quarta-feira, 5 de março de 2008



Crianças forçados em guerras de adultos



Em mais de vinte países as crianças participam directamente em guerras. É-lhes negada a infância a que têm direito e são presenteadas com o horror e a morte. Estima-se que entre 200 a 300 mil crianças tenham servido como soldados em conflitos actualmente em curso, quer fazendo parte de grupos rebeldes quer de forças governamentais. Estas crianças participam em todos os aspectos que fazem parte das guerras contemporâneas. Disparam armas na frente de combate, servem de detectores humanos de minas, participam em missões suicidas, carregam mantimentos e actuam como espiões, mensageiros ou vigias.
Psicologicamente vulneráveis e facilmente intimidáveis, as crianças tornam-se soldados obedientes. Muitas são sequestradas ou recrutadas à força, e geralmente intimadas a cumprir ordens sob ameaça de morte. Outras, juntam-se a grupos armados por desespero. À medida que o conflito vai destruindo a sociedade, deixando as crianças sem escola, obrigando-as a sair das suas casas ou a separar-se das famílias, muitas percebem que o ingresso nos grupos armados é a sua única hipótese de sobrevivência. Outras ainda, ao ingressar em grupos militares procuram apenas escapar à pobreza ou vingar membros da família que tenham sido mortos por facções opostas. O Observatório dos Direitos Humanos (Human Rights Watch) tem denunciado vários países pela utilização de crianças-soldado: Angola, Birmânia, Burundi, Colômbia, República Democrática do Congo, Líbano, Libéria, Serra Leoa, Sri Lanka, Sudão, Uganda. A UNICEF tem realizado programas de desmobilização de crianças-soldado, em países como a Serra Leoa e o Afeganistão. A ideia é dar novas oportunidades a estas crianças, nomeadamente através da escolarização. A falta de fundos ou quebra nos apoios internacionais compromete muitas vezes estes programas. A fragilidade dos acordos de paz assinados pelas partes envolvidas nos conflitos e tantas vezes violados também contribui para o fracasso da tentativa de desmobilização das crianças-soldado. Acresce que muitas das crianças ex-soldado quando regressam a casa não têm já uma estrutura familiar à sua espera. Os programas apontam ainda a necessidade de ajudar as crianças a adaptar-se à nova realidade existente nas suas comunidades. A mensagem da UNICEF é a aposta na educação. Recentemente, em Fevereiro de 2007, durante a Conferência Internacional de Paris sobre as Crianças-soldado, os 58 países presentes comprometeram-se a lutar pela libertação incondicional destas crianças. Entre os compromissos assumidos num documento que resultou da conferência, pede-se aos Estados que as crianças-soldado sejam vistas como vítimas antes de serem acusadas de crimes aos olhos do direito internacional. Pede-se também que um menor que fuja ao recrutamento seja beneficiado pelo direito de asilo. Uma última chamada de atenção vai para o facto de as meninas estarem excluídas dos programas e das iniciativas diplomáticas sobre as crianças-soldado. Uma situação que os países participantes se comprometeram a "reverter e a corrigir". Nas várias abordagens internacionais relativas ao problema, entende-se por criança-soldado qualquer pessoa que tenha menos de 18 anos e faça parte de qualquer tipo de força armada organizada ou não organizada. A definição nunca se refere apenas a crianças que usem ou tenham usado armas. Vai mais longe. Aplica-se a crianças que possam ter desempenhado no grupo armado funções tão diversas como transportar equipamentos, cozinhar ou servir de mensageiros. E a raparigas que tenham sido recrutadas para fins sexuais ou para «casamentos» forçados.


