domingo, 5 de outubro de 2008

Cristãos enfrentam os piores ataques desde a independência da Índia


Pelo menos 34 pessoas morreram desde o início da violência. Milhares estão impedidos de regressar a casa se não se reconverterem ao hinduísmo


O pai do padre Manoj Kumar Nayak é cristão há 30 anos. Na semana passada encostaram-lhe um machado ao pescoço e avisaram-no de que, se quiser viver na sua aldeia, tem de regressar ao hinduísmo. Como milhares de cristãos indianos, fugira de casa para escapar à violência que há várias semanas tem sido dirigida contra os fiéis em várias regiões do país. Agora voltou, com o credo na boca, mas terá de rezar em silêncio se quiser manter a vida. É o próprio padre quem o conta ao PÚBLICO, por telefone a partir de Tiangia, uma aldeia do estado de Orissa, no Leste da Índia. Manoj Kumar Nayak, de 33 anos (e padre há cinco), ressalva que tem ouvido histórias bem piores contadas na primeira pessoa. Como a de um homem de 20 anos, que tentou fugir dos atacantes hindus para a floresta, levando mulher e filhos. "Foi apanhado e assassinado em frente à família. Cortaram-no pedaço a pedaço: primeiro os dedos, depois os braços, depois o pescoço. A mulher viu tudo."A comunidade cristã está a viver os seus piores momentos desde a independência indiana, há 61 anos. Pelo menos 34 pessoas morreram em pouco mais de um mês. Cerca de 50 mil tiveram de deixar as suas terras, muitas fugiram para a selva ou procuraram campos de refugiados. Casas e igrejas têm sido incendiadas; uma freira violada e várias agredidas; padres espancados. E se os números podem parecer curtos tendo em conta o quadro geral da violência inter-religiosa na Índia, que normalmente envolve hindus e muçulmanos, muitos vêem na actual crise apenas um início. Não parece haver muitas dúvidas quanto ao detonador desta onda: o assassínio em Orissa de Swami Laxmanananda Saraswati, um carismático líder religioso hindu, a 23 de Agosto. Não importa se as autoridades o atribuíram aos maoístas naxalitas, e se os próprios o reivindicaram. Para os fundamentalistas hindus, o crime foi obra dos cristãos. "O Swami só ajudava os pobres. Não foi nada morto pelos maoístas. Isso é propaganda dos cristãos. Foram eles que mataram o Swami a sangue-frio durante a noite", disse ao PÚBLICO Swami Vigyananand, secretário-geral adjunto do Vishwa Hindu Parishad (VHP, o Conselho Mundial Hindu), em Nova Deli. "Se não tivessem morto o Swami Laxmanananda Saraswati nada disto teria acontecido. Os cristãos têm uma forma de trabalhar silenciosa." Desde então tem havido incidentes em vários locais do país, alegadamente cometidos pelo Bajrang Dal, uma facção juvenil do VHP. Outubro começou com a violência instalada em cinco estados: para além de Orissa, Madhya Pradesh, Karnataka, Kerala e Uttar Pradesh. Centro, Sul e Norte.
50 mil cristãos tiveram de fugir das suas terras por causa da violência dos hindus. Muitos fugiram para a selva ou para campos de refugiados. Há quem veja nesta violência o início de algo mais grave.

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