terça-feira, 16 de março de 2010

Americanos juntaram-se para a Coffee Party


Hoje gostava de vos falar de uma ideia muito interessante que acaba de nascer nos EUA. Este fim-de-semana, em mais de 350 cidades, centenas de pessoas encontraram-se num café da sua cidade para debater ideias. Trata-se de um movimento de cidadãos, independente, que já é conhecido por "Coffee Party". Para ficarem a saber um pouco mais da filosofia deste movimento leiam a notícia de ontem do "Público".

Mark Hightower esperava umas quatro ou cinco pessoas sentadas a uma mesa de café, mas deparou-se com uma sala completamente cheia de gente, alguns já empunhando cartolinas desenhadas com palavras de ordem. "É a prova de que as pessoas estão mesmo interessadas em discutir soluções para os assuntos que as preocupam, sejam eles locais, nacionais ou até internacionais", comenta.

Foi essa a razão que levou este gestor de projectos de Washington a envolver-se com o Coffee Party, não um partido, mas um movimento independente e descentralizado que reclama o regresso da civilidade ao debate político americano e o fim das estratégias obstrucionistas que impedem o desenvolvimento do país.

A ideia é que quando as pessoas se sentam e discutem calmamente as questões que as preocupam, não só conseguem ultrapassar as suas diferenças como são capazes de encontrar melhores soluções para problemas complexos - sejam eles a reforma do sistema de saúde, as alterações climáticas ou a promoção da igualdade.

"Eu diria que pelo menos 80 por cento dos americanos querem ser ouvidos, mas gritar não adianta. Os confetti e o ruído não conduzem a nenhum resultado, assim é impossível ter uma conversa racional", considera. "E infelizmente os media só contribuem para promover a confusão, concentrando a atenção em tudo o que é negativo".

Nascido há pouco mais de um mês num dos subúrbios de Washington DC, o Coffee Party começou por ser uma mensagem de desabafo deixada na página do Facebook de Annabel Park, uma documentarista. "Vamos juntar-nos, tomar um café e ter um debate político verdadeiro, com substância e compaixão", escreveu.

Em seis semanas, a sua página foi convertida no Coffee Party e já conta com mais de cem mil membros, todos com vontade de "fazer a sua parte". "Eu nunca estive envolvido na política nem quero estar. Não sou um activista, sou apenas alguém disposto a fazer a minha parte. Quero poder encontrar-me com os meus líderes políticos e ter um diálogo produtivo com eles. Assim eles vão saber o que eu espero deles e eu vou saber o que eles se propõem fazer por mim", explica Mark Hightower.

Este fim-de-semana, em mais de 350 cidades americanas, centenas de pessoas fizeram precisamente o que Annabel sugeriu: encontraram-se num café da sua cidade para conhecer aqueles que se tornaram "seguidores" do Coffee Party e estão dispostos a contribuir para o movimento.

No Potter"s Café, uma livraria e café no bairro de Adams Morgan, um dos locais mais diversos da capital, juntou-se quase uma centena de pessoas. "Eu não conhecia nenhuma delas", esclarece Mark, o responsável pela convocatória.

Tinham várias idades e as mais diferentes origens. Alguns descreviam-se como "progressistas", outros como "idealistas" e outros ainda como "desiludidos". Nenhum daqueles com quem o PÚBLICO falou alguma vez votou no Partido Republicano, mas nem todos votam no Partido Democrata - Kevin, por exemplo, é um fiel eleitor do Partido Verde do advogado Ralph Nader. Alicia está registada como independente, mas a sua ideologia é mais libertária: "O discurso dos dois principais partidos é tão polarizado que não consigo identificar-me com nenhum deles", explica.


Contra os slogans agressivos


Os media norte-americano classificaram o Coffee Party como a antítese do Tea Party - o movimento conservador de protesto contra a expansão da intervenção do Governo que rebentou há cerca de um ano, com a aprovação do pacote de estímulo económico do Presidente Barack Obama.

Mas as comparações com o Tea Party são algo que este grupo de pessoas rejeita em absoluto. Não só elas não partilham da mesma ideologia - o Coffee Party, afinal, reconhece a importância do investimento do Estado -, como sobretudo discordam da sua metodologia. "Gritar slogans agressivos em comícios só contribui para alimentar a polarização e o ruído que divide as pessoas e paralisa os políticos", refere Hightower.

"A nossa atitude não é de nós contra eles. Nós não somos contra alguma coisa, somos a favor de qualquer coisa. Esse é precisamente o problema da política americana actual, e é essa a nossa frustração. Ninguém é linear e o mundo não é a preto e branco", prossegue.

Fonte: http://jornal.publico.clix.pt/noticia/15-03-2010/americanos-juntaramse-para-a-coffee-party-18993798.htm


Site oficial do movimento: http://www.coffeepartyusa.com/

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