Notas recolhidas nos relatórios do Observatório dos Direitos Humanos (Human Rights Watch) sobre crianças-soldado




Nepal (Janeiro de 2007)


Milhares de crianças foram recrutadas pelo Partido Comunista do Nepal (Maoísta) durante 10 anos de guerra civil. Crianças estiveram na linha da frente do conflito, receberam treino em armas e realizaram acções de suporte militar e logístico cruciais aos Maoístas. Apesar do governo ter assinado um acordo de paz, em Novembro de 2006, os Maoístas continuaram a recrutar crianças tendo recusado libertar algumas que já integravam as suas forças.




Sri Lanka (Janeiro de 2007)


O grupo Karuna tem sequestrado centenas de crianças no Sri Lanka Oriental para combater. Este grupo é liderado pelo antigo comandante de um outro grupo, os Tigres de Libertação da Pátria Tamil, e seu actual opositor. As forças de segurança governamental longe de parar os sequestros facilitam o trabalho aos sequestradores, permitindo o transporte das crianças por postos de segurança a caminho dos campos de treino. A denúncia consta do último relatório do Observatório dos Direitos Humanos.




Burundi (Junho 2006)


Longe de casa Durante os treze anos da guerra civil no Burundi, crianças têm sido recrutadas e usadas como combatentes pelos dois lados envolvidos no conflito. Mais de três mil crianças foram desmobilizadas, mas o grupo rebelde denominado Forças de Libertação Nacional (FLN) continua a usar crianças como combatentes e como auxiliares em várias tarefas logísticas. Por outro lado, dezenas de crianças que serviram ou são acusadas de ter servido como soldados nas FLN estão agora sob custódia governamental, no entanto, sem qualquer tipo de assistência.




África Ocidental (Março 2005)


Juventude, pobreza e sangue: A herança letal dos guerreiros regionais Desde 1989, jovens soldados têm lutado em conflitos armados na Libéria, Serra Leoa, Guiné, Costa do Marfim, sempre cruzando fronteiras entre países vizinhos para lutar pelo seu sustento económico como mercenários.




Libéria (Fevereiro 2004)


Mais de 15 mil crianças-soldado lutaram nos dois lados da guerra civil na Libéria e muitas unidades eram formadas essencialmente por crianças. O relatório do Observatório dos Direitos Humanos sobre este país, assinala não apenas os abusos cometidos sobre as crianças-soldado, como as violações que estas foram forçadas a exercer sobre os civis. O relatório alerta que a paz na África Ocidental vai depender do sucesso da reintegração das crianças-soldado na sociedade.




Colômbia (Setembro 2003)


Mais de 11 mil crianças combatem no conflito armado na Colômbia tanto do lado da guerrilha como das forças paramilitares. Ambas as forças confiam às crianças-soldado a execução de verdadeiras atrocidades, tais como executar outras crianças no deserto. A guerrilha chama "abelhinhas" (little bees) às crianças-soldado por serem capazes de "picar" antes que o seu alvo se aperceba que está sob um ataque. Os paramilitares chamam-lhes "pequenas campainhas" (little bells), referindo-se à sua utilização como sistema de alarme. Desde 1998 que o recrutamento de crianças-soldado tem aumentado, de acordo com vários relatórios de organizações não governamentais.




Angola (Abril de 2003)


Abril de 2003 marca um ano sobre a data do acordo de paz em Angola. Tanto o maior grupo armado da oposição, União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), como o governo, usaram crianças como soldados nos seus exércitos durante a guerra. Os grupos de defesa dos direitos das crianças estimam que mais de 11 mil crianças estiveram envolvidas nos últimos anos da guerra. No entanto, estas crianças-soldado foram excluídas dos programas de desmobilização.




Uganda (Março de 2003)


O Exército de Resistência do Senhor (LRA) no norte do Uganda atingiu números recorde de sequestro de crianças tendo-as submetido a um tratamento brutal, como soldados, trabalhadores e escravos sexuais. Em 2002, estimava-se que cinco mil crianças tivessem sido sequestradas, um número que um ano antes era de menos de 100 crianças. Os rebeldes raptavam crianças de oito anos nas escolas e nas suas casas, as meninas eram usadas como "esposas" dos combatentes rebeldes.




