domingo, 18 de outubro de 2009

Índia vai construir um muro de mais de 3 000 quilómetros para separa este país do Bengladesh


Quando nos aproximamos da data em que a Alemanha e o Mundo, em geral, vão comemorar os 20 anos da queda do "Muro de Berlim", também conhecido pelo "Muro da Vergonha", ficamos a saber na última sexta que a Índia decidiu construir um muro com mais de 3 000 quilómetros (!!!!) para separar este país do Bengladesh, alegadamente, para impedir a imigração ilegal proveniente do país vizinho. Pelos vistos as razões também passam por questões religiosas e pelo terrorismo islâmico.

Enfim, mais um muro vergonhoso, que se soma àqueles que separam os EUA do México e Israel da Palestina (cisjordânia), entre outros.

Vejam a notícia do Público do passado dia 16 de Outubro:


Controlar uma fronteira cuja linha imaginária cruza pântanos, cursos de água e florestas praticamente impenetráveis é uma tarefa ciclópica. E tudo é ainda pior quando essa barreira política decepou comunidades e etnias, ignorou as lógicas locais e separou dois países por motivos religiosos. Hoje, a Índia, maioritariamente hindu, diz ser invadida todos os dias por imigrantes ilegais e terroristas oriundos do Bangladesh, o vizinho de maioria esmagadoramente muçulmana. Por isso, o Governo indiano decidiu construir uma vedação, em betão e arame farpado, cobrindo a maior parte (3200 quilómetros) dos mais de quatro mil quilómetros de fronteira entre os dois países.

A obra está orçamentada em 1,2 mil milhões de dólares (mais de 800 milhões de euros) e deverá ficar concluída em 2010. De acordo com observadores indianos, já está a reduzir os fluxos de imigração ilegal (os terroristas, esses, não se costumam deixam deter por barreiras físicas). Mas não é só na vertente financeira que o custo é elevado.

O puzzleda região é complexo: existem, segundo contas do jornalThe Times of India, 166 enclaves do lado errado da fronteira - 111 indianos no Bangladesh e 55 bangladeshianos na Índia. Há quem viva num país e tenha as suas terras no outro, quem compre numa aldeia e venda noutra, cruzando no processo uma fronteira que só se tornou visível quando as redes e as torres de vigilância começaram a nascer ao longo, ou mesmo no interior, da zona de 150 jardas (cerca de 137 metros) negociada pelos dois países como terra de ninguém, ou, como é conhecida, "linha zero".

Dezenas de mortos em 2009

As estatísticas falam de cerca de 800 mortos desde o ano 2000 (à volta de meia centena nos últimos seis meses, estima o diário espanholEl Mundo), os relatos dos jornalistas que visitam a região centram-se muitas vezes nos esquemas de corrupção postos em prática pelas duas forças encarregadas de vigiar a fronteira: a Border Security Force (BSF), do lado indiano, e os Bangladesh Rifles. Registaram-se várias trocas de tiros entre os militares dos dois países, com mortes à mistura, num passado recente, até porque o Bangladesh não encara com bons olhos a decisão do gigante vizinho de fortificar a fronteira.

Mas são as populações das regiões fronteiriças quem mais vezes se vê na mira das armas. Obrigados a pagar aos efectivos de ambas as polícias para fecharem os olhos às trocas comerciais e às movimentações que antigamente faziam parte do dia-a-dia das comunidades, os habitantes locais decidem por vezes não dar alimento à cobiça dos polícias, por convicção ou real incapacidade financeira. Às vezes morrem.

Muitos dos que são abatidos pelos tiros vindos do lado indiano não são imigrantes ilegais, mas sim gente que passa a fronteira com gado para vender do lado bangladeshiano - na Índia muçulmana as vacas são sagradas, o que não impede o país de ser um grande exportador de produtos bovinos... Mas não aqui, exactamente onde a tradição local sempre aceitou este tipo de transacção.

Uma nação cercada

A superpovoada Índia não tem uma boa relação com vários dos seus vizinhos e a solução de "fortificar" as fronteiras parece ter-se generalizado. A noroeste, com o Paquistão; a sudeste, com a Birmânia; praticamente a toda a volta do Bangladesh, que a Índia abraça quase completamente, o arame farpado e o betão tentam isolar a nação economicamente emergente dos seus vizinhos mais pobres.

No caso do Paquistão e do Bangladesh, há ainda o factor religioso: os imigrantes são muçulmanos. Como estas duas nações, que foram só uma até 1971 (ano em que o Bangladesh, até aí denominado Paquistão Oriental, se tornou independente), nasceram exactamente devido a critérios religiosos (foram separados da Índia em 1947, quando o Império britânico se retirou do subcontinente indiano, delimitando estes dois territórios para os muçulmanos e deixando o resto para os hindus) as tensões fronteiriças sáo históricas. Índia e Paquistão travaram três guerras entre 1947 e 1971 e a última conduziu à independência do Bangladesh, que foi apoiada por Nova Deli.

A Índia tem-se tornado mais islâmica devido à imigração (os muçulamanos seriam cerca de 13 por cento da população em 2001), enquanto no Paquistão e no Bangladesh a percentagem de hindus caiu rapidamente nas últimas décadas do século passado. Nas regiões fronteiriças da Índia com o Bangladesh o número de mu-?çulmanos aumentou de tal forma que há franjas da sociedade indiana que receiam a eclosão de conflitos étnicos - e, na Índia, um país onde os choques religiosos e os extremismos dão origem, com alguma frequência, em atentados e incidentes sangrentos, isto não é só retórica ou alarmismo.

A Índia sente-se ameaçada e, tal como outras nações já fizeram ou planeiam fazer, decidiu fechar-se atrás de muros. Mas, ao contrário do que sucede noutras paragens, esta tarefa ciclópica, que representa mais de uma vez e meia o que os Estados Unidos pretendem fazer na sua fronteira com o México ou quase oito vezes a distância coberta pela barreira entre Israel e a Palestina, tem-se mantido longe das atenções da opinião pública mundial.

Fonte: http://jornal.publico.clix.pt/noticia/16-10-2009/india-constroi-um-muro-de-mais-de-tres-mil-quilometros-na-fronteira-com-o-bangladesh-18027221.htm

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