sábado, 2 de fevereiro de 2008

As democracias ocidentais e os regimes autocráticos


Relatório hoje divulgado


Human Rights Watch condena "fechar de olhos" das democracias ocidentais aos abusos autocráticos

31.01.2008 - 15h01 Susana Almeida Ribeiro


As democracias ocidentais estão a “fechar os olhos” aos abusos praticados em países que passam por regimes democráticos mas que, na verdade, são autocracias encapotadas. Bruxelas, Washington e organizações como a OSCE estão a aceitar vitórias fraudulentas e abusos em diversos países, por conveniência política e diplomática, e, através dessa atitude, a perpetuar as violações dos direitos humanos em nações como o Quénia, Paquistão, China e Somália, indica o relatório da organização Human Rights Watch (HRW), hoje divulgado.O Relatório Mundial 2008 da organização de defesa dos direitos humanos sublinha que não basta que haja eleições para que um país seja considerado democrático. É preciso que, entre outras coisas, haja liberdade de expressão, liberdade de associação e uma sociedade civil esclarecida.“Hoje em dia é muito fácil os autocratas conseguirem ‘safar-se’ com falsas democracias”, indicou Kenneth Roth, director executivo da HRW, salientando que países como o Quénia, Paquistão, Bahrein, Jordânia, Nigéria, Rússia e Tailândia se comportaram como democracias, mas que nos bastidores actuaram como autocracias, ora censurando os media, ora falseando resultados eleitorais. Para que isto não aconteça, é preciso que as democracias estabelecidas fiquem vigilantes e actuem, e isso nem sempre acontece. “Parece que Washington e os governos europeus aceitam as mais dúbias eleições, desde que o país em questão seja um aliado estratégico ou comercial”, acusa Roth.

A HRW aponta o dedo aos Estados Unidos quando, por exemplo, aceitaram os resultados eleitorais de Fevereiro de 2007 na Nigéria – país rico em petróleo –, apesar das acusações de fraude eleitoral. Atitudes como esta poderão ser encaradas pelos líderes africanos como um “tapar de olhos” de Washington, que acaba por tolerar as ilegalidades democráticas. O Quénia, por exemplo, está envolvido numa violenta crise política desde finais de Dezembro de 2007, que já causou a morte a perto de um milhar de pessoas, e os EUA limitaram-se a expressar a sua preocupação pela situação.Por outro lado, organizações como a OSCE (Organização Europeia para a Cooperação e Segurança), “que deviam promover a democracia, os direitos humanos e a segurança, aceitaram a entrada como membro, em 2010, do Cazaquistão, que tem grandes reservas de petróleo e gás, desejadas quer pela UE quer pela Rússia”, indica o relatório. “A decisão da OSCE foi tomada depois do partido do poder no Cazaquistão ter ‘vencido’ de forma esmagadora as eleições parlamentares de Agosto, durante as quais, de acordo com os próprios monitores da OSCE, houve censura aos media, impedimento à formação de partidos da oposição e irregularidades na contagem dos votos”.


Violações dos direitos humanos e repressões severas


A HRW monitoriza a situação dos direitos humanos em mais de 75 países e denuncia a existência de atrocidades em países como o Chade, Colômbia, República Democrática do Congo, Etiópia (região de Ogaden), Iraque, Somália, Sri Lanka e Sudão (região do Darfur) e delata a existência de sociedades fechadas e repressões severas na Birmânia, China, Cuba, Eritreia, Líbia, Irão, Coreia do Norte, Arábia Saudita e Vietname.Kenneth Roth especificou que “a situação na Somália e na região etíope de Ogaden, onde milhões estão a sofrer, é uma tragédia esquecida” e o relatório sublinha que “o governo do Sudão é o responsável por cinco anos de crise no Darfur, onde 2,4 milhões de pessoas foram deslocadas, quatro milhões sobrevivem de ajuda humanitária e onde as populações estão em grande risco.Na Birmânia, a junta militar usou força desproporcionada, em Agosto e Setembo do ano passado, em resposta aos protestos pacíficos dos monges budistas e civis desarmados. O relatório denuncia ainda o bloqueio israelita de comida, petróleo e medicamentos aos palestinianos – uma atitude que viola as leis internacionais – e, por outro lado, recrimina os ataque palestinianos a áreas populacionais israelitas.No que toca ao Paquistão, a HRW denuncia as repressões levadas a cabo a determinados juízes e as mudanças constitucionais operadas pelo Presidente Pervez Musharraf, a fim de poder ser eleito nas próximas eleições, marcadas para Fevereiro.