Serra Leoa (Julho de 2003)


Uma denúncia da UNICEF alerta para o perigo que acarreta a falta de fundos internacionais para a reintegração de mais de sete mil crianças outrora combatentes nas guerras civis naquele território. O acordo de paz estabelecido na Serra Leoa, em 2000, prometia educação para as crianças ex-soldado como forma de lhes possibilitar estruturar-se para a sua sobrevivência. Muitas destas crianças tinham-se juntado aos grupos armados por falta de alternativas. "Só através de programas de formação se lhes abrirão as portas do futuro", alerta a UNICEF num comunicado.




Birmânia (Outubro de 2002)


Acredita-se que a Birmânia tenha o maior número de crianças-soldado do mundo. A larga maioria combate no exército de libertação da Birmânia, o Tatmadaw Kyi que consecutivamente recruta crianças de 11 anos. Estas são submetidas a treinos brutais e forçadas a participar nos combates e nos abusos cometidos contra os civis. As crianças estão também presentes em grupos opositores, ainda que em número bastante inferior.

Autor do Artigo: Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Como é possível existirem situações como estas que vos são apresentadas?
Como vão ser estas crianças quando forem adultas (se sobreviverem)?

15 comentários:

Vasco PS disse...

Ninguém pode ficar indiferente a este texto. É, simplesmente, chocante. E, sem dúvida, deprimente. Custa que a realidade possa, por vezes, ser tão horrenda, ultrapassando os limites da dignidade humana. Todos os casos expostos, dos diferentes países denunciados pela "Human Rights Watch" são preocupantes e reflectem uma situação para a qual todas as medidas se têm mostrado insuficientes, incapazes, falhadas.

Quanto à primeira questão, sinceramente, não consigo respondê-la...estas situações são ilógicas, apesar de reais, logo não haverá opiniões muito divergentes sobre este assunto: acho horrível e não consigo aceitar que tais situações ainda ocorram.

Quanto à segunda questão, como é óbvio, não somos adivinhos, mas também, não é difícil compreender que "futuro" não é uma palavra que conste no vocabulário destas crianças. A esperança delas deve-se ter perdido há muito tempo. Quando forem adultas, vão ser sempre marcadas pela sua vivência passada. Atrocidades como estas não têm cura, que eu saiba.

É uma questão urgente, que já deveria ter sido solucionada. No entanto, continua tudo na mesma; a imensidão do problema torna-nos impotentes; sem força para inverter esta tendência.

Como diz o poema do timorense, Fernando Sylvan:

Meninas e Meninos

Todos já vimos
nos livros, nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de meninas e meninos
a defender a liberdade de armas na mão.

Todos já vimos
nos livros, nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de cadáveres de meninos e meninas
que morreram a defender a liberdade de armas na mão.

Todos vimos!
E então?



É a única questão que resta. Todos nós já vimos situações de crianças-soldado... E então?

Paulo disse...

Bom, penso que o Vasco já referiu os adjectivos que melhor se enquadram nesta atrocidade, mas é de facto horrendamente estúpido aquilo que fazem com estas crianças. Não pode haver explicação possível para o que se faz e ninguém consegue arranjar uma medida que seja que possa, pelo menos, atenuar a situação. Sinto-me muito triste e impressionado com a leitura destes textos, principalmente porque são uma realidade do nosso mundo actual, algo que nós não podemos evitar.

Mais uma vez, a maioria dos casos ocorre em países pouco desenvolvidos, o que não é de estranhar, pois encontram-se constantemente em guerra. Estas crianças andam de mão dada com o perigo e com a ameaça de morte que paira sobra elas. O número de crianças-soldado nestes países é alucinante e demonstra aquilo que por que passam as populações locais. Quanto ao futuro destas crianças, é sempre incerto, mas penso que o mais provável é que se tornem verdadeiros animais afectados pelos traumas de guerra, sempre presentes nas suas mentes, até porque esta é a única realidade que estas crianças conhecem.

