quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Praxes académicas - Rituais iniciáticos ou tradições inocentes?


O ressurgimento das tradições académicas na universidade portuguesa é um fenómeno que parece ter vindo para ficar. Depois de um período em que falar de capa e batina, praxe ou o cortejo, era sinónimo de "passadismo" e de "antigo regime", hoje, quem não é pela praxe é visto como um "careta" e não sabe entrar no "espírito universitário". A questão está longe de ser pacífica, já que, ao contrário de outras que habitualmente unem os estudantes, esta é das poucas, senão mesmo a única, a despertar claras reacções de amor-ódio.O Hugo Couto, por exemplo, tem 20 anos e não esconde um ligeiro orgulho em afirmar que este ano foi praxado "todos os dias", apesar de tal significar - como ele próprio admite - "ter feito coisas estúpidas no meio da rua". "Saí à rua todo vestido de preto, com a cara pintada e com pensos higiénicos na cabeça e no corpo, mas estava na boa...". No seu entender, esta e outras práticas revelam-se, no limite, "interessantes", quanto mais não seja porque se "perde vergonha de passar por situações embaraçosas". Mas esta não foi propriamente uma praxe "inteligente", o que, na sua opinião, consiste em ser-se submetido a brincadeiras engraçadas, "das quais todos gostemos, e não apenas as de que os "doutores" gostam", diz. "Ele foi sem dúvida o mais malhado", diz Virgínia França, de 19 anos, aluna do mesmo curso, e uma das "doutoras" que acompanhou caloiros como o Hugo na sua entrada na universidade. Mas não a todo o custo: "Deixei de praxar a partir do momento em que vi certos elementos exagerar no comportamento. A praxe deve servir para integrar o caloiro e não para o humilhar", afirma, não se inibindo de fazer uma autocrítica à hierarquia que se estabelece entre caloiros e "doutores", com a qual não concorda. Ainda por cima, acrescenta, "quando o mais "burro" é o que costuma mandar mais". Luís Fernandes, psicólogo de formação, desenvolve investigação no campo da etnologia na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (UP). Apesar de este não ser um tema que o apaixone, tenta fazer uma análise objectiva das tradições académicas e, designadamente, da praxe: "Qualquer ritual que se mantém sem ir contra a vontade dos indivíduos é porque deve fazer algum sentido. Não faço ideia é qual será...", diz Fernandes, recuando à sua própria experiência estudantil - entre 1979 e 1985 -, numa altura em que estes rituais "simplesmente não existiam", substituídos por outros de carácter eminentemente político. (Ricardo Jorge Costa)

Se quiserem ler o artigo completo de Ricardo Costa cliquem aqui.

O que é que pensam das praxes académicas? Concordam com elas ou nem por isso?


7 comentários:

Joana Couto disse...

Eu concordo até certo ponto com as praxes,porque quando vai para além dos nossos limites,penso que está errado!
Já fiz um trabalho sobre praxes académicas e soube de histórias que me chocaram, pois obrigaram raparigas a despir-se em frente aos alunos da universidade toda.
Penso que isto iria contra todos os meus limites, e iria considerar-me anti-praxe, logo, todos aqueles que aderem à praxe, fazem-no de livre vontade, pois têm opção de escolha.
Assim, na minha opiniao, penso que a praxe é saudavel se for levada como uma brincadeira inofensiva, que não ultrapasse os princípios que defendemos.

MárciaFilipa disse...

Eu penso que as praxes têm perdido a sua tradição.
Eu sinceramente não sei se heide aderir às praxes porque tenho receio das coisas que possam acontecer nas praxes.
Mas tudo depende daquilo que eles nos possam mandar fazer.
Aliás, nós temos todo o direito de negar alguma coisa que achemos menos correcto!

Unknown disse...

Julgo que as praxes são rituais interessantes se forem levadas na brincadeira e se não ultrapassarem os limites, ou seja, se não constituírem uma ofensa para aqueles que são praxados.
Julgo também que cada um se sujeita àquilo que quer, porque nós não somos obrigados a fazer coisas que não queremos e a agir segundo o que nos mandam.

Eu encaro as praxes como sendo uma actividade de integração no espírito universitário e uma forma de alargarmos o nosso grupo de amigos, o que é sempre bom!!!

Paulo disse...

Caro professor Eduardo Vales, regresso agora com este comentário após um longo período de ausência. Tenho pena de não ter podido vir mais cedo, mas desde que começou o período de inscrições na faculdade, são preocupações em todo o lado. A minha vida tem sido mais atarefada do que alguma vez imaginei, mas já estava de certa forma mentalizado para isso. Não sei se o professor sabe, e lamento não o ter dito antes, até porque o professor o pediu, mas entrei em Jornalismo na FLUP. Foi a minha primeira opção e por isso estou contente. Estou a gostar bastante e a tentar ao máximo integrar-me no espírito académico. Frequento com imensa vontade a praxe de Letras, nomeadamente a de Jornalismo, e já me inscrevi no Grupo de Fados da minha respectiva casa. O curso em si é bastante interessante e as cadeiras são de um modo geral apelativas.

