terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Reino Unido: sindicatos dizem que interpretação de directivas comunitárias prejudica trabalhadores britânicos


Os sindicatos britânicos pediram ao Governo para rever a forma como as directivas europeias sobre circulação de trabalhadores está a ser interpretada, para garantir que os trabalhadores britânicos não são discriminados no acesso aos postos de trabalho criados no país.

Pelo quinto dia consecutivo, trabalhadores de empresas que prestam serviços na refinaria da Total, em Lindsey, voltaram a concentrar-se no exterior da unidade, prometendo manter o protesto até conhecerem os resultados das negociações entre a petrolífera francesa, os sindicatos e uma equipa de mediadores nomeada pelo Governo.

Na origem do protesto, está a atribuição de uma obra na refinaria, orçada em mais de 200 milhões de libras, a uma empresa italiana que planeava usar os seus próprios trabalhadores – italianos e portugueses – para realizar os trabalhos. Foi a chegada dos primeiros operários a Lindsey que levou os trabalhadores de outras empresas contratadas a suspender o trabalho, à revelia dos sindicatos, acusando a petrolífera de discriminação. “Trabalhos britânicos para os trabalhadores britânicos”, uma frase dita em 2007 pelo primeiro-ministro britânico tornou-se o “slogan” do protesto, que nos dias seguintes alastrou a outras centrais e refinarias do país e que se estendeu ontem a duas centrais nucleares.

Os trabalhadores querem garantias de igualdade no acesso aos empregos criados no país – numa altura em que o desemprego atinge quase dois milhões de pessoas –, mas o Governo de Gordon Brown rejeitou quaisquer medidas proteccionistas para enfrentar a crise.

Uma nova interpretação

Os sindicatos, que estão solidários com os trabalhadores embora não possam apoiar os protestos convocados ilegalmente, dizem que os britânicos estão a perder empregos por causa da forma como as directivas europeias de Livre Circulação e de Trabalhadores Deslocados estão a ser aplicadas no país. “Pela interpretação actual da lei, as companhias estrangeiras podem recusar empregar cidadãos nacionais em projectos no Reino Unido”, lê-se num comunicado emitido pela GMB, que representa cerca de 700 mil trabalhadores.

A confederação sindical diz ainda que “o Governo britânico deve adoptar o conselho do Parlamento Europeu e pressionar a Comissão Europeia a corrigir esta interpretação”.

A contratação de mão-de-obra estrangeira, mais barata, para empreitadas nos países europeus tem sido uma polémica recorrente. Em 2004, a empresa letã Laval contratada para um projecto na Suécia, foi forçada a parar as obras pelos sindicatos locais, que contestavam o facto de a companhia ter trazido os seus próprios trabalhadores, mediante salários inferiores aos praticados no sector. Três anos depois, o Tribunal Europeu de Justiça concluiu que os sindicatos estavam a restringir o direito da Laval a fornecer serviços no espaço europeu e recordava que a empresa não estava obrigada a pagar salários superiores aos mínimos definidos pela directiva de trabalhadores deslocados
. (Público, 03.02.09)




Estes trabalhadores britânicos estão apenas a lutar pelos seus direitos (contra directivas comunitárias) ou também há neste caso uma situação (encapotada) de xenofobia?

1 comentário:

Mara disse...

Ao longo dos tempos a imigração foi alvo de aceitação e rejeição, o que levou a fatalismos. E hoje recuamos no tempo e recordamos o nacionalismo.
Afinal não eram os ingleses os defensores do liberalismo na Europa e do mercado livre?
Procurarm o lado bom da moeda e gozaram da globalização mas assim que o jogo se reverteu, os estranjeiros são os primeiros a carregarem a culpa.
E agora querem adoptar medidas proteccionistas, a crise leva-lhes a que sejam incoerentes relativamente ao sua posição na História.
Pobres portugueses e italianos, mal remunerados, face a esta injustiça e nacionalismo, visto que antes dos britânicos se encontrarem "em baixo" eram a favor da imigração pois isto era-lhes bastante benéfico.
E quanto a uma elevada empregabilidade de ingleses no nosso território, nomeadamente no Algarve? Também deveriamos expulsá-los ?
Afinal estão a ocupar o lugar de um português.
Isto poderá não passar de um acto incooerente, visto que os britânicos só se preocuparam com medidas proteccionistas apartir do momento que se encontram em crise, não se importando com a remuneração do empregado estrangeiro e dos seus direitos.

Já dizia Michel de Montaigne (in ensaios) :
"O pior que vejo no nosso estado é a instabilidade, e que as nossas leis, não mais que as nossas roupas"