Não consigo imaginar o que sentiria se, com 7 ou 8 anos, me arrancassem dos braços dos meus pais, me roubassem a educação e um futuro estável e me colocassem no seio de uma guerra que não fizesse sentido nenhum. Revolto-me profundamente contra esta situação, mas é apenas isso que posso fazer, infelizmente. Alguns dizem que o sonho comanda a vida, mas o sonho destas crianças há muito que fugiu pelo canudo de uma arma.
Espero que toda a gente que está de alguma maneira relacionada com esta atrocidade que comentem com estas crianças apodreça no fundo de uma valeta.

R disse...

Como define o Paulo, esta situação é realmente revoltante e é a prova de que existem ainda e existirão sempre injustiças no mundo... Este tipo de casos que envolvem o "recrutamento" de crianças para guerras civis por exemplo, é visível na maior parte das vezes, nos países do Terceiro Mundo. No entanto cada vez mais assistimos a casos de exploração e abuso de crianças, não só nesses países como em todo o mundo. No caso concrecto da guerra, além da exploração as crianças são directa ou indirectamente "enviadas" para uma vida replecta de sofrimento e dor, quanto mais não seja das más recordações que irão ter. Muitas das vezes quando não são obrigadas a pertecer a esses grupos ou guerrilhas, são iludidas com bens materiais ou mesmo ideologias e aderem ao grupo por pura ignorância. Em países onde a educação não é o seu forte essa é uma tarefa facilitada.
São casos graves, arrepiantes e que nos fazem pensar em como será possível seres humanos colocarem numa frente de combate crianças indefesas e ainda ingénuas, na minha opinião. Penso que só pessoas sem escrúpulos é que continuam a fazer isso nos dias de hoje.
Penso que essas crianças nunca conseguirão ser totalmente felizes (infelizmente) e como referiu o Vasco, futuro é o que elas não terão possivelmente.
Já disse na aula mas repito para quem inventualmente não tenha prestado atenção: existe um bom filme, na minha opinião, que retrata toda esta situação (se não estou em erro na Serra Leoa) e que aconselho a todos os que ficaram chocados com este post. O filme é "Diamante de Sangue" com Leonardo Dicaprio e é um pouco violento mas mesmo assim vale a pena ver.
Não tendo mais nada a dizer, só espero que estas situações sejam cada vez menos frequentes e se possível que terminem de uma vez.

Margarida Lourenço disse...

Doloroso, irracional e completamente desumano. Esta situação choca e faz chocar, e muitas das vezes imparável.

Não consigo entender, do meu ponto de vista, como se podem cometer tais atrocidades. Crianças são brutalmente retiradas da sua vida, livre de tais obrigações, para dispararem armas ou serem mortas em frentes de combate. São usadas como cobaias para activar minas, bombas, ou simplesmente espiarem sobre o inimigo.

Algo deste género provoca danos nestas crianças que serão irreversíveis no futuro. Tornar-se-ão dependentes do apoio, ou simplesmente serão abandonadas ao cuidado de terceiros. Sim, estas são as mesmas crianças que um dia desejaram e sonharam. Agora, tudo o que desejam é ter uma vida, longe da guerra.

As ajudas fracassam. Repete-se, por vários países, a rapazes e raparigas, que viverão pouco da sua vida, ou passarão a sua maioria a combater doenças crónicas.

"A criança deve ser protegida do preconceito, deve ser educada com o espírito de amizade entre os povos, de paz e fraternidade, deve desenvolver as suas capacidades para o bem dos seus semelhantes"

É este o 10º princípio da Declaração Universal dos Direitos da Criança.

Agora digam-me, onde se verifica o cumprimento desta declaração nos olhos destas crianças que, nos nossos dias, são enviadas para frentes de combate?

Abrir os olhos, lutar por uma causa é fundamental.

O ser humano está, sem dúvida, a caminhar para trás.


