Como todos sabem, anteontem ocorreu um violentíssimo sismo no Chile que atingiu a magnitude de 8,8 na escala de Richter e que, segundo os números mais actualizados, terá provocado mais de 700 mortos, centenas de desaparecidos e mais de 2 milhões de desalojados e ainda diversas ondas de tsunami ao longo do Oceano Pacífico. Para compreenderem melhor as causas deste sismo e também porque causou menos vítimas do que o do Haiti, que tinha uma magnitude bastante inferior, vejam a notícia publicada ontem pelo jornal Público.
Apesar da magnitude elevada, o afastamento da costa e a profundidade do epicentro podem poupar vítimas
O sismo que atingiu o centro do Chile ocorreu numa das áreas onde há mais risco de abalos de maior magnitude. Isto acontece por haver muito perto da costa do país, no Sul do oceano Pacífico, uma zona onde placas da crosta terrestre são impulsionadas por forças que as fazem colidir uma contra a outra - o tipo de movimento que costuma gerar sismos mais intensos.
No entanto, como o epicentro se deu a cerca de 90 quilómetros da cidade de Conceição, a mais atingida, a alguma distância de locais povoados e com uma profundidade significativa (da ordem dos 35 quilómetros, segundo o Serviço Geológico dos EUA, e de 55, de acordo com o National Oceanic and Atmospheric Administration), o balanço de vítimas não foi tão elevado como, por exemplo, no Haiti.
A sua magnitude foi a mesma do sismo de 1755 que atingiu o Sul de Portugal, destruindo grande parte de Lisboa, recordou ao PÚBLICO Luís Matias, professor de Geofísica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, lembrando ainda que está estimado que tenha sido a cerca de cem quilómetros da costa do Algarve.
A zona do sismo tem "um dos limites entre placas mais importantes à escala do planeta, porque faz a separação de toda a América do Sul da crosta oceânica do Pacífico", diz José Luís Zêzere, professor de Geomorfologia do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa e especialista em riscos físicos.
Nestes locais, "quando a tensão ultrapassa o limite da deformação plástica do terreno, há um local que parte, o que liberta uma grande quantidade de energia, sob a forma de ondas - é isso que é o sismo", explica Zêzere.
No caso da zona costeira do Chile, o contacto é entre a placa de Nazca e a sul-americana, sendo a primeira a "mergulhar" sob a segunda. A excepção é a região Sul, onde o contacto é directo entre a placa do Pacífico e a da América do Sul. É também nesta zona do Pacífico Sul que ocorreu o sismo com maior magnitude já registado, em 22 de Maio de 1960, com uma magnitude de 9,5 na escala de Richter.
No entanto, Luís Matias nota que é em locais como a ilha de Sumatra (na parte oriental do oceano Índico) e o Alasca, também junto a áreas onde há contacto deste tipo entre placas, que se registaram os valores mais próximos do máximo.
O contacto entre placas da crosta terrestre gera tipicamente três tipos de movimentos, e os sismos que provoca têm também magnitudes diferentes. Além do caso já descrito, em que as placas chocam uma contra a outra, há também o das placas que se afastam, como acontece com as dorsais no meio dos oceanos, e as que deslizam horizontalmente uma ao longo da outra, como acontece na falha de Santo André, que atravessa a Califórnia, ou na zona do Haiti, entre a placa das Caraíbas e a da América do Norte.
Portugal tem, aliás, o recorde de magnitude de um sismo numa falha deste tipo, também conhecida como "transformante". Luís Matias recorda que em 25 de Novembro de 1941, ao largo dos Açores, ao longo da falha da Glória, que se estende da ilha de Santa Maria em direcção ao território do continente, foi registado um sismo de magnitude 8,4, a maior de que há conhecimento neste tipo de falhas.
Para explicar porque é que este sismo no Chile, com maior magnitude que o do Haiti, provocou muito menos vítimas, Luís Matias e José Luís Zêzere convergem na ideia de que isso resulta de ter sido mais longe da costa e mais profundo. "Se este sismo tivesse tido o epicentro em terra, teria sido catastrófico", e por isso é que "não há uma relação directa entre magnitude e destruição nas cidades", diz Luís Matias.
A estas razões pode-se ainda acrescentar a densidade populacional, muito mais baixa no Chile do que no Haiti, bem como a qualidade da construção, melhor no Chile, como nota Zêzere.
E será possível que haja alguma relação entre estes dois sismos, pouco distantes em termos de tempo? Luís Matias é peremptório: "Não. A razão de fundo é o movimento de placas."
Zêzere tende a concordar, mas é mais cauteloso: "Não faz sentido assumir que há relação entre eles. Respeitam a limites de placas diferentes." Admite, no entanto, que eventualmente poderá haver alguma relação, mas diz que "com o actual conhecimento científico não há forma de o confirmar". Recorda que na sexta-feira houve um sismo de magnitude sete no Japão, na ilha de Okinawa, e que não é frequente haver tantos sismos de grande magnitude em tão pouco tempo.
