comissão Eleitoral, que dão a Kibaki uma vantagem de 230 mil boletins, são falsos, sendo necessário apurar a regularidade de cerca de um milhão de votos.
Em Nairobi também se registaram incidentes particularmente graves, quando a polícia dispersou apoiantes de Odinga recorrendo a balas de borracha, gás lacrimogénico, entre outros. Nos balanços dos confrontos, iniciados no dia 27 de Dezembro, pelo menos 600 pessoas morreram e cerca de 1000 necessitam de ajuda humanitária urgente. O número de deslocados pode atingir os 250 mil, sobretudo na fronteira com o Uganda.

Economia débil
Para além do apuramento dos danos humanos resultantes da violência dos últimos dias no Quénia, empresários começam a fazer contas aos prejuízos para os respectivos investimentos na economia local. De acordo com dados revelados no site www.vermelho.org.br, o país pode ter perdido qualquer coisa como meio bilião de dólares, sobretudo nos sectores do turismo e da exportação do chá, pois, como sabemos, o Quénia, tem um elevado potencial a nível turístico especialemente na zona da savana queniana. Os hotéis do litoral do país, viram canceladas 70% das reservas. Centenas de milhares de postos estão ameaçados. Relativamente à produção de chá (da qual dependem directamente 3 milhões de quenianos) , a zona mais afectada pelos conflitos, o Vale do Rift, é precisamente a mais próspera do sector.

EUA acompanham de perto ...
Atentos ao desenvolvimentos, estão os EUA, interessados em manter a influência geopolítica na região, cada vez mais importante no que diz respeito à produção de recursos energéticos. Segundo informações divulgadas por agências internacionais dão nota da deslocação ao Quénia de uma enviada da Casa Branca, cuja missão foi convencer Odinga e Kibaki a deixarem de lado o diferendo em nome da estabilidade de um país tido como exemplar no auxílio ao «combate ao terrorismo».
Acresce que o vizinho Sudão, é um dos principais fornecedores de crude do continente africano. Actualmente, 40% da produção sudanesa é controlada por empresas da China. A norte-americana Chevron parece não querer perder o comboio e investiu recentemente milhares de milhões de dólares no Sudão, território que estima que tenha reservas de hidrocarbonetos supeiores às da Arábia Saudita e do Irão.

Feito um apanhado geral da situação do país nos últimos tempos, tenho a dizer que espero, pessoalmente, que esta situação seja ultrapassada da melhor forma e, finalmente com um rumo à democracia, apesar de todos os inconvenientes ainda existentes.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.