A guerra pode por vezes ser uma necessidade cruel. Mas não importa o quão necessária, será sempre cruel, nunca boa. Nós não aprenderemos a viver em paz conjunta matando as crianças uns dos outros. (Jimmy Carter)

Em paz, os filhos enterram os pais, mas em guerra, os pais enterram os filhos. (David Friedman)

Se tem que haver problemas deixem que seja nos meus dias, para que as crianças de amanhã tenham paz. (Thomas Jefferson)

Nuno Bap. disse...

Estas notícias não ficam indiferentes a qualquer um, isto é chocante, preocupante para qualquer ser humano. Eu pergunto-me a mim próprio muitas vezes quando ouço ou veijo estas noticias, qual será o FUTURO destas crianças?
Todas as crianças tem o direito a uma família, a uma protecção especial, a um nome e uma nacionalidade, a crescer com saúde, amor, segurança, tem direito a receber educação.
Mas o que temos visto muitas vezes, é o contrario, crianças com armas nas mãos por vemos na imagem, trabalho infantil que prejudica a saúde, a educação e o desenvolvimento das crianças.
Se ninguém tomar medidas para defender estas crianças, elas vão crescer no futuro e puderam tornar-se cada vez pior e vir a dar os mesmos exemplos aos seus filhos.
Vamos tentar todos juntos melhorar a vida destas crianças e dar-lhes uma vida melhor.

Soraia disse...

Infância perdida...

1- A criança deve ter condições para se desenvolver física, mental, moral, espiritual e socialmente, com liberdade e dignidade.
2- A criança tem direito a um nome e uma nacionalidade, desde o seu nascimento.
3- A criança tem direito à alimentação, lazer, moradia e serviços médicos adequados.
4- A criança deve crescer amparada pelos pais e sob sua responsabilidade, num ambiente de afecto e de segurança.
5- A criança prejudicada física ou mentalmente deve receber tratamento, educação e cuidados especiais.
6- A criança tem direito a educação gratuita e obrigatória, ao menos nas etapas elementares.
7- A criança, em todas as circunstâncias, deve estar entre os primeiros a receber protecção e socorro.
8- A criança deve ser protegida contra toda forma de abandono e exploração. Não deverá trabalhar antes de uma idade adequada.
9- As crianças devem ser protegidas contra prática de discriminação racial, religiosa, ou de qualquer índole.
10- A criança deve ser educada num espírito de compreensão, tolerância, amizade, fraternidade e paz entre os povos.

In “Declaração Universal dos Direitos da Criança” (1959)

Estas pobres crianças-soldado, não usufruem de NENHUM destes direitos…aliás elas não têm o direito nem de ser crianças. Acho esta situação mais que revoltante, é inconcebível, inadmissível, chocante…é algo que me ultrapassa.

Como é possível que em pleno século XXI aconteçam situações destas sem que ninguém faça nada para mudar?
Estas crianças não têm nada, não têm um lar, não têm amor dos pais, não terão acesso à educação, a um futuro digno, não serão ninguém na vida.
Serão uns adultos frustrados, com má índole, pois penso que um trauma destes não se supera nunca.

Que futuro terão estas crianças? Que perspectivas de vida? Será que algum dia conseguirão amar alguém, depois de terem o seu coração cheio de ódio, por as terem privado da sua infância?
É muito triste saber que há crianças que com 7 ou 8 anos que em vez de estar na escola (que muitos de nós passamos a vida a criticar e a dizer que é uma “seca”) andam por aí com metralhadoras na mão, a serem treinadas para matar…isto é horripilante.

Como se sentirão aqueles pais a quem são retirados os filhos para irem para a frente de combate?
Tirar uma criança dos braços dos seus pais, para lhe colocar uma arma nas mãos é desumano e é nestas alturas em que eu penso:
Será que estas pessoas continuarão impunes?????

