segunda-feira, 12 de abril de 2010

As duas tragédias de Katyn - 1940 e 2010


Presidente da Polónia Lesh Kaczynski falecido no passado dia 10 de Abril num acidente de aviação

Uma das notícias que mais me impressionou neste fim-de-semana foi o acidente aéreo que ocorreu no Sábado, 10 de Abril, na Rússia, nas proximidades do aereoporto de Smolensk, em que morreu o Presidente da Polónia Lesh Kaczynski e mais 96 pessoas, onde se destavam 88 elementos da comitiva presidencial, entre os quais alguns dos maiores líderes militares e civis polacos como o comandante do Exército, general Franciszek Gagor, o presidente do Banco Nacional, Slawomir Skrzypek, e o vice-ministro das Relações Exteriores, o capelão do exército, o chefe do Gabinete Nacional de Segurança, o vice-presidente do Parlamento, o comissário para os direitos civis e pelo menos dois assessores presidenciais e três deputados, de acordo com informações fornecidas pelo Ministério polaco das Relações Exteriores. Morreu ainda a esposa do Presidente Maria Kaczynski.

Esta tragédia da nação polaca levanta algumas questões:

- como é que é possível que uma grande parte da elite política e militar polaca pudesse viajar num só avião, deixando o país numa situação tão complicada sem uma grande parte dos seus dirigentes?


- como reagirá o povo polaco a esta tragédia que deixa o país numa situação de governação muito complicada?


- esta tragédia terá consequências nas relações diplomáticas entre a Polónia e a Rússia, que já são por natureza muito difíceis?


É que Kaczynski e a sua comitiva dirigiam-se à localidade russa de Katyn, localidade próxima de Smolensk (onde ocorreu o acidente aéreo do passado Sábado), para prestar homenagem aos 21 mil elementos da elite polaca (médicos, professores, deputados, oficiais militares, intelectuais, oficiais de polícia e outros elementos da administração pública) executados em 1940 pelos serviços secretos soviéticos, que ficou conhecido pelo massacre de Katyn e que tem constituído um dos factores que explicam as más relações entre a Polónia e a Rússia.

Em Setembro de 1939, no início da II Guerra Mundial, Estaline tinha um acordo secreto com a Alemanha que previa a divisão da Polónia entre os dois países. Depois de invadir o país, o Exército Vermelho fez cerca de 230 mil prisioneiros polacos.

Em Outubro, a polícia secreta NKVD, precursora do KGB, interroga os prisioneiros activos politicamente: generais, professores universitários, engenheiros, diplomatas, funcionários públicos, políticos, escritores; membros da elite da Polónia que tinham participado na campanha contra o Exército Vermelho em 1920.

A conclusão dos interrogatórios foi que os prisioneiros "tentam continuar as suas acções contra-revolucionárias e anti-soviéticas", dizia uma resolução secreta do comité central do partido comunista russo de Março de 1940, citado agora pela BBC on-line. "Todos esperam a sua libertação para participar activamente numa luta contra o Governo soviético".

Baseado nesta conclusão, Estaline deu a ordem: os prisioneiros seriam assassinados. Num dia, foram mortos quatro mil polacos e, ao longo de várias semanas, morreram mais de 20 mil às mãos da polícia soviética.


Recordo, ainda, que a Polónia esteve sujeita durante cerca de 40 anos, no período da Guerra Fria, ao domínio político e militar da ex-URSS, que deixou grandes ressentimentos da parte dos polacos relativamente aos russos.

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