sábado, 27 de junho de 2009

Parecer sobre a prova de Geografia A da 1ª Fase pela Associação de Professores de Geografia


Como o prometido é devido, aqui fica o parecer da Associação de Professores de Geografia (APROFGEO) relativo à prova de exame de Geografia A da 1ª Fase de 2009. Como poderão constatar, o Parecer é muito crítico em relação a determinados aspectos da prova, nomeadamente a utilização de conceitos que não fazem parte do programa (diagrama triângular, albedo, ...), o maior ênfase nos conteúdos do 10º ano (mais facilmente esquecidos pelos alunos) em detrimento dos conteúdos do 11º ano (mais frescos na memória dos alunos) e, ainda, alguns critérios de classificação pouco correctos, tendo em conta o conteúdo das respectivas perguntas, nomeadamente na já tristemente famosa questão V 1.



PARECER SOBRE A PROVA DE EXAME DA 1ª FASE
GEOGRAFIA A PONTO 719 2008/2009


Aspectos positivos:

Como no ano passado, a prova está de acordo com as instruções de exame (1) quanto à estrutura e quanto às competências testadas. As instruções são suficientemente apelativas e estão bem organizadas. (2) Em relação aos documentos introdutórios, as fotografias, os mapas e os gráficos são bem legíveis. Os dois itens mais cotados, especialmente o do grupo V, favorecem a articulação de saberes. Os critérios gerais de classificação são claros e suficientes e, nos critérios específicos de classificação que dispõem da ressalva «ou outras consideradas relevantes» facilita o trabalho dos correctores.
A prova apresenta diversidade quanto ao grau de dificuldade exigido e o tempo atribuído é suficiente para a sua resolução.
Embora com distinto grau de dificuldade, as duas grandes áreas metropolitanas do País são abordadas (grupos IV e VI), ou seja, há um grupo dedicado «ao Norte» e outros dedicado «ao Sul».


Aspectos negativos:

Grupo I

Não se entende a inclusão de um diagrama triangular – grafismo com que poucos alunos estarão familiarizados – logo na introdução do 1º grupo, uma vez que todos os itens desse grupo podem ser respondidos sem o referido gráfico; mas se fosse esse o caso – a interpretação do gráfico ser imprescindível para responder a qualquer dos itens – seria extremamente penalizante para a larga maioria dos alunos uma vez que se trata de um tipo de gráfico de difícil leitura e que não é explicitamente referido no Programa (nas competências essenciais do Ensino Básico que deverão estar adquiridas é referido «ler gráficos lineares, de barras e sectogramas; (…) construir gráficos lineares e de barras; » posteriormente, nenhum tipo de gráfico é descriminado).


Grupo V

Novamente incluída a radiação solar, continua a não ser considerada a abordagem sugerida no Programa de Geografia A para este tema/conteúdo, em se afirma que «A radiação solar – deve privilegiar uma abordagem que evidencie as condições específicas do território nacional relativamente à possibilidade de valorizar economicamente o clima, através da rentabilização da insolação na procura de energias alternativas e na potencialização do turismo.» Com a agravante de que, em todo o grupo – 4 itens – só há um (item 4) relativo a Portugal Continental e esse tem mais a ver com os recursos marítimos do que com a radiação solar. No item 1, a formulação do item parece só fazer sentido após a leitura dos critérios específicos de classificação pois a «redução da radiação ultravioleta» é uma resposta remota atendendo à figura da nebulosidade; ou seja, haveria que incluir outro tipo de gráfico/foto ou, em alternativa, não incluir a da nebulosidade. No item 3, é considerada resposta correcta a explicitação do conceito de albedo que não faz parte dos conceitos incluídos no programa, embora se dê como alternativa a explicação de como a cor condiciona o grau de absorção/reflexão. No item 4., duvida-se que a referência à «dilatação térmica do oceano» como uma das consequências do aquecimento global seja do conhecimento dos alunos, uma vez que este assunto nem faz parte explícita do Programa, pese embora a sua enorme actualidade e difusão nos Meios de Comunicação Social; por outro lado, dificilmente os alunos irão descrever os novos acidentes geográficos decorrentes da submersão da costa, limitando-se a dizer que a nova linha de costa ficará mais no interior do que actualmente, pois nada na formulação do item (sem ter em conta os critérios específicos de classificação) aponta para a descrição de novos acidentes geográficos.