INOCÊNCIA PERDIDA

As tuas palavras eu li
Com elas eu aprendi
O mais inimaginável eu conheci.
Não posso deixar de pensar naqueles inocentes e em ti.
Nos teus olhos eu vi
O que tu viveste e o que eu nunca assisti.
Muito sangue correu pela tua mão
Drogado de dor e sem um único pão.
Eu senti a tua dor
A tua coragem e o teu pudor
Inocente foste e com amor.
Tudo o que tinhas te foi roubado
Sem olhar ao teu pavor.
Mas contigo eu senti
Apesar... A tua fé e o teu amor
Apesar... Tua valentia e força interior
Apesar... Te levantou muitas vezes as vozes do amor.
Apesar... No teu coração ficou marcada a paixão da inocência desvalida.
Apesar... O amor faz milagres e tu possuíste esse dom.
Te deixou seguir em frente na tua longa caminhada onde um dia te perdeste.

Poema de “Alcina”,dedicado a Ishmael Beah, uma criança soldado na Serra Leoa.

Margarida Lourenço disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro disse...

Infância Roubada…

É deveras chocante saber que crianças inocentes que deviam estar na escola, a aprender a ler e a escrever, a tentarem ser alguém na vida, sejam retiradas dos seus pais e obrigadas a batalhar em guerras, que elas nem sabem porque estão a acontecer!

Estas crianças, são como o professor Eduardo Vales disse numa das nossas aulas “carne para canhão”.
Elas são postas nas frentes de combate e todos os dias são mortas aos milhares em nome de guerras sem justificação.

O que mais me revolta, é que os países ditos desenvolvidos e defensores dos Direitos Humanos (que consideram ser invioláveis), permitam que situações destas passem impunes, sem “mexerem uma palha” para tirar estas crianças da situação em que se encontram e proporcionar-lhes um futuro…longe das armas, do sangue, do sofrimento.

Um futuro junto dos seus pais, com carinho, atenção, brincadeiras e sorrisos.
Ser criança, é ser inocente e a inocência foi-lhes roubada, tal como a sua infância, quando lhes tiraram os brinquedos e os trocaram por armas de fogo…

É triste.
Mais que isso, é desumano e arrepiante, mas infelizmente é o mundo em que vivemos.
Quem me dera poder mudar isso.

Joana Santos disse...

Sem margem de dúvidas esta é uma das noticias que por mais indiferentes tentemos ser nunca conseguimos. Como é possivel alguem, supostamente humano, "lançar" crianças em campos armadilhados? Pequenos seres humanos que tão pouco do mundo, ou pelo contrario, pelo menos conhecem mais que eu, infelizmente, estando em permanente contacto com o lado inverso da moeda,o lado terrorifico que este mundo nos nossos dias consegue ser.

Eu poderia citar os dez príncipios aos quais as crianças têm direito. Mas de quê me serviria? São todos eles violados e ninguem se rege por essas LEIS, sim com letra maiúscula dada a sua maior importância.

"Como é possível existirem situações como estas que vos são apresentadas?"

Nem por termos todos os professores do mundo, nem por assistirmos a todas aulas (nós temos essa hipotese)conseguiriamos responder a essa questão. Mas a guerra é quase como a selva, ganha o mais forte. Para estas crianças a única maneira de sobreviverem é participando nestas atrocidades fora de tempo, algumas delas já sem nexo de existirem!


"Como vão ser estas crianças quando forem adultas (se sobreviverem)?"

Aqui servia de exemplo:
"O que queres ser quando fores grande?"
criança: "Quero ser estudante."

Mas, salvo exepções, não se concretizará. Do meu ponto de vista, é que o mundo, a outra parte do mundo, está demasiado preocupada com o seu umbigo e esquecem-se dos pequenos tratados que assinaram se façam cumprir.. cada um pensa em ser o melhor,em ter maiores quantidades de petroleo,. mas que lhe interessa se no outro lado do mundo crianças servem de escudo humao? Não lhes afecta em nenhuma medida!

