Crise financeira coloca economia mundial em território desconhecido
15.03.2008, Sérgio Aníbal
15.03.2008, Sérgio Aníbal
Petróleo a 110 dólares, divisa norte-americana em queda e acesso ao crédito mais difícil. A economia mundial enfrenta um cenário nunca antes visto
Dólar com novos mínimos face ao euro, libra e iene. Petróleo, ouro e bens alimentares com máximos históricos. Clima de desconfiança e medo entre as instituições financeiras. E queda a pique dos preços e vendas de casas nos EUA, Reino Unido e Espanha. A combinação de notícias negativas que tem surgido, dia após dia, nos mercados internacionais está a colocar a economia mundial em território desconhecido, tornando cada vez mais difícil a tarefa das autoridades políticas e monetárias de limitarem os danos e controlarem a situação.Ontem, mantendo a tendência da última semana, repetiram-se os recordes, a instabilidade e as ameaças de falência nos mercados mundiais, fazendo parecer que tudo o que pode correr mal acaba, na actual conjuntura, mesmo por acontecer. Um dos primeiros problemas é a queda do dólar. Não é uma surpresa, tendo em conta excessos de endividamento cometidos ao longo da última década nos EUA, mas a verdade é que está a superar todas as expectativas. Aos preços de ontem, era possível trocar um euro por 1,54 dólares e com uma unidade da divisa norte-americana já não se conseguiam comprar nem 100 ienes. E se há sempre quem, a curto prazo, possa beneficiar com um dólar fraco - os exportadores norte-americanos e os turistas europeus, por exemplo - começa-se a chegar a um ponto em que, de uma forma ou de outra, todos acabam prejudicados. A queda do dólar, para além de colocar a Europa e Ásia em dificuldades para escoar as suas exportações, está também a contribuir de forma decisiva para a escalada de preços das matérias-primas. Os produtores colocam os seus bens nos mercados em dólares e pretendem, com uma subida de preços, compensar a perda de poder de compra que têm devido à quebra desta divisa. Desta forma se explica uma parte significativa da subida do preço do petróleo - que ontem já valia 111 dólares por barril - e dos preços de bens alimentares como o trigo e o milho. E aqui há outro problema. A subida poucas vezes vista dos preços nas matérias-primas, especialmente do petróleo, leva a que a inflação se mantenha persistentemente alta em quase todos os pontos do globo. Ontem, o Eurostat anunciou que, em Fevereiro, a inflação na Zona Euro subiu para um máximo de 3,3 por cento. Mais inflação significa não só uma perda de poder de compra dos consumidores, mas também menos espaço para que os bancos centrais, especialmente o europeu, possam cortar as suas taxas de juro e, assim, ajudar a contrariar o aperto de crédito a que se assiste nos mercados financeiros e a dar um estímulo para que as empresas e as famílias invistam e consumam mais.
Situação única
Os resultados desta combinação de factores já estão à vista, especialmente nos EUA. Ontem, Martin Feldstein, ex-presidente do NBER - a entidade que define nos EUA se a economia está ou não em recessão - já reconheceu que "a situação é muito má, está a ficar pior e os riscos apontam para que venha ainda a deteriorar-se mais". Esta declaração é apenas a última amostra da incapacidade que começam a revelar os economistas em antecipar quais podem ser as consequências desta combinação, muito poucas vezes vista, de factores negativos. "É uma situação relativamente única", afirma Luís Campos e Cunha. "Não é fácil encontrar paralelo histórico", reconhece João Ferreira do Amaral. O ex-ministro das Finanças diz estar "muito preocupado", especialmente depois da sequência de notícias do último mês, assinalando que "esta é uma crise que atinge o coração da economia, que é o sistema financeiro". Ferreira do Amaral, professor do ISEG, defende mais estímulos orçamentais e diz que "o BCE está a cometer um grave erro ao não descer taxas, aumentando as probabilidades de que a crise monetária e financeira se torne numa crise económica real". "Está aqui a ser jogado muito do futuro do estatuto do BCE", afirma. Campos e Cunha, pelo contrário, avisa que "as receitas tradicionais podem, neste caso, não funcionar" e afirma que a preocupação deve estar centrada em garantir que se "pode socorrer as entidades financeiras que entrem em dificuldades".
Fonte: http://jornal.publico.clix.pt/ (15/03/08)
4 comentários:
De facto, deparamo-nos actualmente com uma crise financeira que teima em não abrandar, e que parece piorar a cada dia que passa. A verdade é que em menos de dois meses, a crise dos mercados financeiros voltou a provocar descidas nas acções a nível global, e, tal como no ultimo “crash” bolsista a 21 de Janeiro passado, as bolsas asiáticas foram as primeiras a mostrar que a crise norte-americana pode vir a fazer muitas vitimas nas instituições financeiras mundiais.
Um dos problemas é a desvalorização do dólar face ao euro. No dia em que estou a comentar esta notícia, 18 de Março de 2008, é já possível trocar um euro por 1,59 dólares, o que significa que as exportações europeias e mesmo as asiáticas irão ter muitos problemas face a um dólar “enfraquecido”, situação que também se fará sentir em Portugal.
Outro problema é a subida drástica do preço do petróleo, que já atingiu os 111,80 dólares em Nova Iorque. A diferença entre este “choque petrolífero” e os que aconteceram na década de 70 é que este aumento dos preços do petróleo é acompanhado pela subida dos preços de outros produtos, como o ferro, o cobre ou os cereais. Mas voltando ao petróleo, soube recentemente que os custos de produção desta matéria-prima rondam os 60 dólares. Isto significa que o resto provém de três factores: o capital especulativo, o “fear factor”, isto é, o papel geopolítico dos Estados, e a desvalorização do dólar, da qual já falei. Em relação ao primeiro ponto, o capital especulativo investido nos últimos cinco anos aumentou três vezes mais, de trinta milhões de dólares para noventa. Algo significativo, não? O segundo ponto está relacionado com o que diz a notícia relativamente ao clima de desconfiança e ao medo entre as instituições financeiras.