Grupo VI

No item 2, para os alunos não familiarizados com Lisboa, a avenida da Liberdade, face às características que apresenta na figura, fica no CBD e não «na expansão do CBD» como é referido no respectivo critério específico de classificação; de igual modo, desconhecerão se é ou não uma área «de grande prestígio», uma vez que a existência de muitas das marcas patentes na referida avenida ocorrem também em grandes centros comerciais de outras cidades ou noutras áreas dessa cidade; no item 3 as possíveis respostas exemplificadas são todas características físicas da habitação o que não é explicitado na formulação do item; apenas o articulado «ou outras consideradas relevantes» permite tornear essa limitação.

Quanto ao item 4, existe uma grande diferença no que é exigível e exigido (em temos dos critérios específicos de classificação) quanto ao primeiro aspecto do item «a fixação das indústrias na periferia da cidade» e quanto ao segundo - «a permanência de indústrias no interior da cidade». Nos respectivos critérios de classificação enquanto para o primeiro aspecto eles são detalhados, para o seguinte tornam-se demasiado vagos «características dos seus produtos» (que características?) e não são referidos quaisquer factores de localização para as indústrias de consumo diário «oficinas de reparação». No entanto, se um/a aluno/a responder completamente a um dos aspectos e incompletamente ao outro a cotação a atribuir é idêntica, independentemente do aspecto que é mais significativo. E nestes itens a que são atribuídos 20 pontos não há a ressalva «ou outras consideradas relevantes». Ou seja, a elaboração da resposta relativa a um destes itens - em que se pretende avaliar também a competência na expressão escrita - poderá ser seriamente penalizada pela abordagem «deficiente» de um dos dois aspectos
considerados, pelo que deveria existir um grande cuidado para que fossem completamente equivalentes em grau de dificuldade/ pertinência. Tal não se verifica no item 4. De igual modo, nada na formulação do item indica ao aluno quantos aspectos/características terá de referir. Só quando se tem acesso aos critérios específicos de classificação é que se constata que era preciso referir, neste caso, cinco aspectos diferentes, independentemente de a explicação ficar dada com a abordagem de dois, três ou quatro. É, assim, de prever que classificações globais da prova com nível elevado dificilmente ocorrerão.
Como no ano passado, continua a não haver qualquer menção às Regiões Autónomas.



Remate:

Trata-se, novamente, de uma prova acessível, com excepção do grupo relativo à radiação solar que privilegia conhecimentos/conceitos de Física em detrimento dos de Geografia de Portugal. Assim, os alunos que melhor compreenderam o que lhes foi proposto pelo Programa de Geografia A são penalizados pela inclusão de conteúdos menos significativos para a compreensão
da disciplina, pela existência de itens de escolha múltipla em que as respostas são óbvias ou pelas poucas oportunidades de avaliação de competências que impliquem a operacionalização ao nível da transferência. Ao contrário da prova desta fase, no ano passado, não há uma componente de ordenamento do território significativa, o que se lamenta.

Notas:

(1) Discordamos, no entanto, da valorização dos conteúdos do 10º ano decorrente da obrigatoriedade da inclusão do tema sobre a população que é leccionado no 10º ano: com este, a prova passa a ter três grupos do 10º ano e apenas dois do 11º.

(2) Mas ao serem informados de que, «se escrever mais do que uma resposta a um mesmo item, apenas é classificada a resposta apresentada em primeiro lugar.», os alunos são encorajados a «acertar» num item de escolha múltipla, quando não são capazes de escolher apenas uma única resposta. Lamenta-se, por isso, o abandono da instrução «É atribuída a cotação de zero pontos aos itens em que apresente: - mais do que uma opção (ainda que elas esteja incluída a opção correcta) …» que vinha vigorando nos anos anteriores à alteração do formato das instruções.

22 de Junho de 2009

Associação de Professores de Geografia (APROFGEO)


Fonte: http://www.aprofgeo.pt/moodle/file.php/1/docs/ParecerGeografia_1fase.pdf

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