Adjectivos nunca seriam suficientes para descrever as crueldades realizadas nesta "selva".

Soraia disse...

Joana, o facto de citar os 10 direitos que constituem a Declaração Universal dos Direitos das Crianças, não serve de nada realmente, pois todos eles são desrespeitados...mas nunca é demais lembrar às pessoas tudo aquilo a que as crianças têm direito e que lhes é na maioria das vezes negado.

Vasco PS disse...

Tive de vir aqui defender a minha "área". De facto, assistimos, todos os dias, a um desrespeito pelos Dtos. Humanos, e particularmente, atendendo ao tema em análise, aos das Crianças. Mas, devemos ter em conta que, o facto de estes princípios existirem é já excelente, para uma espécie como a nossa, a humana, capaz das maiores barbaridades.

Assim, terem-se lembrado destes pontos, a meu ver, já deveria ser premiado com um Nobel da Paz. Ironias à parte, convém referir que, é por estes princípios que, todos aqueles que lutam pela defesa dos direitos da Crianças se regem ou orientam e que, sem eles, a sua luta seria bem mais difícil.

Como é óbvio, esperamos sempre que estes sejam aplicados, o que não acontece, sobretudo por falta de vontade e, como não poderia deixar de ser, desumanidade (palavra que já se utiliza mais que a inversa).

Cabe a todos a defesa do articulado desta Carta; esquecemos, no entanto, no nosso quotidiano, de darmos ênfase a estes aspectos, para que sejam tornados uma realidade, na prática.

Soraia, obrigado por nos teres lembrado destes pontos. Aliás, obrigado Soraia, por os teres colocado aqui, visto existir muita gente que nem sabe sequer o que são.

Maria Joao disse...

Chocante, situações destas sao realmente chocantes, se é que esta é a palavra correcta para designar factos tão desumanos como estes!


Acho que este tipo de realidades são inexplicáveis!

Como é possível usarem crianças, a bem ou a mal, já que muitas são mesmo retiradas às famílias, para serem tornadas crianças-bomba e serem postas na frente d combate??


Como sabemos, estes casos passam-se em países de terceiro mundo, relectindo um pouco a desgraça que vai no seu país/região.


Qual será o futuro destas milhares de crianças em todo o mundo que todos os anos morrem por causas tao parvas quanto estas?


Será que não deveríamos parar para pensar um bocado?
Reflectir sore este assunto, para de atropelar os direitos humanos, seria um bom princípio, e de certeza que íria fazer felizes muitos milhares de pessoas em todo o mundo, assim como iria acabar com estas situações tao chocantes que muitas vezes passam despercebidas!

"somos" tão bons numa coisas e tao desumanos noutras.. enfim.. é o mundo em que vivemos!

E salve-se quem puder!

Ana Medeiros disse...