Em relação a Portugal, parece que o nosso país ainda nem sequer recuperou do 1º choque petrolífero, e está claramente muito mal preparado para aguentar com as consequências desta crise actual.
Um pouco à parte deste contexto, eu partilho da opinião de que um dos problemas actuais da economia mundial é que muita gente envolvida neste meio só se preocupa com lucros próprios e não tem a verdadeira noção do que se passa com as economias emergentes. Só como exemplo, julgo que os países emergentes já representam cerca de 50% do PIB global, o que é muito significativo e até parece mentira. Ouvi na SIC Noticias uma frase que me deixou muito curioso e que gostaria de partilhar com os visitantes deste blog: “ Não podemos ver o século XXI com óculos do século XX”.
Voltando à crise, penso que esta situação dificilmente poderá piorar, mas a verdade é que já atingimos um ponto que seria há uns tempos impensável, portanto não posso ter a certeza de nada, porque toda esta crise é isso mesmo, imprevisível. Há quem diga que esta crise será a pior desde a Segunda Guerra Mundial. Não sei se será mesmo assim, mas a verdade é que dificilmente conseguiremos evitar um período negro num futuro próximo.
Já ultrapassamos as 4000 visitas. Fantástico! Este blog é mesmo um sucesso. Ainda bem que vem tanta gente ler as noticias e comentá-las. Penso que iremos chegar brevemente às 5000 visitas e talvez até ao final do ano ultrapassemos as 6000. Ou mais!
Parabéns a todos os que visitam o blog, principalmente aos que comentam, e sobretudo ao professor Eduardo Vales, que teve esta excelente ideia e a pôs em prática.
Tenho dito!
Crise financeira global
Diz-se nesta notícia que a crise financeira coloca a economia mundial em território desconhecido, e não é para menos, pois desde o final da 2ªGM que o mundo não enfrentava uma crise financeira tão grave como esta que se verifica no momento. Crise esta que nos afecta a todos, pois diminui o nosso poder de compra. Ao nível das transacções financeiras e outras relações comerciais entre países, a situação complica-se ainda mais, pois com o dólar a subir desta maneira, os países europeus e asiáticos vêm a sua situação difícil de ser bem sucedida no mercado mundial. Não conseguem exportar os seus produtos com tanta facilidade, devido à baixa do dólar. Assim o futuro económico torna-se negro e a Europa e Ásia já não sabem que opções serão as melhores para serem adoptadas. A posição do Banco Central Europeu já é bem conhecida, e teima em não baixar as taxas de juro. Não sei se é bom ou não, pois na verdade não percebo muito de economia, mas na verdade, a minha opinião quanto a esse assunto não deixa de ser desfavorável, pois esta opção do Banco Central Europeu, agrava a nossa situação económica. Que o digam os portugueses, que como consequência disto vêem os juros dos empréstimos para a habitação, sempre a subir. Não tenho dúvida nenhuma que tudo isto se relaciona. Por outro lado também acredito que o BCE tem a intenção de que tudo se resolva da melhor forma possível, pelo menos, para os cofres europeus.
Quanto ao preço das matérias-primas, nomeadamente o petróleo, continuar a aumentar, é assustador, visto estarmos tão dependentes deste. Acrescento ainda que na minha opinião a situação vai ser difícil de se resolver. Geralmente sou optimista, mas neste caso, e nos dias de hoje, relativamente a questões económicas, sou por excepção pessimista. É uma pena, espero por isso que a situação se altere para que a vida e os cofres de todos melhorem a sua realidade vazia.
PS: Tens toda a razão Paulo. Este blog continua a revelar que é uma iniciativa muito bem sucedida e que tem envolvido a participação e empenho daqueles que por norma o comentam. Espero que assim continue. É através dos nossos comentários que hoje festejamos esta chegada às 4000 visitas!
Enquanto lia a notícia tive uma vaga impressão de que se tratava de Portugal e já estaríamos a enfrentar uma “portagalização”, para muita pena minha, ou não assim tanta, foi puro engano! Continuamos insignificantes!
Ora bem, sinceramente eu não percebo muito de economia, é-me desconhecido as razoes das constantes crises económicas, mas a este passo ainda vamos acabar a pagar o ar. É que sim, todas estas alterações nas moedas têm consequências no Estado e quem é que sofre? A população que fica encarregue de impostos cada vez mais pesados! Mas de uma coisa tenho a certeza, é que a base é imperdoavelmente o petróleo! Eu sugiro, eu apelo já não estará na altura de procurar e Encontrar um substituto desta matéria prima?? Só assim poderemos sobreviver a tantas crises sucessivas.
Agora a moeda.. Porquê que tem de ser esta a protagonista dos telejornais? Porque não pode o Euro ou o Iene substitui-la? Podem ser perguntas sem nexo.. mas se vivemos num mundo multicultural com diferentes pólos de actividade porquê que tem de ser um só conjunto de estados a comandar tudo o resto? Porque não pode agora a Europa “reinar”? Ou sei lá a China por exemplo?
Uhm.. serão muitos cães a um só osso?
P.S. Talvez tenha sido um comentário distante do ambicionado mas é o meu ponto de vista sincero, e talvez errado.
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