Jogos Olímpicos na China estão a minar os direitos humanos


A HRW chegou ainda a uma conclusão surpreendente. Ao contrário do que se esperava, os Jogos Olímpicos, que se celebram este Verão em Pequim, estão a fazer aumentar as situações de deslocações laborais forçadas, abuso de direitos dos trabalhadores e prisões domiciliárias de opositores ao regime comunista chinês.O relatório denuncia ainda que os Estados Unidos são o país do mundo com a maior taxa de encarceramentos de todo o mundo e onde o universo de prisioneiros negros é seis vezes mais numeroso que o de brancos.Os Estados Unidos são igualmente apontados pela sua “guerra ao terrorismo”, mantendo 275 prisioneiros em Guantánamo sem acusação formal.Como nota positiva, o Relatório Mundial 2008 da HRW indica a entrega à Justiça dos antigos Presidentes do Peru e da Libéria: Alberto Fujimori e Charles Taylor, respectivamente.

Fonte: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1318271&idCanal=11

Para mais informações relativas ao Relatório e às actividades da organização, visita o Site da Human Rights Watch , em Português: http://www.hrw.org/portuguese/

Comenta o conteúdo da notícia, reflectindo sobre a atitude das democracias ocidentais (nomeadamente da UE e dos EUA) relativamente às situações de abusos dos direitos humanos que se verificam em diferentes regimes autocráticos.

3 comentários:

Vasco PS disse...

Estes abusos não são novidade para ninguém. É triste que países como os EUA e dos da UE tenham como prioridade questões económicas, "fechando os olhos" aos reais problemas que muitos países do mundo enfrentam. Estas notícias são de facto, muito completas, têm muita informação, por isso não vou dar numa de fazer citações, senão, não saía de aqui hoje.

Enquanto cidadão europeu, sinto-me frustrado que tanto se tenha lutado pela liberdade e direitos humanos e, se continue a aceitar situações tão desumanas como as dos países africanos. Este é um tema que já foi mais do que abordado neste blogue. A existência de regimes ditatoriais, autocráticos em grande parte do mundo, é uma situação realmente vergonhosa. Trocar petróleo por vidas humanas, causa arrepios.

Deixo, assim, o meu lamento face a todas estas situações, que vão sendo encobertas, e o meu voto para que se tome consciência que este mundo é tudo, menos perfeito, e que há muitos pontos que têm de se resolvidos. Para isso, os PD devem unir esforços, deixar-se de hipocrisias e tomar as acções mais convinientes para que se acabe com a repressão nestes países.

O ser humano quer liberdade.

Soraia disse...

Bem, desta vez não vou fazer referência, nem citar nenhuma frase da notícia, pois acho que ela é bastante explícita e reveladora da situação que se vive.

É verdade Vasco, mais uma vez os interesses económicos sobrepõem-se aos direitos e à dignidade humanos…e o mais arrepiante é que os culpados são países como os EUA e alguns membros da UE que se dizem desenvolvidos.

Eu podia utilizar inúmeras expressões de chefes de Estado de alguns PD em relação a esta situação, mas prefiro usar palavras minhas, para ser original…

ISTO É VERGONHOSO!

Até quando os PD vão assistir a este desrespeito pelos direitos humanos, sem intervirem?
Até quando o dinheiro vai ter mais valor que uma vida humana?

Eu vejo esta situação como uma atrocidade que cabe à UE e aos EUA resolverem, pois eles prezam valores como a liberdade, a igualdade e o respeito pelos direitos humanos.

Não me vou alargar mais neste comentário, pois já falamos variadas vezes neste blog sobre os regimes autocráticos e o desrespeito pelos direitos humanos.

Espero sinceramente que se tome consciência da necessidade de uma mudança, e que todos os seres humanos se tornem iguais em direitos e liberdades.
Liberdade é vida!

Vasco PS disse...

Soraia,

Deviamos fazer uma espécie de movimento cívico com base na liberdade, visto ser algo que ainda hoje, em países ditos democráticos, como o nosso, continua a ser atropelado.

Devemos lutar não só pela nossa liberdade, como também, pela liberdade dos outros povos, que têm o direito universal à autodeterminação. E devemos também lutar pela nossa liberdade de expressão, que tem sido suficientemente abafada para que o sentimento que cresce dentro de nós seja, pois claro, o da Revolta.