Penso que nada mais há a acrescentar. Sou da opinião de todos os meus colegas, e quem dera fosse da opinião de todos os seres humanos.
Nao consigo, nem é possivel sequer, imaginar o que estas crianças sofrem.
E a primeira pergunta, fica presente em todos nós. Como é possivel?
Sinceramente, não sei responder, porque a única resposta que tenho a esta pergunta, é uma mão cheia de outras tantas perguntas. Será que quem recruta estas crianças, quem as arranca da familia, não tem filhos? Um irmão pequeno, um primo? Será que não lhes fica a pergunta: “e se fosse o meu filho, o meu irmão, o meu primo?” ? Não percebo, que raio de Humanidade é esta, que incute aos pequenos a “tarefa” dos grandes? Já não basta criar guerra, para ainda serem as crianças os seus soldados? Nesta parva “dança da virilidade” de que é feita a guerra não será uma cobardia os combatentes serem crianças? Tanto poder há no mundo por parte de tantos, tanto dinheiro, tanta vontade e não há ninguem que passe do papel ao terreno? ....
Quanto à segunda pergunta, estas crianças morrem sempre. No fundo, a criança deixa de ser criança, para se tornar outra coisa que não adolescente, ( como seria o ciculo natural da vida) outra coisa se não máquina. É obrigada a dar um salto no capitulo “ infância”. Não há jogos nem brincadeiras com amigos, não há escola nem recreio, não há casa nem o cheirinho de mãe, não há aniversário nem brinquedo, não há desenhos animados pela manha nem tão pouco pequeno almoço na cama... não há o ser pequeno! São transformados em máquinas, e quem sabe, mais tarde serão eles a tirar outros meninos ás familias. A raiva passa a ser o combustivel para andar. Matar passa a ser profissão, e “educar” as crianças da mesma forma que os “educaram”, faz parte...
É uma bola de neve.
E quanto ao facto de violações, páro! Poderia dar-vos um exemplo do que sofrerá uma criança vitima de violação, mas iria parecer um tanto estranho...
Para concluir, espero que nós, que tivemos direito a tudo o que deviamos em crianças, nós que somos os homens e mulheres grandes do futuro, nos esforcemos, desde já, para mudar esta situação. E não pensemos que somos uma gota de água num oceano, muitas gotinhas fazem rios!

Vasco PS disse...

Estou a gostar disto! Mais gente. Gostei muito do teu comentário Ana. Abraço (tens razão...um rio)

Unknown disse...

Direitos Humanos ofendidos da pior forma possível…

Sim, da pior forma possível, pois ao utilizar crianças, seres indefesos e ingénuos que caem nas mãos sujas daqueles que delas se aproveitam para alcançarem os fins pretendidos, não pode ser entendido de outra forma. Fins esses muito desejados por quem recruta as crianças, mas que para estas não passam de uma armadilha que não entendem, certamente, mas que as arrasta para um poço sem fundo, e muito muito escuro. A escuridão, a guerra, a crueldade, o sangue e a injustiça, por certo que ficarão por muito tempo gravadas nas pobres mentes que a isto se sujeitaram, ainda numa fase tão inexperiente da sua vida, a sua infância. Infância esta que se perde num abrir e fechar de olhos, ou melhor ao som de um tiro disparado por mãos frágeis e inocentes. Isto é imperdoável, completamente diabólico e ingrato. Não se pode baixar as mãos, pois alguma coisa tem de ser feita para que não se continue a tomar conhecimento de tamanhas brutalidades. Ficando completamente chocados perante situações que revoltam e revoltam tanto que parece que algo nos cega e por isso nem se quer conseguimos pensar em punição adequada para tais autores.

É realmente muito revoltante ver que tudo isto acontece um pouco por todo o terceiro mundo, desde a Ásia, um pouco por toda a Africa Subsariana, atingindo também uma das nossas ex. Colónias, Angola, e também na América Latina. Alguma coisa tem de ser feita e alguém tem de dar os primeiros passos para que os culpados paguem pelo mais violento crime da humanidade, atentar contra as crianças.

Existem relatos chocantes destas crianças que nos fazem perceber, se é que isso é possível, o sofrimento pelo qual estas crianças passam e que muda para sempre as suas vidas e a sua maneira de pensar e de agir. Muitas destas crianças, para além de abandonarem as famílias, são também obrigadas a atentar contra elas. Nos países onde esta situação é realmente muito critica, acontece ainda que estas crianças são obrigadas a matar os seus próprios pais. Com isto, crianças ainda muito jovens passam a ter como referencia quem os recruta e obedecem ao seu mando. Já para não falar que passam a encarar a brutalidade como se fosse a coisa mais normal do mundo, pois depois de terem assassinado os seus próprios pais ficam capazes de tudo.
É desta forma que rebeldes e mesmo forças governamentais se aproveitam destes seres frágeis e desprotegidos.
No meio de guerra já ficou provado que tudo é possível, e infelizmente nem as crianças são poupadas.