Passo agora a um assunto que me tem tirado imenso tempo livre e que é curiosamente o mote de discussão para este post. A praxe! Amada por uns e odiada por outros, é difícil ficar indiferente a uma tradição tão polémica. Eu próprio nunca imaginei a vida universitária sem praxe. E por essa razão sempre disse a mim mesmo que iria frequentar a praxe e procurar amar a praxe. E é isso que tenho tentado fazer. Na minha opinião, a praxe nunca teve o intuito de humilhar ninguém, e foi criada precisamente para promover uma integração adequada do estudante no ensino superior, para abrir as mentes desses mesmos estudantes e para os preparar para a vida futura. Sim, porque quem pensa que a praxe é só fazer figuras ridículas no meio da rua e obedecer a regras e ordens absurdas está muito enganado. A praxe ensina lições muito valiosas, e só quem está verdadeiramente ligado à praxe o sabe. A praxe é dura, mas nada na vida é fácil, e a praxe ensina-nos isso mesmo. E u próprio não tenho ainda um conhecimento aprofundado do que estou a dizer, tal é a minha inexperiência neste campo, porque só tenho um mês como caloiro. Mas o que aprendi neste curto espaço de tempo é suficiente para dizer que a praxe é algo mais do que a generalidade das pessoas pensa.

Eu empenho-me na praxe, e já fiz algumas figurinhas tristes na rua ou onde teve de ser, mas isso nunca me fez sentir humilhado ou com vergonha. Pelo contrário. Ser caloiro faz-me sentir bem, faz-me sentir parte de algo, e mais que isso, faz-me sentir orgulhoso. E é esse o verdadeiro espírito da praxe. Porque a praxe não é para quem quer, é para quem pode. E sobretudo para quem gosta.
E em relação às situações mais degradantes que por vezes ocorrem, tenho a dizer que são casos isolados, e variam muito de faculdade para faculdade, e também entre regiões. Não podemos avaliar a praxe por isso e achar que é uma grande porcaria e que só serve para humilhar as pessoas. Não é verdade e nunca irá ser.

O único conselho que posso deixar a quem está prestes a entrar no ensino superior é para não assumirem automaticamente que não gostam de praxe sem terem experimentado.

DURA PRAXIS SED PRAXIS!
(A praxe é dura mas é praxe.)


P.S. – Queria deixar aqui um cumprimento especial a todos os meus antigos colegas de turma do 12º H e um grande abraço para o professor Eduardo Vales, que fez muito bem em continuar este magnifico projecto.
Boa sorte também para os novos membros, que continuem a sustentar este blogue com toda a vontade.

Eduardo Vales disse...

Olá Paulo!

Serás sempre benvindo a este blogue e os teus comentários serão sempre uma valia para o mesmo e um excelente exemplo para tdos aqueles que só agoram nele começaram a participar.

Fico muito feliz que a tua vida e o curso estejam a correr muito bem.
É bom vêr os nossos ex-alunos numa etapa nova das suas vidas.

Apesar de todo o trabalho que devem ter, não se esqueçam do blogue que continua a ser, também, vosso e deixem, sempre que possível, os vossos comentários e notícias vossas.

Eduardo Vales

Suzy Conceição disse...

Há volta deste assunto já correu muita tinta...
Normalmente conhecida a praxe deve ser um meio de integração dos novos alunos na faculdade!
Logo, a praxe académica deve ser levada como uma brincadeira,e nunca ser levada para além dos nossos limites,como a Joana disse!
Pois a praxe é uma maneira divertida de encarar a faculdade no primeiro mês! A Faculdade,para quem vai de um ensino secundário,é muito assustadora,e se as praxes forem violentas (como se sabe que algumas foram,e até chegaram a morrer jovens,que foi publicamente dito e o caso até em tribunal anda) ainda mais assustadora se torna!
Claro que temos a opção para aderir ou não às praxes...mas já é uma tradição,e todos nós gostaríamos de entrar no espíríto da praxe...evidentemente como uma brincadeira e não como algo errado e estúpido!
É uma das coisas que se deve mudar...as praxes violentas!!!

Mara disse...

Devo desde já dizer que concordo com o que foi dito pelo colega Pedro. Nunca devemos dizer que não gostamos da praxe sem antes a experimentar.

já em relação a Suzy, e passo a citar : "Pois a praxe é uma maneira divertida de encarar a faculdade no primeiro mês"
quero apenas explicitar que a praxe vai muito mais para além de um mês de faculdade... esta vai se pronunciando ao longo dos semestres.
Já em relação às praxes violentas, penso que quando algum Doutor , exige ao caloiro que execute algo agressivo , este pode recusar. Mas é melhor não entrar neste campo no qual não pertenço, alguém com conhecimentos mais adequados poderá explicar melhor a situação.


Existe algo nas faculdades que me intriga bastante que é o facto do DUX (é o expoente máximo da Praxe Académica, É o chefe máximo dos estudantes...) pois sente um enorme orgulho por ser a pessoa mais velha/chefe lá do sitio (como diriam os brasileiros). Muitos destes senhores, se é que os podemos tratar assim, já deixaram para traz tantos anos de faculdade, tantas são as cadeiras deixados em vão... muitos deles já não frequentam as aulas, exercem outros cargos laborais que nada tem haver com a sua matricula na universidade, mas que todos os anos pagam as propinas para poderem continuar a ser o "chefe supremo"!
É muito irónico.