Fonte: http://jornal.publico.clix.pt/noticia/28-02-2010/apesar-da-magnitude-elevada-o-afastamento-da-costa--e-a-profundidade-do-epicentro-podem-poupar-vitimas-18896122.htm
Apesar da magnitude elevada, o afastamento da costa e a profundidade do epicentro podem poupar vítimas
O sismo que atingiu o centro do Chile ocorreu numa das áreas onde há mais risco de abalos de maior magnitude. Isto acontece por haver muito perto da costa do país, no Sul do oceano Pacífico, uma zona onde placas da crosta terrestre são impulsionadas por forças que as fazem colidir uma contra a outra - o tipo de movimento que costuma gerar sismos mais intensos.
No entanto, como o epicentro se deu a cerca de 90 quilómetros da cidade de Conceição, a mais atingida, a alguma distância de locais povoados e com uma profundidade significativa (da ordem dos 35 quilómetros, segundo o Serviço Geológico dos EUA, e de 55, de acordo com o National Oceanic and Atmospheric Administration), o balanço de vítimas não foi tão elevado como, por exemplo, no Haiti.
A sua magnitude foi a mesma do sismo de 1755 que atingiu o Sul de Portugal, destruindo grande parte de Lisboa, recordou ao PÚBLICO Luís Matias, professor de Geofísica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, lembrando ainda que está estimado que tenha sido a cerca de cem quilómetros da costa do Algarve.
A zona do sismo tem "um dos limites entre placas mais importantes à escala do planeta, porque faz a separação de toda a América do Sul da crosta oceânica do Pacífico", diz José Luís Zêzere, professor de Geomorfologia do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa e especialista em riscos físicos.
Nestes locais, "quando a tensão ultrapassa o limite da deformação plástica do terreno, há um local que parte, o que liberta uma grande quantidade de energia, sob a forma de ondas - é isso que é o sismo", explica Zêzere.
No caso da zona costeira do Chile, o contacto é entre a placa de Nazca e a sul-americana, sendo a primeira a "mergulhar" sob a segunda. A excepção é a região Sul, onde o contacto é directo entre a placa do Pacífico e a da América do Sul. É também nesta zona do Pacífico Sul que ocorreu o sismo com maior magnitude já registado, em 22 de Maio de 1960, com uma magnitude de 9,5 na escala de Richter.
No entanto, Luís Matias nota que é em locais como a ilha de Sumatra (na parte oriental do oceano Índico) e o Alasca, também junto a áreas onde há contacto deste tipo entre placas, que se registaram os valores mais próximos do máximo.
O contacto entre placas da crosta terrestre gera tipicamente três tipos de movimentos, e os sismos que provoca têm também magnitudes diferentes. Além do caso já descrito, em que as placas chocam uma contra a outra, há também o das placas que se afastam, como acontece com as dorsais no meio dos oceanos, e as que deslizam horizontalmente uma ao longo da outra, como acontece na falha de Santo André, que atravessa a Califórnia, ou na zona do Haiti, entre a placa das Caraíbas e a da América do Norte.
Portugal tem, aliás, o recorde de magnitude de um sismo numa falha deste tipo, também conhecida como "transformante". Luís Matias recorda que em 25 de Novembro de 1941, ao largo dos Açores, ao longo da falha da Glória, que se estende da ilha de Santa Maria em direcção ao território do continente, foi registado um sismo de magnitude 8,4, a maior de que há conhecimento neste tipo de falhas.
Para explicar porque é que este sismo no Chile, com maior magnitude que o do Haiti, provocou muito menos vítimas, Luís Matias e José Luís Zêzere convergem na ideia de que isso resulta de ter sido mais longe da costa e mais profundo. "Se este sismo tivesse tido o epicentro em terra, teria sido catastrófico", e por isso é que "não há uma relação directa entre magnitude e destruição nas cidades", diz Luís Matias.
A estas razões pode-se ainda acrescentar a densidade populacional, muito mais baixa no Chile do que no Haiti, bem como a qualidade da construção, melhor no Chile, como nota Zêzere.
E será possível que haja alguma relação entre estes dois sismos, pouco distantes em termos de tempo? Luís Matias é peremptório: "Não. A razão de fundo é o movimento de placas."
Zêzere tende a concordar, mas é mais cauteloso: "Não faz sentido assumir que há relação entre eles. Respeitam a limites de placas diferentes." Admite, no entanto, que eventualmente poderá haver alguma relação, mas diz que "com o actual conhecimento científico não há forma de o confirmar". Recorda que na sexta-feira houve um sismo de magnitude sete no Japão, na ilha de Okinawa, e que não é frequente haver tantos sismos de grande magnitude em tão pouco tempo.
Fonte: http://jornal.publico.clix.pt/noticia/28-02-2010/apesar-da-magnitude-elevada-o-afastamento-da-costa--e-a-profundidade-do-epicentro-podem-poupar-vitimas-18896122.htm
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