sexta-feira, 30 de maio de 2008

Capital da Índia sob cerco


Nos subúrbios de Nova Deli e nas ruas de Jaipur, a capital do Rajastão indiano, reivindicava-se ontem a despromoção social. Os elementos de uma tribo que vive do pastoreio e da agricultura de subsistência, os gujjares querem ser colocados na base da escala social. Deste modo, ganharão acesso às quotas na administração pública e no ensino criadas pelo Estado para as castas deserdadas, especialmente os dalits ou adivasis. Os protestos iniciaram-se na passada semana em Jaipur e, desde então, têm-se estendido a outros pontos do Rajastão. Ontem, chegaram às portas da capital indiana, cidade que quase conseguiram paralisar, ao controlarem várias das suas entradas, junto das quais incendiaram pneus. Os manifestantes tentaram ainda avançar para o centro da cidade e incendiaram pneus nas principais vias e bloquear a entrada e saída de comboios. A polícia manteve um perfil discreto durante as manifestações e, segundo a imprensa indiana, apenas quando os gujjares quiseram avançar para o centro, é que acabou por intervir. As manifestações já provocaram 39 mortos no estado do Rajastão, onde também têm prosseguido as manifestações e os confrontos. O líder dos protestos, Kirori Singh Bainsala, garantia ontem ao jornal Hindustan Times que só a atribuição do estatuto de casta deserdada aos gujjares fará parar os protestos. Na véspera, o chefe do Governo local enviara uma proposta ao primeiro-ministro Manmohan Singh, sugerindo a criação de um novo subgrupo, "a casta dos grupos tribais sem recurso", o que foi considerado "ambíguo" por Bainsala. "A carta é uma farsa, pois a nossa reivindicação é a de obter o estatuto de deserdados. E sobre isto não pode haver qualquer ambiguidade", afirmou aquele líder. Um outro dirigente do movimento, Avinash Bandana, afirmara a uma televisão local que "a comunidade tem direito a um estatuto adequado. Não podemos ficar muito acima na escala". Os gujjares estão classificados como casta "atrasada", o que os deixa alguns pontos acima dos deserdados. O Governo indiano prossegue há décadas um programa de afirmação social, com reserva de quotas no ensino e no funcionalismo público para elementos das castas na base da pirâmide social. Estes programas têm produzido distorções, queixando-se os gujjares de serem preteridos por outros grupos de idêntico estatuto. A política de acção afirmativa é também utilizada como instrumento de controlo do eleitorado, com a troca de votos por quotas.Alguns jornais indianos escreviam ontem que programas de discriminação positiva estão a originar uma "corrida para baixo" na sociedade da Índia, com cada vez maior número de grupos a prosseguirem uma estratégia de despromoção social que acabará por minar a hierarquia social hindu.


1 comentário:

Paulo disse...

Parece estranho mas alguns grupos sociais estão pelos vistos a tentar descer na hierarquia social hindu, isto de modo a conseguir maiores beneficios a vários niveis.

A Índia é mais um país onde os Direitos Humanos pecam por escassos, e por isso torna-se dificil falar do país sem um amargo na boca, até porque se trata de uma nação muita rica em vários aspectos, e que a nós proprios portugueses nos deve dizer algo, pois fomos o primeiro país a fazer a travessia maritima até lá.

Estes confrontos só podem dar confusão e desacatos, e os 39 mortos no Rajastão são a prova disso.