sexta-feira, 6 de março de 2009

Chegou "a hora do realismo" com a Rússia


NATO retoma as relações de alto nível com os russos, num quadro de cooperação dominado pelo Afeganistão e pelo Irão


"Soou a hora do realismo": depois de seis meses de suspensão por causa da guerra da Geórgia, em Agosto, as relações de alto nível entre a NATO e a Rússia vão ser reatadas, num quadro de reforço da cooperação sobre segurança em zonas problemáticas do globo, como o Afeganistão ou o Irão. A afirmação foi feita por Hillary Clinton, secretária de Estado norte-americana, que ontem participou em Bruxelas na sua primeira reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 26 países-membros da NATO. Principal objectivo da reunião, o retomar das relações formais com Moscovo, no âmbito do Conselho NATO-Rússia, criado em 2002, como um novo quadro de cooperação entre os inimigos da guerra fria sobre um vasto leque de questões, da luta contra o terrorismo à não proliferação nuclear. Embora os países de Leste não se tenham mostrado particularmente entusiasmados com esta aproximação a Moscovo, pretendida pelo Presidente americano, Barack Obama, apenas a Lituânia chegou ao ponto de bloquear o reatamento das relações, acabando, no entanto, por se associar à posição comum." Apesar de alguns encararem o Conselho NATO-Rússia como uma recompensa ou uma concessão à Rússia, deveria ser antes considerado como um mecanismo de diálogo sobre os temas de desacordo e uma plataforma de cooperação que é do nosso interesse", justificou Clinton. A afirmação deixa claro que os desentendimentos entre os dois blocos se mantêm, a começar pelo reforço da presença militar russa nas repúblicas secessionistas da Geórgia, a Abkházia e a Ossétia do Sul." Não nos podemos esquecer que temos uma série de áreas em que temos diferenças fundamentais de opinião e em que pensamos que a Rússia deveria mudar de posição", afirmou Jaap de Hoop Scheffer, secretário-geral da NATO. Já Clinton procurou sobretudo sublinhar que "é tempo de avançar". "Não devemos ficar parados com a ilusão de que as coisas vão mudar por si só", prosseguiu. E insistiu: "Soou a hora do realismo, mas também a da esperança."

Não falar "não é uma opção"

De acordo com Scheffer, a primeira reunião ministerial do Conselho NATO-Rússia terá lugar "o mais depressa possível" depois da cimeira comemorativa dos 60 anos da Aliança que ocorrerá a 3 e 4 de Abril, em Estrasburgo e Kehl (França e Alemanha). "A Rússia é um actor global e não falar com ela não é uma opção", frisou. Embora tenha assumido a mesma linha, David Miliband, chefe da diplomacia britânica, sublinhou que as relações entre aliados e russos "nunca mais serão como antes" por causa da guerra da Geórgia. A intervenção de Moscovo em favor das duas repúblicas secessionistas "gerou muitos receios sobre a atitude da Rússia relativamente aos seus vizinhos", sustentou. Os Aliados contam insistir com Moscovo para "respeitar plenamente os seus compromissos face à Geórgia", garantiu, por seu lado, o secretário-geral da Aliança.Apesar das críticas, Miliband defendeu: "É importante restabelecer o Conselho NATO-Rússia, porque nos permite falar directamente com os russos sobre as nossas preocupações [e] tratar juntos de problemas comuns. "Muitas dessas questões serão, aliás, hoje abordadas pela chefe da diplomacia americana no seu primeiro encontro oficial com o seu homólogo russo, Serguei Lavrov, em Genebra. E que incluirá, segundo a responsável, a questão das negociações entre a Rússia e o Irão sobre a venda de mísseis de longo alcance", o que, do seu ponto de vista, "constitui uma ameaça para a Rússia, para a Europa e para os vizinhos na região". Outro assunto de contencioso é a promessa de adesão da Geórgia e Ucrânia à NATO, que Moscovo encara como uma intervenção da Aliança Atlântica na sua esfera de influência. Embora não tenha assumido qualquer calendário ou procedimento formal, Clinton defendeu que a NATO deverá "manter as portas abertas a países europeus como a Geórgia e a Ucrânia". (Público, 07.03.09)


2 comentários:

MariaCosta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
MariaCosta disse...

Confesso que acho a Rússia um país muito independente, ou melhor, quer muito conseguir ser independente, pelo menos em relação aos EUA e todos os seus antigos aliados do Ocidente.
De facto, desde o fim da Guerra Fria, as relações entre os EUA e a Rússia estabilizaram um pouco, mas a distância entre estes dois países manteve-se sempre muito grande.
Agora, com a polémica de a Ucrânia e a Geórgia quererem aderir à Nato, a Rússia mostrou concretamente a sua posição contraditória a todo este processo.
Por exemplo, aquele episódio de a Rússia ter cortado o fornecimento de gás à Ucrânia. Isto só demonstra que a Rússia, antiga URSS, mantem sempre um certo afastamento de processos ou organizações dos países antigos aliados do capitalismo, os países do Ocidente e principalmente, um grande afastamento perante os EUA.
As tensões da Guerra Fria ainda se fazem sentir, um pouco entre, EUA e Rússia.
Perante isto, e utilizando palavras do post, as relações entre EUA e Rússia "nunca mais serão como antes".